Os residentes em um raio de 1,5 km do local do incidente foram imediatamente evacuados, e em 6 de fevereiro as autoridades anunciaram uma evacuação obrigatória. Em 8 de fevereiro, após a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos EUA declarar as amostras de ar e água seguras, os moradores foram autorizados a retornar a suas casas. No entanto, eles foram advertidos que o cheiro poderia persistir por muito tempo, embora não houvesse perigo químico.
Apesar de tudo, muitas pessoas logo sentiram dores de cabeça, náuseas, fraqueza e outras enfermidades. Em uma coletiva de imprensa na terça-feira (14) Karine Jean-Pierre, porta-voz da Casa Branca, disse que a administração do presidente Joe Biden estava em estreito contato com as autoridades locais de Ohio, e que a prioridade máxima para todos era a saúde e a segurança do público.
Há perigo nas substâncias transportadas?
A principal substância nos vagões-cisterna era o cloreto de vinil, um gás inflamável e químico cancerígeno usado para fabricar produtos que afeta o sistema nervoso central humano e pode causar câncer de fígado, câncer de pulmão e leucemia em altas concentrações. Se for queimado, o cloreto de vinil se decompõe em cloreto de hidrogênio e fosgênio, que foi usado como gás de asfixia durante a Primeira Guerra Mundial.
Outro produto químico a bordo do trem era o acrilato de butil e três outros produtos químicos igualmente perigosos que representam um sério risco de inalação.
Muito ainda é desconhecido
O monitoramento da água e do solo ao redor do local do acidente ainda está em andamento, mas já foram encontrados 3.500 peixes mortos devido à consequente poluição. Há preocupação e insatisfação entre a população, que não encontra respostas para suas perguntas após sofrer de queimaduras nas gargantas e inflamação nas glândulas.
Comparações têm sido feitas com o acidente nuclear de Chernobyl em 1987, no sentido de silenciar dados sobre o desastre, e com o desastre ambiental de 1970 na província de Ontário, no Canadá, quando grandes quantidades de mercúrio foram liberadas ilegalmente em rios devido a resíduos químicos industriais. Os usuários da Internet japonesa também lembram o desastre de Minamata nos anos 1950, que as autoridades tentaram ignorar por cerca de uma década.
Caso de Minamata
Na época, a companhia Chisso despejava na baía de Minamata desde o início do século, quase desde a fundação da fábrica, mercúrio inorgânico que estava sendo convertido por organismos bentônicos em metilmercúrio, uma poderosa neurotoxina. Isso contaminou mortalmente os peixes locais e gatos de rua que bebiam a água da lagoa. Eles começaram a se contorcer convulsivamente, cair e depois morrer.
As pessoas também foram afetadas, com casos registrados a partir de 1956. Algumas deixaram de poder abotoar seus botões, outras não conseguiam escrever, tropeçavam, ofegavam por respirar e estremeceram com cãibras. Até houve algumas mortes, enquanto a maioria das vítimas ficou permanentemente incapacitada após ter seu sistema nervoso central queimado.
Em 1959 pesquisadores da Universidade de Kumamoto descobriram a origem da doença, o mercúrio, que mais tarde foi chamada de Doença de Minamata, mas os moradores tentaram em vão fazer chegar o problema às autoridades e receber compensação. Isso finalmente aconteceu após quase uma década, especialmente após a publicação em 1971 de uma fotografia do fotojornalista americano W. Eugene Smith.
Ryoko Uemura, mãe da menina Tomoko, concordou com Smith em tirar uma fotografia de forma a esclarecer as peculiaridades de desenvolvimento de sua filha, provocadas pelos efeitos da Doença de Minamata. A foto ganhou ampla publicidade e trouxe a enfermidade à atenção do mundo.
Em 2020 foi lançado o filme "Minamata", dirigido por Andrew Levitas e estrelado por Johnny Depp, foi lançado com base em eventos no Japão.