Em um período com tantos casos de feminicídio em destaque, o município de São Gonçalo, na Região Metropolitana, sediou, neste sábado (25), a 2ª edição da Marcha das Mulheres pela Dignidade Humana, no Centro. A Marcha seguiu até a Praça Marisa. O evento foi organizado pelo Movimento Cidade no Feminino e pelo Festival Literário de São Gonçalo (FLISGO) em parceria com o Grupo Liberdade Santa Diversidade e o Fórum Desenvolvimento Sustentável e Resistência Democrática.
A ação abordou a falta de dignidade humana no município. Logo após o término, lideranças de movimentos sociais e comunitárias se reuniram no Espaço Mais Conhecimento, no Partage Shopping, para traçar estratégias de resgate da dignidade humana na cidade. Será entregue às autoridades o Dossiê “São Gonçalo na Rota Humanitária do Governo Brasileiro”, que apresenta as diversas formas de violação de direitos que vêm ocorrendo na cidade, especialmente nas áreas de saúde e saneamento básico.
No shopping, 60 participantes do Projeto Artemísia realizaram uma assembleia para fundação da Cooperativa de Mulheres Saboeiras do Estado do Rio de Janeiro, a primeira no território fluminense. Essas mulheres são protagonistas desse projeto, uma iniciativa do Movimento Cidade no Feminino, em parceria com o Departamento de Engenharia Agrícola e do Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O projeto visa o desenvolvimento de ferramentas de empoderamento feminino para maior participação política e social. Além disso, inclui a implantação de negócio de impacto social, a partir da produção de cosméticos naturais, especialmente sabonetes. O projeto está sendo implantado em 10 comunidades de São Gonçalo: Lagoinhas, Jockey, Salgueiro, Neves, Venda da Cruz, Itaoca, Jardim Catarina 1 e 2, Sacramento e Monjolos.
O movimento reivindica às autoridades, atuação efetiva na saúde, no meio ambiente e na moradia, sobretudo junto às comunidades, que sofrem nesse período de chuvas em que diversos moradores estão vivendo em condições sub-humanas. Mulheres participantes do projeto informaram que, mesmo duas semanas após as águas terem invadido as suas casas e as deixarem com rachaduras, não tiveram avaliação da Defesa Civil da cidade, não receberam o auxílio aluguel ou qualquer outra ajuda. Outras denunciam que seus filhos começaram a ter alergias e coceiras pelo corpo, e o atendimento médico está muito moroso.
"Estamos abandonadas! Esse é o nosso sentimento! Sem perspectiva de trabalho, sem saúde, sem saneamento básico em nossas comunidades, sem dignidade", comentou uma das mulheres, chorando.
Em São Gonçalo, a situação ainda se agrava com a violência urbana.
“Queremos colocar São Gonçalo na rota humanitária do governo brasileiro, que vem empreendendo esforços para resgatar a dignidade das pessoas. Precisamos com urgência dessa intervenção federal", afirma Leila Araujo, cofundadora do Movimento Cidade no Feminino, coordenadora do Projeto Artemísia, associada ao Núcleo de Autonomia em Saúde do Instituto de Medicina Social da UERJ.