O Ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, em sua primeira entrevista desde sua indicação ao cargo, dada ao Jornal Valor Econômico, fez declarações sobre seu posicionamento em relação a possíveis mudanças para o ensino do país. Em uma delas ressaltou que “A ideia de universidade para todos não existe”, referindo-se ao fato de muitas pessoas sonharem com um diploma, mas que, muitas vezes, não conseguem realizar seus planos.
Vélez também informou sobre possíveis modificações na reforma do ensino médio aprovada durante o mandato do ex-presidente da República, Michel Temer. Porém, um dos pilares das mudanças sugeridas por Temer, no que diz respeito à proximidade com o ensino técnico, permanecerá com a nova gestão que apoia a inserção dos jovens mais rapidamente no mercado de trabalho.
Para o ministro existe uma diferença entre a elite intelectual e a econômica em nosso país. Seguindo essa análise, a nova gestão buscará desenvolver um modelo que é aplicado em países como a Alemanha.
Vélez abordou sobre o retorno financeiro dos cursos técnicos. Segundo ele, além de oferece um resultado imediato do que o da graduação, também pode levar a uma diminuição na procura por ensino superior em todo o país.
Questões como a possibilidade de cobrar mensalidade em universidades públicas, com o objetivo de conseguir um reequilíbrio nos orçamentos.
Ainda na gestão Temer, teve início o enxugamento no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). O ministro defende essa inciativa e confirma que é necessária essa aproximação com o ensino técnico para que assim os jovens sejam inseridos no mercado de trabalho de forma mais rápida. Ele também aprova algumas alterações na reforma do ensino médio sugeridas pelo ex-presidente Temer.
Em sua gestão, Vélez buscará priorizar algumas questões como o programa Alfabetização Acima de Tudo. Como meta, os primeiros cem dias irão estar voltados para colocar em prática o programa que terá à sua frente o secretário de alfabetização, Carlos Francisco Nadalim.
Com uma imagem conservadora, Nadalim tem um canal no Youtube onde se posiciona como um crítico a assuntos que envolvem a área de educação. Mesmo tendo suas opiniões bem claras e posicionadas, o secretário já ressaltou que promoverá conferências onde especialistas de todas as vertentes em alfabetização poderão se manifestar.
Questões como as escolas cívico-militares, também foram defendidas pelo ministro. Para ele, as escolas que desejarem conservar seus projetos pedagógicos poderão dar continuidade a eles, por ser um projeto economicamente viável segundo Vélez.
A declaração causou polêmica e muitas críticas. Políticos de partidos de oposição ao governo do Presidente Jair Bolsonaro não concordaram com a posição do ministro onde diz que "as universidades devem ficar reservadas para uma elite intelectual, que não é a mesma elite econômica".
Os opositores fizeram questão de divulgar em redes sociais seus posicionamentos. Entre eles os deputados Paulo Pimenta (PT-RS), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Erika Kokay (PT-DF) e Zeca Dirceu (PT-PR), o ex-candidato à Presidência Guilherme Boulos (PSol-DF) e os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Lídice da Mata (PSB-BA).
A deputada Erika Kokay publicou no Twitter sua opinião sobre as declarações de Vélez. "Ministro da Educação de Bolsonaro defende 'elite intelectual' nas universidades e filhos de pobres como mão-de-obra barata no mercado de trabalho. Foi-se o tempo em que filhos de pedreiros e empregadas domésticas podiam se tornar doutores nesse País".
Grupo que reúne escolas particulares construtivistas de elite em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais enviou carta ao ministro da Educação na qual solicita que ele “não permita que o país entre numa rota de retrocesso”. No documento citam o descontentamento sobre as declarações de Vélez dizendo que as mesmas “deixam a desejar” e enfatiza que, “com tanto lastro intelectual, é difícil acreditar que V. Excia considere a Escola sem Partido providência fundamental”, conforme declarado por ele em seu blog na Internet.
A carta ainda ressalta sobre possíveis influências partidárias. O texto diz: “Afinal, é um grupo de amadores, que carece de saberes básicos sobre educação, e que divulga fantasias sobre influência de partidos políticos sobre estudantes dentro de escolas de Ensino Fundamental e Médio”.
O grupo ainda enfatiza que as ideias do governo vão na contra mão da pedagogia contemporânea, “discutidas e estudadas em todos os países do mundo que se preocupam com formar gerações que consigam interpretar a realidade, em sua complexidade, para lidar com as transformações radicais decorrentes do mundo digital”, diz a carta.