Psicóloga fala sobre o “caso Petra" da novela "Terra e Paixão”

Os padrões que envolvem o comportamento do dependente de remédios, como os apresentados pela personagem “Petra” na novela “Terra e Paixão", são considerados dependência química (transtorno por uso de substância), já que caracteriza o uso descontrolado que afeta o estado mental, ou seja, quando o indivíduo não é mais capaz de controlar a própria vontade.

Segundo Tatiane Paula, Psicóloga Clínica, um dos padrões observados é a tolerância de consumo, necessidade de aumento da quantidade de remédios sem prescrição ou limites, e mudanças comportamentais (estreitamento de repertório). O indivíduo tem uma sensação de bem estar apenas se usar medicamentos; disfunção do sono e humor se não os tomar; e dependência emocional em relação às crenças que a pessoa estabelece se usar remédios. Por exemplo: "só consigo dormir se usar remédios", "só consigo me acalmar se tomar remédios", "só consigo ser produtiva se tomar remédios".

Os sintomas da abstinência de remédios são arrepios, tremores, oscilações de humor e do sono, dores musculares e perda de apetite, entre outros sintomas de interações, a depender do tipo de substância estimulante: SNC (sistema nervoso central) ou depressora SNC. Inclui-se um período marcado por ausências e conflitos familiares, em decorrência do estreitamento do repertório - quando a vida gira em torno do uso e não há atividades agregando qualidade de vida.

“A dependência do uso de analgésicos costuma ser mais comum, porque, a princípio, é um medicamento prescrito para conter dor após acidente ou alguma lesão e há interação desse medicamento SNC. Portanto, a sensação de analgesia pode levar indivíduos a aumentar a dosagem para obter a mesma sensação de alívio experienciada inicialmente, quando prescrita. O ato de tomar por conta própria desenvolve tolerância de consumo. Os opiáceos são medicamentos com efeitos analgésicos potentes e com ações sedativas, trazendo a sensação de sonolência. Mas é observado, em alguns indivíduos, ação de inquietude, sendo as mais comuns os Benzodiazepínicos e Barbitúricos, popularmente conhecidos como calmantes; e remédios de uso comum, como AAS, paracetamol e dipirona, entre outros”, alerta a Psicóloga.

As principais consequências do uso descontrolado de medicamentos incluem:

• Desenvolvimento da dependência de consumo, quando quantidades maiores que podem levar à overdose e morte;

• Falência dos órgãos por intoxicação;

• Problemas de ação esperada de outros medicamentos em que realmente a pessoa necessita de resposta.

Para ajudar uma pessoa dependente de remédios, o recomendado é encaminhá-la para avaliação médica com acompanhamento de terapia cognitivo-comportamental, através de psicólogo especialista em saúde mental e dependências. “Seguir as orientações dadas pela equipe de assistência multidisciplinar, especializada em dependências e compulsões quando a pessoa está em tratamento, é fundamental. Deve-se agir de modo mais acolhedor para que ela se sinta segura. Muito importante a família buscar, através dos grupos de apoio para dependentes químicos e tratamentos de psicoterapia individual, mais informações sobre padrões de projeções, que são mantenedores de padrões de consumo, já que 'gatilhos' podem ser desencadeados na pessoa que está em tratamento por uso de substância! Quanto mais conhecimento adquirir, melhor!”, orienta Tatiane.

Em casos extremos de dependências, a indicação é de internação hospitalar com objetivo de desintoxicação dos medicamentos (desmame dos remédios). Normalmente, é pensada uma combinação de medicamentos capaz de minimizar efeitos agudos de abstinência para desintoxicação e também reabilitação com sessões de psicoterapia cognitiva-comportamental para identificar comportamentos disfuncionais a partir da psicoeducação para comportamentos mais estruturados, valorizando a autonomia que o paciente pode ter sobre controle de impulsos, alcançando estabilidade física e emocional para retomada de atividades de vida diária.