O Salgueiro veio para a avenida honrando suas cores vermelho e branco, além da tradição de viabilizar enredos ligados ao seu patrono espiritual, Xangô. A comissão de frente trouxe o ator Eri Johnson representando um sambista que saía de dentro de uma alegoria a fim de pedir benção ao seu orixá, Xangô. O mestre-sala e a porta-bandeira, Sidclei Santos e Marcela Alves, estavam deslumbrantes numa fantasia dourada e laranja representando um mitológico camaleão da tradição iorubá que se transformava num elemento sagrado: o fogo.
O carro abre-alas, Ilê-ifé “Obá Óõbi”, Odùduwa, representou um mito africano relativo à criação da Terra e a origem dos quatro elementos: as galinhas d´angola como terra; os pombos brancos, o ar; o camaleão, o fogo; e os caracóis, o mar. O compositor Djalma Sabiá, único fundador vivo da escola, fez as vezes de majestade africana no enredo do carnavalesco Alex de Souza. A bateria salgueirense fantasiou-se de Ojuobá, sacerdote do culto a Xangô. À frente da “Furiosa”, a suprema Viviane Araújo, de “Borboleta de Oyá” deu o tom das paradinhas dos mestres Guilherme e Gustavo. O ator Ailton Graça, num papamóvel, representou o papa beijando uma criança negra e pobre.
O indefectível intérprete Quinho, a cara da agremiação, soltou a voz junto com o público, que aplaudiu o Salgueiro no início e no final da apresentação. As fantasias, abusando do dourado, estavam impecáveis. O carro alegórico do cágado trouxe ao desfile o animal votivo de Xangô: a calma para tomar uma justa decisão contrastava com a dureza do casco representando a pedreira. O terceiro setor da agremiação mostrou o sincretismo de Xangô com os santos católicos: São Jerônimo, São João Batista, São Judas Tadeu, São Miguel e São Pedro.
Com 30 alas e cinco alegorias, o Salgueiro apresentou no quarto setor do desfile o enredo do carnavalesco Arlindo Rodrigues para o carnaval campeão de 1969 da escola. O quinto carro também remetia ao desfile daquele ano, “Bahia de Todos os Deuses”. A agremiação da Tijuca fechou sua apresentação clamando por justiça, representada por Xangô, na última alegoria. Alas trouxeram a lavagem de dinheiro, a falta de ética na administração pública, a atuação dos tribunais, os magistrados e os ativistas demonstrando uma grande passeata contra a discriminação das minorias.