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Golden Shower à brasileira: post de Bolsonaro denigre o carnaval do país

Vídeo postado pelo presidente no Twitter gerou críticas e discussão

Por Jonas Feliciano em 07/03/2019 às 10:04:18

Foto: Reprodução/ Twitter

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) emitiu uma nota nesta quarta-feira (6) onde repudia o vídeo postado pelo presidente Jair Bolsonaro na última terça em sua conta no Twitter. No texto assinado por Domingos Meirelles, presidente da associação, a postagem de Bolsonaro é considerada "esdruxula" e "pautada mais pelo fígado do que pela lucidez". Além de preconceituosa ao "demonizar a maior festa popular do país".

Confira a nota na íntegra:

"A Associação Brasileira de Imprensa condena com veemência a postura do Presidente Jair Bolsonaro em compartilhar vídeos pornográficos de integrantes de um bloco carnavalesco de São Paulo através de sua conta pessoal no Twitter. Ao exibir cenas deploráveis por intermédio dessa plataforma, com o objetivo de criticá-las, Sua Excelência acabou por viraliza-las ainda mais pelas redes sociais, produzindo repercussão oposta ao que preconiza o bom senso.

Esse episódio esdrúxulo, que permite diferentes leituras, revela que o Presidente continua pautando-se mais pelo fígado do que pela razão e a lucidez. No momento em que postou esse vídeos, Jair Bolsonaro violou regras estabelecidas pelo Twitter sobre política de privacidade e os termos que regem o comportamento dos seus usuários, além de afrontar a legislação em vigor.

Não pode um Presidente da República manifestar-se também de forma preconceituosa contra o Carnaval, demonizando a maior festa popular do País, através de um ato libidinoso isolado. Ao reagir de forma biliosa, como fez Sua Excelência, poderá ser punido pelo próprio Twitter.

Jair Bolsonaro, corre o risco de ser ainda responsabilizado por improbidade administrativa como define a Lei 1079 da Constituição Federal. Ela estabelece, entre outros crimes contra a administração, 'proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo'.

O exercício da Presidência da República exige acima de tudo equilíbrio, sensibilidade, moderação de linguagem, majestade e altivez.

Os auxiliares mais próximos de Sua Excelência devem convencê-lo a descer de vez do palanque, informando-o que campanha eleitoral já terminou. Esperamos também que o alertem, para o bem da Nação, de que twittar não é o mesmo que governar".

Entenda o caso:

Na noite da última terça-feira (5), um vídeo publicado pelo presidente Jair Bolsonaro em sua conta oficial do Twitter provocou uma grande polêmica entre os internautas. Nas imagens postadas por Bolsonaro, dois homens aparecem fazendo gestos obscenos em um bloco do carnaval de rua de São Paulo.

"Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conslusões", explicou o presidente na legenda do seu post.

A publicação acabou gerando uma discussão entre apoiadores e opositores do governo. Para muitos usuários, Jair Bolsonaro cometeu o crime de improbidade administrativa, pois teria agido de forma incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo.

De acordo com o professor de Direito Constitucional Leonardo Vizeu, o ato não se enquadra como crime de responsabilidade política e nem como lesa-república, nos termos da lei 1.079/1951.

"O fato é atípico do ponto de vista jurídico-político. No entanto, o Art. 86. admite a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados. Só assim, ele será submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade. Porém, o Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções", explicou Leonardo.

Ele também relembrou quais são os crimes de responsabilidade previstos no Art. 85. e que atentam contra a Constituição Federal e, especialmente, contra a existência da União, o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação, o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais, a segurança interna do País, a probidade na administração, a lei orçamentária, o cumprimento das leis e das decisões judiciais.

Polêmica

Apesar da discussão nas redes sociais, Jair Bolsonaro não apagou o seu post e nem se manifestou sobre o assunto até o momento. Enquanto isso, políticos e personalidades emitiram opiniões, em seu perfis nas redes sobre a polêmica.

O Deputado Estadual Marcelo Freixo postou um vídeo em que uma menina aparece cantando.

"A vida é feita de escolhas. Optei por essa imagem linda como símbolo da alegria, da festa, da esperança e do país que eu quero. São nossas escolhas que nos dão mais ou menos dignidade nos nossos caminhos", afirmou Freixo na sua legenda.

Paula Lavigne, produtora e ex-esposa de Caetano Veloso, também se pronunciou. Ela chamou a publicação de Bolsonaro "escatológica" e postou um trecho da Constituição Federal que enquadrou o presidente em um possível crime de improbidade administrativa.

Na contramão dos reprovadores, o deputado estadual Alexandre Frota saiu em defesa do post. Em resposta a um questionamento da jornalista Leilane Neubarth, o parlamentar defendeu o presidente.

"Nós estamos tentando entender é o que aqueles nojentos faziam lá. Deveriam ser presos. Aí vc fica chocada com o que o Presidente mostrou? Eu coloquei o vídeo primeiro do que ele e milhares de pessoas compartilharam. ACORDA querida", escreveu Frota.

Motivado pelas críticas ao seu tweet, Bolsonaro ainda retrucou a jornalista Mônica Waldvoguel e o jurista Marcos Boschirolli. Eles afirmaram que faltou decoro e aptidão para o cargo ocupado. "E para vocês falta o que?", perguntou oPresidente da República.

Golden Shower

Não demorou muito para que a polêmica ganhasse o mundo. A imprensa internacional também repercutiu o caso de maneira negativa. O tweet de Bolsonaro virou notícia em grandes veículos como o "New York Times" e o "The Guadian".

O caso também passou a ser associado ao suposto "Golden Shower" americano. Isso porque, no início de 2017, um relatório que foi apresentado sem provas concretas afirmava que o atual presidente americano Donald Trump teria praticado à urofilia em uma festa com prostitutas na cidade de Moscou, no ano de 2013. As informações estariam em um dossiê elaborado por um ex-espião britânico.

De acordo com esse documento, Trump teria assistido às garotas urinando na cama da suíte presidencial do hotel Ritz Carlton onde o casal Barack e Michelle Obama já teriam se hospedado. Devido as informações não terem sido confirmadas, o documento foi desacreditado pelas agências de inteligência e pela imprensa americana. Trump negou o conteúdo e destacou um motivo para justificar sua falta de entusiasmo pela prática da urofilia. "Sou bastante germofóbico", afirmou na ocasião.

Golden Shower ou urofilia consiste no ato de urinar no parceiro durante ato sexual e ainda pode ser conhecida como chuva dourada. Na manhã desta quarta-feira (6), Bolsonaro voltou a twittar sobre o tema. "O que é Golden Shower", perguntou.

Carnaval de manifestações

Vale destacar que durante todo o carnaval, em diversos blocos do país, o nome de Bolsonaro foi gritado pelos foliões. Além disso, muitas pessoas levaram para as ruas suas fantasias satirizando diversas situações envolvendo o político e seu clã.

Nos desfiles das escolas de samba de São Paulo e do Rio de Janeiro, a situação não foi diferente. As agremiações não pouparam críticas políticas e sociais em seus enredos. De fato, os sambas não fizeram menções diretas a figura de Bolsonaro. Contudo, houve espaço para chamar a atenção do público as novas e antigas mazelas brasileiras.

A reportagem do portal Eu,Rio! procurou a assessoria do presidente para tentar um posicionamento, mas até o fechamento desta reportagem não obteve nenhuma resposta.

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