Os moradores do morro do Cabaceiro e ambientalistas fizeram uma manifestação neste fim de semana contra a derrubada de 74 árvores centenárias no “Solar do Cabaceiro”, um patrimônio cultural histórico do bairro da Ribeira na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Segundo os moradores, o imóvel, que fica na Rua Pires da Mota, 14, foi comprado por uma empreiteira que pretende derrubar árvores centenárias nativas da região como a cabaceira, para a construção de prédios no terreno.
A derrubada do grande bosque, formado por diversas árvores exuberantes, tem a autorização da Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente e do Instituto Rio Patrimônio Humanidade da Prefeitura do Rio, que manterá somente o prédio tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural.
“Trata-se de um raro exemplar de sede de fazenda, ainda com árvores centenárias ao redor, numa região que vem sofrendo muito com a ocupação desordenada e a especulação imobiliária. Precisamos preservar o pouco que restou”, disse Marcus Monteiro, diretor do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural.
O ambientalista Sérgio Ricardo de Lima, um dos presentes na manifestação, comentou sobre a perda do bosque do solar do cabaceiro para a região:
“Esta obra é irregular e ilegal, já que além de incompatível com a ambiência urbana do lugar, também não foram apresentados previamente os obrigatórios estudos de Impacto de Vizinhança, de impacto Viário e de Avaliação do Impacto Ambiental (EIA-RIMA) e, muito menos a comunidade local foi consultada. Não podemos admitir este duplo crime premeditado: contra o patrimônio histórico, arquitetônico e cultural e, ao mesmo tempo, um flagrante crime ambiental.”
As Assessorias da Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente e do Instituto Rio Patrimônio Humanidade da Prefeitura do Rio foram procuradas, mas até o fechamento dessa matéria não se manifestaram sobre o possível uso da área para a construção de edifícios.
A Fazenda da Ribeira, conhecida como Fazenda do Cabaceiro, é uma parte importante da história, pois é a primeira feitoria construída no país em pleno século XIX. Nessa área da Ilha do Governador, viviam os índios Temiminós ou Maracajás, antes da chegada dos portugueses. O Instituto de Arqueologia Brasileira encontrou, anos atrás, urnas funerárias de indígenas na região da Ilha do Governador. Os pesquisadores do Museu Nacional encontraram também vários sítios indígenas como o Sambaqui na Praia do Espinheiro, no Saco do Jequiá, Aldeamento Tupi-Guarani no Jequiá , Aldeia no Instituto de Pesquisa da Marinha (Morro do Matoso), Atelier no Morro das Pixunas, Aldeamento Tupi-Guarani no Bananal – Praia Grande, Aldeia e Aldeamento Tupi-Guarani na Estação Rádio da Marinha e Aldeamento Tupinambá no Morro da Viúva.