O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do Ministro Camilo Santana (Educação) e dos ministros Anielle Franco (Igualdade Racial), Silvio Almeida (Direitos Humanos e a Cidadania), Sonia Guajajara (Povos Indígenas) e Márcio Macêdo (Secretaria Geral da Presidência), sancionou o Projeto de Lei (PL) n. 5.384/2020, que atualiza a Lei n. 12.711/12 (Lei de Cotas). A cerimônia de sanção ocorreu nesta segunda-feira, 13 de novembro, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF).
O programa tem como pré-requisito a reserva de vagas para estudantes egressos de escolas públicas. Entre as alterações que a nova legislação prevê estão: a mudança do mecanismo de ingresso de cotistas ao ensino superior federal, a redução da renda familiar para reservas de vagas e a inclusão de estudantes quilombolas como beneficiários das cotas. O texto sancionado também determina que a lei seja monitorada anualmente e avaliada a cada dez anos.
Lula também lembrou os dados estatísticos de desempenho dos estudantes que ingressam no ensino superior por meio de cotas, bem como comemorou a quebra dos “mitos” de que a chegada dos cotistas ao ensino superior faria cair a qualidade da educação. “E o que aconteceu foi exatamente o contrário. A realidade é que os jovens das classes desfavorecidas são tão inteligentes quanto os ricos e agarram, com unhas e dentes, a oportunidade de mostrarem a capacidade de estarem onde estão. A Lei de Cotas provocou uma revolução pacífica na educação brasileira ao abrir as portas das universidades para jovens de baixa renda, negros, pardos, indígenas e pessoas com deficiência”, acrescentou.
Ouça no podcast do Eu, Rio! a reportagem da RadioAgência Nacional sobre as mudanças na Lei de Cotas.
Já Camilo Santana celebrou o fortalecimento e aprimoramento da Lei de Cotas, com apresentação de dados referentes aos impactos positivos da Legislação na vida dos grupos beneficiados pelas ações afirmativas. “Um aspecto fundamental dessa Lei e que merece ser sublinhado é a oportunidade que essa política nos oferece de garantir uma maior oportunidade em nossas universidades, possibilitando a construção de um Brasil diverso e plural que tenha, de fato, a face da nossa gente”, disse.
O Ministro também reforçou que o Ministério da Educação (MEC) tem trabalhado diariamente para levar mais oportunidade a todos os brasileiros, por meio das políticas que tem desenvolvido. “Essa Lei é o exemplo de uma política de enorme sucesso. Agora, com o ato da sanção do Presidente Lula, passa a ser uma política mais sólida, com um sistema permanente de avaliação e monitoramento, incluindo mais pessoas e contribuindo de forma significativa para a promoção da diversidade na universidade brasileira”, explicou Santana.
O evento contou, ainda, com a participação de Marina da Silva Barbosa, médica quilombola e cotista da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ela contou um pouco da sua trajetória até se formar médica e o quanto o sistema de cotas foi importante para que entrasse na universidade e concluísse o curso de medicina. “Por meio do pré-vestibular quilombola, consegui estudar. Mas foi principalmente por existirem as cotas que consegui passar na Universidade Federal da Bahia. E, graças ao programa de ações afirmativas da universidade, consegui concluir a graduação, voltar para casa e devolver ao Estado e aos que acreditaram que esse sonho poderia ter dado certo. Assim, fiz residência em Medicina da Família e Comunidade e, hoje, sou doutora Marina Barbosa”, relatou.
Manuela Mirela, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), afirmou que a UNE lutou por gerações para a aprovação do projeto de renovação, ampliação, fortalecimento e aperfeiçoamento da Lei de Cotas. “Hoje, bradamos que a juventude negra serve para a escola, para a universidade, para os laboratórios, para a ciência, tecnologia e inovação e é na universidade que faremos isso. As cotas abrem portas”, concluiu.
Participantes – Além de Camilo Santana, Ministro da Educação, estavam na cerimônia os ministros Fernando Haddad, da Fazenda; Anielle Franco, da Igualdade Racial; Silvio Almeida, dos Direitos Humanos e da Cidadania; e Sonia Guajajara, dos Povos Indígenas. Também compareceram Márcio Macêdo, chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, e a primeira-dama, Janja Lula da Silva, bem como o senador Paulo Paim (PT/RS) e as deputadas Maria do Rosário (PT/RS), Benedita da Silva (PT/RJ) e Dandara Tonantzin (PT-MG).
NOVIDADES — No mecanismo de ingresso anterior, o cotista concorria apenas às vagas destinadas às cotas, mesmo que ele tivesse pontuação suficiente na ampla concorrência. Com a nova legislação, primeiramente serão observadas as notas pela ampla concorrência e, posteriormente, as reservas de vagas para cotas. Os aprimoramentos da Lei de Cotas serão aplicados já a partir da próxima edição do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que ocorrerá em janeiro de 2024.
Também foi reduzido o valor definido para o teto da renda familiar dos estudantes que buscam cota para ingresso no ensino superior por meio do perfil socioeconômico. Antes, o valor exigido era de um salário mínimo e meio, em média, por pessoa da família. Com a nova legislação, esse valor passa a ser de um salário mínimo.
Outras mudanças são: a inclusão dos estudantes quilombolas como beneficiários das cotas, nos moldes do que atualmente já ocorre para pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência (PcDs); o estabelecimento de prioridade para os cotistas no recebimento do auxílio estudantil; e a extensão das políticas afirmativas para a pós-graduação.
O novo texto também inclui, além do MEC, outros ministérios como responsáveis pelo acompanhamento da política de cotas: Igualdade Racial; Direitos Humanos e da Cidadania; Povos Indígenas e Secretaria Geral da Presidência da República.
CENÁRIO — Ações afirmativas são mecanismos desenvolvidos com a finalidade de combater as desigualdades e dar oportunidades a grupos sociais historicamente excluídos. Uma das faces mais evidentes dessa exclusão era o ensino superior brasileiro, que teve o seu contexto modificado por meio da Lei de Cotas, conforme dados abaixo:
A partir dos microdados do Sistema de Seleção Unificado (Sisu) do primeiro semestre de 2019 , o Inep também realizou estudo com objetivo de apresentar o impacto da Lei de Cotas na inclusão dos públicos por ela abrangidos. Dados projetados pelos pesquisadores e publicados na Nota Técnica CCGE/Dired, de 22 de março de 2023, revelam que:
REVISÃO — Conforme previsto na Lei n. 12.711/2012, dez anos após a sanção da Lei de Cotas, em 2022, iniciou-se o processo de revisão da legislação em questão. Dessa forma, os movimentos sociais, pesquisadores, parlamentares e órgãos de controle articularam-se para que a revisão se efetivasse no sentido de aprimorar a Lei de Cotas.
Em grande medida, os pontos destacados por esses agentes em reuniões, seminários e documentos foram assimilados pelo Projeto de Lei n. 5.384/2020, de autoria da deputada Maria do Rosário (RS), que tramitou no Congresso Nacional entre dezembro de 2020 e outubro de 2023. Na Câmara dos Deputados, a relatora do PL foi a Deputada Dandara (MG), enquanto, no Senado Federal, foi o Senador Paulo Paim (RS).
O PL n. 5.384/2020 foi aprovado na Câmara dos Deputados no dia 9 de agosto e, no Senado Federal, em 24 de outubro, quando foi encaminhado para a sanção do Presidente da República.
LEI DE COTAS — A Lei n. 12.711/2012, conhecida como Lei de Cotas, foi sancionada, em agosto de 2012, pela então Presidenta Dilma Rousseff. A legislação instituiu o programa de reserva de vagas para estudantes egressos de escolas públicas; estudantes pretos, pardos, indígenas, oriundos de famílias com renda inferior a um salário mínimo e meio per capita; e estudantes com deficiência. A partir disso, esses grupos passaram a ter mais oportunidades de acesso às instituições federais de ensino. Em 2016, pessoas com deficiência foram incluídas como público beneficiário da política de cotas.
Fonte: Ministério da Educação e RadioAgência Nacional