Quem não conhece Derico? Aquele saxofonista emblemático que fazia parte do sexteto do Jô Soares? Após 28 anos acompanhando o talk-show, seja no SBT ou na Globo, e com o fim da atração, Derico tem outros planos para a vida: rodar o país e tocar, de graça, em praças públicas, escrever um livro sobre sua trajetória com Jô Soares e lançamento de cd. Durante a entrevista concedida para o Eu, Rio!, uma declaração: "gostaria de ter um programa de talk-show, sim. Tenho talento para isso".
Eu, Rio! - Depois de anos trabalhando com o Jô, como está sendo a vida pós-programa? Como era a rotina durante o programa e como você organiza seu tempo hoje em dia?
Está ótima...na verdade, acho que estou trabalhando mais agora do que quando estava gravando. Como tinha que estar toda a segunda, terça e quarta em São Paulo pra gravar, só sobrava de quinta a domingo para viajar, fazer shows e realizar alguns projetos possíveis. Agora tenho todo o tempo do mundo! A rotina de gravação era de segunda a quarta, a gente gravava três programas na segunda, dois na terça e o especial "Meninas do Jô" na quarta. Era uma dinâmica fácil, não tinha estresse nenhum, as engrenagens funcionavam muito bem! Foram 28 anos assim...
Hoje faço minhas viagens para shows sem ter que voltar pra São Paulo, o que facilita a logística e me coloca em disponibilidade total para aceitar convites de todo o Brasil. Além disso, tenho uma produtora que trabalha meus projetos e minha vida profissional. Tudo certinho...
Eu, Rio! - Como se deu o interesse por instrumentos de sopro?
Sou de família de músicos, todos pianistas. Minha mãe, Mercêdes Máttar, meu tio, famoso... Pedrinho Máttar, meus outros tios menos famosos, todos pianistas. Quando eu nasci, o caçula da família, já tinha meus dotes musicais escancarados, eu assoviava com um ano de idade. Aí, meus pais entenderam que eu deveria começar meus estudos na música. Pianos em casa, vários, era mais fácil, porém minha mãe não queria mais um pianista na família e tentou outro instrumento. Me deu uma flauta doce, daquelas bem tradicionais, de plástico, simples demais. Comecei a tocar, gostei da coisa e engatei nos estudos, não parei mais! Aí da flauta doce fui para a transversal e para o saxofone. Também toco piano (porque na família todos tem que tocar piano), baixo elétrico, violão e bateria.
Eu,Rio! - Fale sobre seu projeto Derico Music Truck. Como surgiu a ideia? Quando vai começar o projeto e quantas cidades deseja visitar? Quais cidades do Estado do Rio estão na sua rota de show?
Bom, com o fim do Programa do Jô, me vi desempregado depois de 28 anos, mas não sem ideias. Vislumbrei finalmente a possibilidade de colocar em prática os tais projetos impossíveis, aqueles que só conseguiria realizar se tivesse tempo. E o tempo veio, o projeto do truck é a possibilidade de dar oportunidade de audição ao grande público de uma música diferente, instrumental, popular, além de dar visibilidade aos músicos instrumentistas do Brasil que não tem espaço nenhum para aparecer, são tantos talentos que ficam obscuros num mar de cantores e cantoras. Nada contra, mas acho que está faltando espaço aos instrumentistas desse país. E o truck vem tentar suprir essa demanda. O projeto tem três pontos importantes: o social, porque todos os shows são gratuitos, em praças ou parques públicos; cultural, porque divulga a música instrumental e porque convido sempre músicos locais para tocar comigo em cada show; e turístico, porque falo sobre as peculiaridades de cada cidade onde o truck passar.
O projeto ainda não tem uma data certa para começar, porque ainda dependo de patrocínios, mas a ideia é percorrer o Brasil inteiro, e certamente o Rio de Janeiro estará presente.
Eu, Rio! - Além do Derico Music Truck, quais projetos estão em andamento e quais estão no forno em fase de maturação para os próximos meses? Pensa em escrever um livro, lançar algum DVD?
Tenho vários projetos paralelos ao truck. Gravei um cd agora chamado "Expressionante", com minha banda "Derico & os Antropófagos anônimos", e vamos sair em turnê para divulgação no segundo semestre. Apoio um trabalho social com uma Orquestra Sinfônica Jovem, da cidade de Artur Nogueira - SP, projeto chamado "Retreta" com a corporação musical 24 de junho do maestro Ricardo Miquelino, vamos fazer oito concertos pelo estado de São Paulo. Faço concertos também com uma Orquestra de Câmara em Belo Horizonte chamada opus, do meu amigo querido maestro Leonardo Cunha.
Também estou em turnê de divulgação de meu mais recente cd com meu grupo de choro "Pelo Telephone", fazendo shows pelo Brasil. Continuo com meu dueto com meu irmão Sérgio Sciotti, o "Duo Sciotti", já com oito cds gravados e shows pelo país inteiro. Esse é um trabalho que tenho que não acaba nunca, porque é enxuto, custo baixo e logística fácil!
Estou escrevendo um livro contando as histórias dos meus 28 anos no programa, desde o sbt até o final na globo chamado "28 anos". A ideia é fazer desse livro um musical com o quarteto, que foi o grupo que encerrou o programa em 2016, com o Miltinho, o Bira, o maestro Osmar e eu. Já estamos ensaiando para a estreia, mas sem data ainda!
E ainda sobra tempo para curtir meu neto, namorar minha esposa e fazer meu churrasco!
Eu, Rio! - você sempre foi o mais conhecido integrante do quinteto/sexteto do Jô. Pensa em criar um programa de entrevistas seu e divulgar no Youtube? Já se imaginou do outro lado da bancada?
Já... E muito! Mas nunca recebi um convite formal, nenhuma consulta sobre esse assunto. Tenho dois projetos que apresentei na Globo antes de sair, e acredito que estejam em análise, mas não tenho muita esperança não. As coisas são mais complicadas do que eu imaginava! Uma das veias do projeto do truck é justamente virar um programa de TV. Esse eu tenho muitas esperanças, porque só depende de mim! Tenho meu canal no youtube (/dericooficial/), e vou desenvolver esse projeto lá. Acho que tenho experiência suficiente e um pouco de talento para fazer um trabalho como esse, afinal fiquei 28 anos tendo aulas diárias com o mestre no assunto!
Eu, Rio! - Como instrumentista, sabemos de sua predileção por músicas instrumentais, mas que estilos musicais o Derico costuma ouvir. E que artistas atraem sua atenção?
Ouço muito choro, MPB, rock progressivo... Cauby Peixoto, Frank Sinatra, Nina Simone. Mas também toca no meu carro muito Van Halen, Led Zeppelin, Pink Floyd e Emerson, Lake & Palmer.
Eu, Rio! - Tem algum artista que você gostaria de ter a chance de tocar junto?
O programa me deu a oportunidade de tocar com vários artistas que eram meus sonhos de consumo, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, George Benson, Joe Lovano, Billy Cobham, Ed Motta, Tim Maia... Vixi, são tantas pessoa tão queridas! Lenine, seu Jorge, Sandra de Sá, Maria Gadú, Frejat... Todos muito amigos e extremamente generosos comigo! Mas, se tivesse que escolher um que não toquei, seria Pink Floyd... Aí estourava a boca do balão!
Eu, Rio! - Como você analisa a falta de programas de auditório para melhor divulgação de artistas/bandas na Tv aberta? Que influência Chacrinha, Bolinha e outros apresentadores tiveram na sua admiração pela música?
Hoje a época é diferente, as expectativas com relação à arte em geral e à música especificamente são outras. Na minha época, década de 70, a gente tinha o Chacrinha, o Bolinha, o Flávio Cavalcanti, como aqueles que eram os divulgadores de LPs, os descobridores de artistas e de compositores brasileiros, os programas de TV eram assistidos por todos da família, eram eventos! Hoje está tudo banalizado demais, as informações são muito mais rápidas e efêmeras. Não se matura mais uma informação, ninguém tem mais aquela expectativa pela chegada de um novo disco, de um novo clipe, de uma nova música de determinado artista... Tudo está muito descartável. Mas é assim que vivemos hoje, não tem como retroagir nisso, mas podemos equilibrar essa tendência, colocando o público em contato com outras formas de arte, como a música instrumental... Essa é a minha meta de vida hoje!
Eu, Rio! - Como você foi parar no programa do Jô?
Sou flautista de formação. Sempre fui um músico erudito, tocava em orquestra, fazia recitais pelo Brasil, mas queria ser um músico famoso no país, tocar com grandes nomes da música brasileira e ser reconhecido na rua. Por conta disso, ao invés de sair do país para estudar música erudita, fui me aventurar pelos caminhos da música popular, fui tocar em bailes, gafieiras, fui estudar saxofone, baixo elétrico, para me tornar um músico polivalente e ter mais mercado de trabalho por aqui!
Porém, na minha época de música erudita, tocava muitos compositores brasileiros no meu repertório, Villa-lobos, Radamés Gnatalli, Guerra Peixe, Osvaldo Lacerda, e tocava Edmundo Villani-Côrtes, um compositor que até hoje está na ativa, com muito talento e musicalidade. Ele era e ainda é muito amigo de minha mãe e eu fazia recitais particulares para ele ouvir minhas interpretações de suas obras, um privilégio que eu tinha na época. E ele, por uma dessas coincidências da vida, era o então pianista do quarteto onze e meia que tocava do programa do Jô Soares no SBT. O Jô pediu, quando o programa entrou em férias, que os músicos do quarteto arrumassem um quinto elemento, soprista (podia ser trompete, trombone, sax, clarinete...) Para aumentar o quarteto para quinteto. Cada um (Bira, Rubinho e Miltinho) foram atrás de seus parceiros e o maestro Edmundo convidou o filho dele, Ed Côrtes, saxofonista que toca comigo até hoje em várias bandas, meu irmão querido, um amigo fiel! O Ed não aceitou o convite porque tinha outros compromissos, ia viajar, essas coisas... Não quis! E falou pro pai dele me chamar, porque eu era um cara meio bobão, engraçado, tocava sax e flauta, achava que o Jô ia gostar de mim!
E aí se deu o convite, e fui gravar o primeiro programa no SBT no mesmo dia que meu filho nasceu! Deixei minha esposa na maternidade e fui gravar! Voltei pro hospital empregado!!!!