Denúncia põe em xeque as motivações para a construção da nova sede do America

Quem nunca sentiu uma empatia pelo America Football Club que atire a primeira pedra. Até o seu hino é conhecido de todo o carioca. Hei de torcer, torcer, torcer até morrer. E parece que é isso que o grupo que vem administrando o clube há 5 anos está fazendo: matando a sede do clube, localizada no número 118 da Rua Campos Sales na Tijuca, aos poucos.

De acordo com a denúncia crime feita na Delegacia de Defraudações, na cidade da Polícia, pelo torcedor e sócio-proprietário Paulo César Dias, o ex-presidente Léo Almada e o atual, Sidney Seixas, cometeram diversas irregularidades dentro do clube, que estão por trás do destombamento da sede e sua provável demolição e pede, não apenas o afastamento de toda a gestão administrativa como também punições, desde associação criminosa até estelionato.

Paulo César Dias é um torcedor apaixonado pelo time e é, desde 1982, sócio-proprietário no America e, vem percebendo que os problemas da sede social do time, na Tijuca, se agravaram desde que Léo Almada assumiu, em 2014.

Na denúncia, Paulo expões diversos motivos e apresenta documentos que comprovam suas queixas, a mais grave sendo a sede, teoricamente interditada pelo Corpo de Bombeiros, nunca fora de fato fechada pela corporação e, sim, pela oportunidade vista pelo então presidente, de conseguir encerrar toda e qualquer atividade no clube. De acordo com o laudo dos bombeiros, a única interdição seria no salão nobre, para que fossem realizadas modificações para adequar às novas normas de segurança, principalmente após a tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria. Na época, o presidente do Conselho Deliberativo do Clube era Neil Chaves, coronel do CB. Hoje ele é adversário de Léo Almada.

"A sede foi fechada irregularmente pelo então presidente, argumentando que estava interditada. Mentira comprovada em documentos."- afirma Paulo César.

Paulo César ainda afirma que o local começou, a mando de Léo, a ser depredado, de má-fé para comprovar a interdição.

Outros pontos da denúncia afirmam que tanto a gestão de Léo Almada, quanto a de Sidney Seixas foram integralmente no intuito de dilapidar o patrimônio do clube e insinua que uma quantidade muito expressiva de empréstimos, dando a sede como garantia podem estar relacionadas com lavagem de dinheiro.

Em uma conversa gravada e disponibilizada na plataforma Youtube, Léo Almada confessa que pagou mensalidades de inadimplentes para que pudessem votar na eleição para presidente, quando Sidney Seixas foi eleito. De acordo com o artigo 171 do Código Penal, essa prática configura estelionato.

Outros pontos da denúncia crime expõem uma trama digna de filme, mas que, com documentos comprobatórios, só reforçam a natureza das ações dos envolvidos: a dívida do clube dobrou na gestão de Almada, o clube vem contraindo empréstimos dando, a todo momento, a sede como garantia, apropriação indébita previdenciária, pois descontam o recolhimento de contribuição previdenciária e trabalhista, mas não repassam aos órgãos federais, incluindo FGTS, as demonstrações financeiras aprovadas sem cumprir requisitos obrigatórios, inadimplência da prestação de contas, além de inúmeras ações trabalhistas com penhora de valores dos aluguéis dos locatários de espaços na sede do clube, que inclui o estacionamento e uma academia de ginástica.

Para Paulo César, as declarações de Sidney para a imprensa de que estão fazendo obras para que a nova sede seja entregue aos tijucanos é mentirosa, pois não se vê uma obra, além do contrato realizado ser suspeito. A empresa que seria responsável por fazer o shopping é RM Malls, cujo sócio é Antônio Mamede, participante de inúmeras empresas que já prestaram serviços para o clube e até mesmo emprestaram mais de R$1 mi, além de todas as empresas criadas em 2014, mesmo ano que Léo Almada assume.

O destombamento da sede do clube também é um grande mistério, inclusive para os sócios, pois, de acordo com Paulo, nada foi avisado. Na declaração dele junto a polícia, por quatro anos o tombamento ficou tramitando na gestão de Eduardo Paes e na de Crivella, em menos de um mês foi resolvido e destombado, permitindo que o projeto de demolição avançasse, sendo contraído um empréstimo de R$71 mi, cujo adiantamento da verba não está sendo usado para a viabilização do shopping, conforme fora anunciado.

"Estou me sentindo enganado. Não estão marcando nenhuma reunião, sendo que tem que marcar quatro reuniões por ano. E nada foi marcado. Estão tomando decisões sem passar pelo Conselho Deliberativo, fazendo como se fossem donos do clube. Estão rasgando o Estatuto." -afirma Paulo.

Um outro ponto discutido na denúncia e que, para Paulo é uma névoa, foi a contratação, a princípio a custo zero, de Marco Antônio Teixeira, tio de Ricardo Teixeira, indicado pelo senador Romário, para ajudar Léo Almada em sua gestão. Entretanto, o contrato previa pagamento retroativo desde janeiro de 2017. A denúncia afirma que ele manda nas finanças, participa de contatação de jogadores, e ajuda a desvalorizar o patrimônio do clube para viabilizar a construção do shopping. Ainda paga as despesas do clube, presta contas a tesouraria colocando tudo como empréstimos para receber a juros compostos. Uma bola de neve em que o America não tem outra saída senão vender a sede.

Todas as infrações estariam tipificadas, além de estelionato, como crime de lavagem de dinheiro, da lei 12683/12.

Paulo César, em sua denúncia pede não apenas o afastamento de toda a gestão como também investigação e punição nos crimes de formação de quadrilha, estelionato, apropriação indébita, gestão temerária, fraudulenta e lavagem de dinheiro.

Procurado pela reportagem, o Corpo de Bombeiros afirma que o auto de interdição do America Football Club diz respeito à impossibilidade de realização de atividades de reunião de público.

A reportagem tentou contato com todos os envolvidos na matéria e apenas Marco Antônio Teixeira não foi encontrado.

Até o fechamento da matéria, ninguém da assessoria do Senador Romário ou de Antônio Mamede, dono da RM Malls respondeu aos nossos contatos.