A peça “Dias Felizes”, de Samuel Beckett, com montagem inspirada no teatro do inglês Tadeusz Kantor, histórias em quadrinhos e desenhos animados, estará neste final de semana no Teatro Nelson Rodrigues. Dirigido por Cesar Ribeiro, o espetáculo traz a história de Winnie, interpretada por Lavínia Pannunzio, uma mulher de 50 anos que dialoga de modo otimista sobre um passado glorioso e a esperança de dias melhores.
Nessa condição precária, em um cenário desértico, ela se agarra às palavras e a seus últimos pertences para enfrentar a passagem do tempo e comandar seu universo de esperanças contraditórias com a realidade em que está inserida.
Na montagem, a violência do patriarcado, assim como as imposições relacionadas à construção do feminino se tornam o centro das discussões. Segundo o diretor, a voz que se ouve na peça é de Winnie, que o tempo inteiro retorna à expectativa de felicidade enquanto narra possibilidades de afeto perdidas no passado e a aridez do estado presente. Além da imobilidade ao estar enterrada, a memória é falha, o sol é constante e seu marido, Edgar Castro permanece indiferente, ao fundo da cena, absorto na leitura de manchetes de velhos jornais.
“Ao mesmo tempo, como um quebra-cabeça, o texto vai remontando uma relação afetiva que começa com a ‘conquista’ seguida por imediato silêncio entre o casal, resultado de um marido presente fisicamente, mas sem nenhum grau de escuta e que apenas grunhe palavras incompreensíveis e, às vezes, algumas frases soltas ou pequenas respostas”, explica Ribeiro.
A montagem utiliza obras como Eichmann em Jerusalém, em que Hannah Arendt propõe que o mal, ao atingir grupos sociais, é político e ocorre onde encontra espaço institucional, gerando a naturalização da violência como processo histórico e sociopolítico. Desta forma, Dias Felizes aborda a desumanização, que condiciona grandes parcelas da população a uma cidadania de segunda classe.
“O isolamento, a escassez de recursos, a natureza hostil e a oposição entre os desejos de luta pela vida e desistência diante das adversidades configuram a obra como uma representação do abandono pelo Estado, pela coletividade e por qualquer suposta divindade organizadora. Mas como garantir a vida de milhões de pessoas vulneráveis socialmente sob uma realidade excludente?”, questiona Cesar Ribeiro.
A proposta de montagem segue a investigação dos sistemas de violência característica do grupo Garagem 21. Em Esperando Godot é investigada a violência estrutural e em O Arquiteto e o Imperador da Assíria o foco está na violência cultural.
SERVIÇO:
Espetáculo Dias Felizes
CAIXA CULTURAL RJ - Teatro Nelson Rodrigues
Local: Teatro Nelson Rodrigues - Av. República do Paraguai, 230 – Centro, Rio de Janeiro
Temporada: Até 07/04
Horários: Quinta a sábado, às 19h; domingo, às 18h
Ingressos: R$ 40 (inteira plateia) | R$ 20 (meia-entrada plateia) | R$ 30 (inteira
balcão) | R$ 15 (meia-entrada balcão)
Duração: 120 min. (incluindo um intervalo de 15 minutos)
Classificação: 12 anos.
Gênero: Tragicomédia.
Lotação: 417 lugares
Bilheteria: Quarta a Domingo, das 13h às 19h ou no site bilheteriacultural.com.
Informações: (21) 3509-9621
www.caixacultural.gov.br
Instagram: @caixaculturalrj