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Repórteres mostram a facilidade em entrar nas escolas públicas no Rio

Um mês depois da tragédia em Suzano (SP) o portal Eu, Rio! prova que qualquer um tem acesso nas unidades de ensino

Por Leonardo Pimenta, Jonas Feliciano, Kaio Serra e Rodrigo Rebechi em 13/04/2019 às 09:54:00

Foto: Leonardo Pimenta

No dia 13 de março, uma tragédia aconteceu em na Escola Municipal Raul Brasil, no município de Suzano, São Paulo. Na ocasião, dez pessoas morreram. Há oito anos, em 07 de abril de 2011, aqui no Rio, outro massacre em escola. Desta vez, um ex-aluno entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, matou 11. O que os dois ataques tem em comum? Além de terem sido cometidos por ex-alunos, a facilidade com que eles entraram nas escolas, sem serem importunados. Um mês depois do massacre de Suzano, uma pergunta: as escolas públicas no Rio são seguras?

Para responder ao questionamento, três repórteres do portal Eu, Rio! visitaram dez escolas, entre municipais e estaduais e o resultado é alarmante. Das dez escolas visitadas, conseguimos entrar com facilidade em sete delas. Os repórteres passearam pela escola, visitaram quadras de esporte, sala de professores e até a sala da direção de algumas delas. Ao longo da reportagem, relatamos a experiência, em primeira pessoa, de cada escola visitada.

Espaço de Desenvolvimento Infantil Maria Braz

Nesta escola, localizada na rua Heráclito Graça, no Lins de Vasconcelos, não há nenhum agente público garantindo a segurança dos alunos, funcionários e professores. Embora o acesso exija a solicitação da entrada por interfone, não existe um controle sobre as pessoas que entram no prédio. Solicitei uma visita à secretaria e o portão foi aberto.

Ao subir as escadas para o prédio principal, há outra porta gradeada antes de se chegar ao interior da escola, mas ela fica aberta. Logo em seguida, a esquerda, está a sala da direção e da secretaria. Nela, encontrei algumas funcionárias. A diretora, a vice-diretora e mais duas professoras.

Na ocasião, me identifiquei e percebi uma certa hostilidade da direção quando expliquei o meu propósito. Fiz perguntas sobre a insegurança e elas me responderam que eram orientadas a não se posicionar sem autorização. Inclusive, afirmaram que eu não deveria estar ali sem uma comunicação prévia a Secretaria de Educação do Municipal.

Preferiram não falar sobre o assunto. Em um momento, quando questionei a ausência dos seguranças, fui informado que já existia um processo em andamento cujo intuito seria a contratação de possíveis seguranças. Tudo sem grandes detalhes.

Vale destacar que a escola atende a educação infantil e a creche pré-escolar da população da região do Complexo do Lins

Escola Municipal Lourenço Filho

Situada no coração do Grajaú, também na Zona Norte, a instituição de ensino fica ao lado da Praça Edmundo Rêgo. A principal do bairro.Oferece o ensino fundamental e ensino supletivo para jovens e adultos. Inclusive, funciona no horário noturno.

Tem muros altos e um portão de ferro que é mantido fechado. Contudo, quem toca a campainha, entra sem grandes dificuldades. A escola possui uma quadra bem depois da sua entrada. As salas administrativas ficam na primeira porta à esquerda. Um ambiente simples e com algumas mesas.

Na visita, fui recebido por algumas funcionárias. Elas também não quiseram falar sobre as deficiências na segurança do local. Visivelmente, o prédio não possui agentes ou uma pessoa específica para controlar o trânsito de pessoas. Quem faz este papel são os próprios empregados da instituição de ensino. A única informação que conseguimos é a que existe um planejamento da prefeitura em relação a contratação de seguranças. Nada mais.

Escola Municipal Duque de Caxias

Localizada no Grajaú, na Rua Marechal Joffre, o colégio atende desde a educação infantil e pré-escolar até o ensino fundamental nos anos iniciais e finais, além da educação especial.

A escola é relativamente segura. Embora seu portão principal estivesse aberto, o acesso ao prédio onde estão os alunos, é controlado por uma funcionária. Foi possível observar uma câmera de segurança nesta entrada. Bem como, não há como adentrar ao imóvel por outro local.

Os trabalhadores, incluindo a direção, também optaram em não se pronunciar sobre qualquer assunto relacionado sem uma autorização especial da Secretaria Municipal de Educação. Por telefone, fui orientado a entrar em contato com o órgão responsável.

Colégio Estadual Antônio Prado Jr.

Quando cheguei à unidade escolar, alunos saíam pela porta da frente tranquilamente. Entrei pelo portão principal, onde havia um porteiro que não impediu a minha entrada e caminhei, sem intervenção alguma, até o pátio interno do colégio, onde ficavam a secretaria, a direção, a biblioteca e a sala dos professores. No pátio interno, bebi água, fui ao banheiro e vi vários alunos durante o caminho, que andavam com tranquilidade pelo local.

Fiquei uns 20 minutos por ali e, ao subir para o 2º andar, é que vi dois inspetores, que apenas me olharam. Notei que vários alunos estavam sem uniforme, o que me impressionou muito, dada a facilidade de qualquer um poder se misturar ao corpo discente, sem chamar atenção. Na saída, passei pelo porteiro que, rodeado de alunos, apenas tirou a perna da porta para eu sair.

Área interna do Colégio Estadual Antonio Prado Jr - Foto: Leonardo Pimenta

Colégio Estadual Hebert de Souza

O colégio fica em uma ladeira, na entrada do morro do Turano. Subi a escada de acesso e me deparei com uma quadra, onde vários alunos jogavam bola. Ao passar por essa quadra, vi uma guarita vazia e duas escolas estaduais. Subi uma escada e entrei no corredor principal de acesso ao Colégio Estadual Hebert de Souza. O portão estava totalmente aberto e sem um porteiro ou inspetor sequer. Passei pela secretaria, pela sala dos professores, pela sala de jogos e pelo refeitório, quando, finalmente, cheguei à sala da direção. No corredor, havia câmeras e sistema de som, mas não encontrei obstáculos para passar. Na saída, quando já estava no portão, é que uma pessoa perguntou se eu precisava de alguma coisa. Respondi que já havia sido atendido e saí tranquilamente pela porta principal.

Colégio Estadual Paulo de Frontin

Nesse colégio, o portão encontrava-se aberto, e cheguei a entrar com dois alunos até à recepção. Já estava acessando o pátio interno, quando fui impedido por um único porteiro. O funcionário não me deixou passar e me informou que a secretaria não estava funcionando, pois o secretário e o assistente estavam de licença. Um ex-aluno chegou a solicitar alguns documentos, mas o funcionário respondeu que o diretor não podia entregar documentos nem declaração. Estranhei a justificativa dada ao ex-aluno e me retirei.

Escola Municipal Menezes Cortes

Escola encontrava-se com os dois portões trancados com cadeados e correntes. Um funcionário me questionou quanto à ida ao local. Informei que gostaria de entregar documentos na secretaria. Ele apenas informou o horário, e se afastou do portão. O portão era totalmente fechado, de placas de aço com uma portinhola.

Escola Municipal 25 de Abril. Escola híbrida. Até as 18:30 escola municipal, após as 18:30 Colégio Estadual.

Consegui acesso parcial à escola, inclusive a quadra de esportes onde alunos praticavam educação física. Outras pessoas que não eram alunos também acessavam o local com total liberdade. Uma grade vazada impedia o acesso ao prédio principal, no entanto, esta estava aberta. De acordo com relatos de estudantes, a entrada de pessoas estranhas é frequente.

Escola Municipal Barão da Taquara

Acesso total ao prédio e dependências. Contato com alunos que tinham por volta as 6 anos. Contato com uma professora. Repórter não estava uniformizado. Ela tem um anexo para educação infantil. Como uma creche. Meu acesso total foi nesse anexo. A escola em si estava fechada, sem ninguém. Eu acho mais perigoso, já que eu poderia ter pego qualquer bebê e saído de lá numa boa

Colégio Estadual Bernardo Sayão

Completamente barrado no portão de acesso às dependências do prédio. Fui questionado pelo funcionário quanto a minha ida ao local, minhas intenções e quais documentações eu gostaria de entregar. Sem qualquer tipo de permissão ou contato com alunos.

Perplexidade de quem viveu o pesadelo de Realengo

Adriana Silveira é mãe de uma das vítimas do massacre de Realengo. No dia 07 de abril de 2011, sua filha Luiza Paula Silveira foi atingida por quem entrou calmamente na Tasso da Silveira. Após o caso, criou e preside a Associação de Familiares e Amigos dos Anjos de Realengo (AFAAR). Ao saber das facilidades encontradas pela equipe de reportagens, desabafou.

"É muito triste, é de chocar. Mas eu já sabia, tenho noção que as escolas estão dessa forma. Por isso o motivo da luta e não podemos cansar de lutar. Uma vergonha, depois de tudo que ocorreu na Tasso da Silveira, logo agora tivemos outros casos. E nossas autoridades ainda nada fazem. As famílias tem que se unir, o problema é sério e ele existe. É um deboche, um descaso com quem perdeu os filhos em ataques assim, carregamos uma sequela. Eu como mãe, me sinto indignada, principalmente eu que perdi uma filha da forma que perdi", relata Adriana, que deixa mensagem para as mães de Suzano.

"Para que a memória da minha Luiza e das outras crianças não se apague jamais e que suas mortes não sejam em vão dessa terrível tragédia histórica, terão que ser colhidos frutos na forma de mudanças, atos , reflexões, decisões e leis. Que flores sejam colhidas, mesmo que regadas com as minhas lágrimas para que os sonhos deles sejam realizados por outras crianças que, em homenagem a eles, possam ter o direito de entrar e sair em de suas escolas com vida", concluiu.

Que falam as Secretarias de Educação?

Diante da facilidade de qualquer estranho entrar na maioria das escolas públicas do Rio, ouvimos as explicações dos envolvidos.

A Secretaria Municipal de Educação, em nota, afirma que está aprimorando o sistema de acesso e trabalhando, desde o ano passado, na licitação para contratação de controladores que vão atuar na portaria de todas as 1.540 unidades escolares da Prefeitura do Rio. A SME também relata que está realizando os procedimentos administrativos necessários para a contratação desses profissionais. O último contrato para esse serviço teve seu término em 2014.

Já a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informa que iniciou o processo de licitação para a contratação de 610 porteiros para atuar em escolas da rede estadual.

Além disso, o Governo do Estado, por meio das Secretarias de Estado de Educação e de Polícia Militar, já iniciou o processo de implementação do Proeis em unidades de ensino da rede pública estadual, visando reforçar a proteção da comunidade escolar e do patrimônio, e também aproximar alunos da Polícia Militar. A proposta, que deve ser iniciada ainda no primeiro semestre, em até 50 unidades escolares, será levada somente a colégios cujos diretores venham a demandar o programa

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