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“Quando meu filho nasceu, vivi o luto da mãe idealizada e do filho idealizado”, conta educadora parental sobre expectativas falhas da maternidade

Priscilla Montes fala sobre os desafios invisíveis da maternidade e revela que a personalidade de movimento do filho foi um choque

Por Portal Eu, Rio! em 15/05/2024 às 17:58:28

Foto: Divulgação/Flávia Martins Fotografia

Em uma era de redes sociais e padrões idealizados das realidades, a maternidade e parentalidade tangem um universo de perfeição inatingível. O peso das expectativas invisíveis impostas às mães abre e segue um ciclo vicioso de frustrações e maus relacionamentos, muitas vezes alimentado pela comparação e pressão de atingir um ideal incompreensível. Nesse contexto, a educadora parental Priscilla Montes explica a importância de estudar o autoconhecimento para se tornar um cuidador saudável.

É muito comum que as expectativas de pais e mães se projetem nos filhos, criando um novo sentimento de aflição e frustração nas crianças. Segundo Priscilla, esses sentimentos são naturais do ser humano, mas controlá-los é responsabilidade dos adultos. “As expectativas que criamos de nós mesmos é responsabilidade nossa porque nós somos os adultos e a criança ainda tem o cérebro imaturo. É necessário fazer um trabalho profundo de autoconhecimento e revisitar a sua história para buscar entender de onde está vindo esse sentimento”, explicou a educadora parental. Priscilla ainda complementa que as expectativas paternas e maternas podem ser reflexo do que esses adultos foram cobrados durante a infância.

Quando os pais depositam os seus desejos nos filhos, cria-se uma barreira emocional que pode afetar a individualidade da criança e minar a sua capacidade de desenvolver uma imagem saudável de si próprio. A educadora parental contou que o respeito pela identidade de cada um é o que melhor ajuda na regulação dos sentimentos de angústia gerados pelas expectativas. “Quando meu filho nasceu, eu vivi o luto da mãe idealizada e o do filho idealizado. Eu esperava que eu fosse ser de uma forma e o meu filho também porque foi como eu fui ensinada, mas a realidade não é assim e não é igual para todo mundo. Hoje, ele é quem ele nasceu para ser, não quem eu queria que ele fosse”, revelou Priscilla ao contar sobre a dificuldade de aceitar o filho como uma criança de muito movimento.

“Eu deixei de levá-lo a festas, restaurantes e shoppings porque eu tinha vergonha do que as pessoas iriam pensar. Eu inventava várias desculpas para não ter que lidar com esse sentimento. Hoje, eu entendo que era injusto com meu filho esperar que ele ficasse completamente parado e sentado. Esse processo é sobre se adaptar ao que a criança traz e a como ela realmente nasceu para ser”, finalizou Priscilla.

Em vez de incentivar e apoiar a procura dos interesses das crianças, os pais impõem suas próprias preferências sobre o que desejariam que os filhos gostassem. Esse peso e pressão depositados nos filhos pode gerar um afastamento dos familiares, criar sentimentos de ansiedade, invalidação e não pertencimento. “Muito provavelmente essas crianças serão castigadas por não corresponderem ao que os pais esperam delas. Os responsáveis tendem a achar que os filhos devem obediência a eles, por isso criam maneiras de puni-los caso não façam o que esperam. É muito comum vermos pais e mães trazendo crianças ao mundo para fazê-los felizes, ou seja, em dívida a eles”, explicou. Essa dinâmica pode prejudicar o relacionamento entre pais e filhos, dificultando a comunicação aberta e a conexão, e impedindo a construção de uma relação baseada no respeito mútuo e na aceitação.

As expectativas são um espelho das cobranças que começam quando as crianças ainda estão na barriga de suas mães, construindo uma dívida eterna de amor e obediência a quem for cuidá-los. Desde o momento em que descobrem a gravidez, tanto mães quanto pais criam ideais de como devem ser os cuidados com os filhos, como devem se comportar e quais marcos devem acontecer em certos momentos.

Neste universo da concepção real da maternidade e parentalidade, torna-se evidente a importância do estudo antes mesmo do nascimento das crianças. É necessário compreender que desafios, frustrações e imperfeições são parte dessa realidade, e que os laços familiares são fortalecidos pela validação das falhas e tentativas de acertos.

Nesse contexto, encontra-se a carência de uma educação mais respeitosa e acolhedora dentro de casa. Priscilla explica que, com a educação positiva, é possível dar um dos primeiros passos para cultivar um ambiente familiar onde as necessidades emocionais e individuais de cada um são valorizadas e respeitadas. Na sua essência, a educação positiva é uma forma de educar que preza pelo reconhecimento da criança como indivíduo próprio, além de considerar as fases do seu desenvolvimento de maneira respeitosa.

No caso das expectativas irreais, o dever dos pais não é repassar as suas frustrações para as crianças, mas sim ensiná-las habilidades para lidar com esse sentimento de forma saudável e construtiva, segundo Priscilla Montes. Uma das maneiras de estimular o desenvolvimento dessas habilidades é a adoção de medidas de inteligência emocional, como por exemplo incentivar a expressão de pensamentos e sentimentos para que possam orientá-los a como lidar com uma resolução de conflitos. A capacitação das crianças para enfrentar desafios faz parte de um processo para desenvolver confiança, amadurecimento e autoestima, o que foge da imposição de um padrão inatingível de perfeição idealizado.

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