Em áudio de conversa entre o então presidente da República Jair Bolsonaro, o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno e o à época diretor da Abin, Agência Brasileira de Inteligência, Alexandre Ramagem, sobre o caso das rachadinhas, o ex-presidente orienta as advogadas de Flávio Bolsonaro a conversar com o secretário da Receita Federal à época dos fatos, José Tostes, e também Gustavo Canuto, então presidente do Serpro.
O ex-presidente também mostra preocupação com possível gravação do seu conteúdo.Ainda na gravação Bolsonaro revela que conversou com Wilson Witzel, então governador do Rio de Janeiro, e que este teria afirmado que resolveria o processo envolvendo o senador Flávio Bolsonaro, em troca de uma vaga no Supremo.
Mais cedo, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirara o sigilo do áudio, que foi apreendido no celular de Ramagem, diretor da Abin durante o governo Bolsonaro, em uma das fases da investigação.
Ouça no Podcast do Eu, Rio! a reportagem de Fabiana Sampaio, da Rádio Nacional, sobre as revelações do áudio com a gravação da reunião entre Bolsonaro, ministros da área de inteligência do início do mandato dele e advogadas do senador Flávio Bolsonaro, para tratar medidas do governo que ajudassem a defesa do filho do presidente no caso das rachadinhas.
Na gravação, Ramagem, Bolsonaro e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno conversam com duas advogadas do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O diálogo ocorreu em agosto de 2020, quando elas buscavam medidas para tentar anular a investigação contra o parlamentar, que foi investigado por "rachadinha" no seu gabinete quando ele ocupou o cargo de deputado estadual. Em 2021, a investigação foi anulada pela Justiça.
Durante a conversa, Alexandre Ramagem, sugere que é preciso investigar vulnerabilidades da Receita Federal em questões envolvendo auditores. Segundo a Polícia Federal, os auditores foram responsáveis pelo relatório que baseou a investigação contra o senador. Ainda de acordo com a PF, Ramagem queria a instauração de procedimento administrativo contra os auditores com o objetivo de anular a investigação e retirar servidores de seus cargos.
Ainda de acordo com a investigação da PF, os assuntos tratados na conversa gravada se concretizaram e provam a atuação da Abin paralela durante o governo do ex-presidente. Um dos três auditores foi exonerado no mesmo ano.
Em nota, a defesa do general Heleno disse que não vai se manifestar sobre o áudio divulgado. Pelas redes sociais, Wilson Witzel, afirmou que Jair Bolsonaro deve ter se confundido e não foi a primeira vez que mencionou conversas que nunca tiveram. Ele afirma que durante seu governo, a Polícia Civil e Militar sempre tiveram total independência e os poderes foram respeitados.
O senador Flávio Bolsonaro afirmou em nota o áudio mostra apenas suas advogadas comunicando as suspeitas de que um grupo agia com interesses políticos dentro da Receita Federal. E que a partir dessas suspeitas, medidas legais foram adotadas. A nota diz ainda que o próprio presidente Bolsonaro fala na gravação que não “tem jeitinho” e diz que tudo deve ser apurado dentro da lei. E destacou ainda que até hoje não obteve resposta da justiça quanto ao grupo que acessou seus dados sigilosos ilegalmente.
As defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro não respondeu o contato. Não conseguimos contato com a defesa de Alexandre Ramagem.
*Com a colaboração de Gésio Passos e informações da Agência Brasil
Fonte: Agência Brasil e RadioAgência Nacional