Fundado em 1952, o Banco do Nordeste é uma das maiores entidades financeiras da América do Sul e uma referência quando o assunto é o incentivo ao desenvolvimento sustentável. Atualmente, além da presença nos estados nordestinos, o banco também atua no norte de Minas Gerais e Espírito Santo. Em 1998, iniciou seu projeto com microfinanças e, rapidamente, passou a integrar o grupo seleto de instituições brasileiras preocupadas com o desenvolvimento regional, a redução das desigualdades econômicas e a geração de atividades produtivas capazes de contribuir para uma distribuição de renda mais justa.
A partir daí, por meio de programas como o CrediAmigo e o AgroAmigo, alcançou o patamar dos grandes incentivadores de microfinanças do Brasil, bem como, estendeu suas iniciativas tanto para o meio rural quanto para as áreas urbanas. O reconhecimento pelas oportunidades oferecidas à sociedade se materializou em prêmios nacionais e internacionais recebidos ao longo desses anos como o Agrobanco (2017), Inclusão Financeira BID/FOMIN (2014) e o 1° Lugar no hanking da revista "Microfinanzas Américas: Las 100 Mejores".
As ações promovidas pela instituição são baseadas no Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado (PNMPO). Além disso, desde 2003, o banco ainda conta com a colaboração do Instituto Nordeste Cidadania (INEC) na viabilização das operações ligadas aos seus principais programas de microcrédito.
No CrediAmigo, por exemplo, são oferecidas 475 unidades de atendimento que estão distribuídas em 11 estados do território nacional. Ainda existem os canais alternativos como Lotéricas da Caixa, Redes de Banco24Horas e o Saque e Pague. Desse modo, os clientes conseguem receber atendimento na própria comunidade ou em outros locais. Isso permite que eles sejam acompanhados de perto recebendo uma orientação produtiva, financeira e ambiental.
Entre as principais vantagens do crédito estão à possibilidade de juros baixos, integração com políticas governamentais, pagamento no carnê, inclusão financeira e a valorização do trabalhador. Vale destacar que o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) também é um parceiro dos projetos idealizados pelo BN.
Os dados do relatório do programa em 2017 apontam que 44% dos clientes atendidos eram beneficiários do Bolsa Família. No ano citado, foram emprestados aproximadamente R$2, 60 bilhões somente para os credenciados. Em 2018, o CrediAmigo encerrou o ano com 2.065.167 clientes ativos. Foram emprestados cerca R$ 8.953,70 milhões distribuídos em 4.243.181 operações de crédito.
O professor de economia do IBEMEC e da FDC (Fundação Dom Cabral), Gilberto Braga, explica que o microcrédito é uma operação financeira que normalmente trabalha com pequenos valores. Ele destaca que os montantes podem variar de R$ 1 mil a R$ 100 mil, por exemplo.
"É um universo de pequenas operações que não costumam interessar aos grandes bancos. Normalmente, são feitos por instituições oficiais como o Banco do Nordeste que é considerado o líder brasileiro no segmento e tem aproximadamente 60% de toda a carta de microcrédito do país, ou ainda, por empresas financeiras chamadas de Fintech's", destacou o economista.
Gilberto ainda ressalta que o foco desta modalidade são pessoas de baixa renda, pois ela promove a inclusão social. Por isso, é muito comum que indivíduos inscritos em programas sociais como o Bolsa Família tenham acesso aos benefícios do microcrédito.
"Na maioria das vezes, os pequenos empréstimos são feitos para microempreendedores que pretendem montar uma empresa ou ampliar seu negócio. São empreendimentos como trailers de food trucks, barracas de cachorro-quente, algum tipo de oficina dentro da própria casa, salões de beleza, entre outras inúmeras alternativas. O microcrédito acaba não interessando aos grandes bancos comerciais de varejo porque não há uma garantia real de se cobrar de um avalista, caso o tomador do crédito não honre com a sua dívida. Bem como, não há um bem móvel que possa assegurar o pagamento do dinheiro que foi emprestado", afirmou.
O professor também lembrou da importância desse modelo de financiamento para uma parcela da população brasileira. Segundo ele, isso tem representado uma opção para quem não tem acesso ao crédito informal por não preencher os requisitos básicos de acreditação.
Além do mais, com os últimos anos de recessão, houve uma queda na geração de vagas de empregos formais, o que levou muita gente a tentar trabalhar por conta própria. Neste contexto, as linhas de microcrédito ocuparam um espaço de representatividade para aqueles que estão desempregados, mas possuem conhecimento e habilidade suficiente para abrir um pequeno negócio.
As CrediAmigas são maioria: mulheres compõem 67% da carta de parceiros
Cláudia Silva, 46, é uma CrediAmiga. Moradora de Teresina, capital do Piauí, a empresária começou a sua história no segmento estético há mais de 20 anos. Ela contou que descobriu sua vocação como cabeleira quando tinha entre 24 e 26 anos. A partir de então, passou a trabalhar com cabelos e cosméticos. Na época, o ex-esposo não aprovava sua profissão, mesmo assim, ela acreditou no sonho e, sem o consentimento dele, fez o primeiro curso na área.
"Quando eu conclui, nos separamos e abri meu primeiro salão de beleza. Era um negócio simples. Chegamos a cortar cabelos até por R$1,99. Éramos eu e uma amiga que está comigo até hoje. Brincávamos que o ambiente era tão pequeno que, se um cliente entrasse, nós tínhamos que sair. Com muita dificuldade,passamos um tempo neste local. Foi aí que indicada por outra amiga, comecei a fazer empréstimos com o Banco do Nordeste. No início eram valores baixos, mas investi em cursos, equipamentos e viagens. Consequentemente, as coisas evoluíram", contou a profissional.
Ela ainda lembrou da importância do banco no impulso da sua carreira e negócio. Isso porque, o início foi marcado pela falta de alguns produtos e ferramentas de trabalho. Após conseguir um capital de R$ 6 mil, a microempreendedora investiu em cosméticos e conseguiu um bom retorno financeiro.
Logo depois do sucesso do empreendimento, passou a atuar na área técnica e foi convidada por uma marca. Não demorou e ela se tornou uma distribuidora de produtos. Neste período, Cláudia casou novamente e encontrou alguém que acreditasse no seu potencial.
"Faz dez anos que estamos juntos. Hoje, encontro apoio em tudo que faço. Eu digo que sei fazer dinheiro e meu marido sabe administrar. Por isso, temos muito em comum. Afinal, quando iniciei no CrediAmigo, não entendia de gerenciamento financeiro. Ele e o BN me ajudaram muito nesta parte. Investimos em cosmético e, agora, também temos um espaço onde oferecemos diversos cursos", comemorou.
A empresária também destacou a sua participação como diretora interestadual da Organização Brasileira de Cabeleireiros (OBC) que é uma associação internacional do ramo e, no Brasil, tem uma sede localizada em Vitória, capital do Espírito Santo. Ela ainda comemorou a colaboração em um projeto social que atende pessoas carentes buscando reinserção no mercado de trabalho.
"Na realidade, a ideia do social surgiu com a utilização de modelos voluntários para os alunos dos cursos que oferecemos. Assim, algumas instituições perceberam o nosso empenho com este trabalho. Por meio disso, surgiram convites para realizarmos as ações independentemente das turmas. Hoje, eu vou até o local e dou aulas para alguns garotos com o intuito de transformá-los em barbeiros devolvendo a chance de oportunidades e novas perspectivas profissionais. Mais uma vez, o CrediAmigo vai me servir como alicerce para futuramente montar uma barbearia que vai receber esses jovens, pois muito além da dificuldade de ensiná-los, existe a falta de receptividade dos garotos no mercado de trabalho", adiantou.
"O crédito é essencial, mas ele não se transforma sem que você faça a sua parte"
Em setembro de 2005, Maria Raimunda, que também é de Teresina, começou o seu relacionamento de sucesso com o projeto CrediAmigo. A cabeleireira conta que o seu primeiro microcrédito lhe proporcionou o investimento tanto em produtos para uso no salão como também em kits de manutenção para os clientes.
"Essa parceria me deu condições de aumentar o faturamento do salão e de investir no melhoramento da parte estrutural do imóvel. No começo, eu trabalha em um espaço de 16 metros quadrados. Hoje, estou em um local reformado de 60 metros e com um projeto de ampliação em andamento, além de mais 50m que deverá ser concluído até dezembro deste ano", contou a empreendedora.
Maria Raimunda informou que o incentivo do CrediAmigo já lhe rendeu 45 créditos. Segundo ela, todo o dinheiro foi bem investido e a parceria de grandes resultados continua firme há 14 anos.
"É possível que algumas pessoas questionem os valores emprestados, que digam que o primeiro crédito é pouco, mas direi que não é. Para mim, fez toda a diferença. Em todo esse tempo de parceria com o Banco do Nordeste, a evolução do meu negócio foi muito significativa. Agora, o meu objetivo é conquistar ainda mais e assim oferecer outros serviços. O progresso também me permitiu mudar a logomarca. Hoje, sou a MRG Cabelos, o espaço da beleza unissex. Por isso, só tenho a agradecer ao CrediAmigo que acredita e aposta em pessoas com o meu perfil. Isso é muito importante. Bem como, não perder o foco. O crédito é essencial, mas ele não se transforma sem que você faça a sua parte", concluiu Maria Raimunda.
Gerando impactos
Desde 1997, quando o projeto piloto passou a ser incentivado em cinco unidades do BN, a história do crédito amigo só evoluiu. Em 2009, já eram um milhão de clientes ativos. No ano de 2015, o número de parceiros alcançou a casa dos três milhões. Além de fazer parte do PNMPO, o programa de tornou uma das principais referências para a criação do plano Progredir. Um planejamento do Governo Federal que busca a capacitação e a independência financeira de pessoas que recebem o benefício do Bolsa Família. Dessa maneira e com o apoio da Lei do Empreendedor Individual, apenas no ano passado o CrediAmigo conseguiu atender 158 mil empreendedores individuais.
Hoje, são oferecidas linhas de crédito personalizadas e desenvolvidas de acordo com as demandas dos microempreendedores. Entre os produtos disponibilizados estão opções de capital de giro, empréstimos para investimentos em capitais fixos e também o seguro vida. Além disso, os parceiros podem ter acesso ao giro solidário, individual, ao CrediAmigo Comunidade e o CrediAmigo Mais. Cada modalidade possui suas especificações.
De modo geral, os valores de financiamento variam de R$ 100 a R$ 15 mil com taxas de juros que chegam até 2,5% ao mês, dependendo do tipo de giro. O prazo para pagamento também pode ser fixo ou mensal em no máximo 24 meses. Do total de 2.065.167 clientes ativos, 79% possui uma renda familiar mensal inferior a R$ 3.000,00. Um dado que revela a relevância das ações do CrediAmigo no atendimento às famílias de mais baixa renda que vivem na zona urbana.
Os setores impactados refletem as principais atividades desenvolvidas por aqueles que procuram o programa. Hoje em dia, 88% atuam no comércio, 1% na indústria e 11% em outros serviços. Os resultados dos indicadores anuais também apontam o êxito das ações. Veja a seguir:
Há 13 anos, Tarcisio Silveira trabalha no Banco do Nordeste. Hoje, ele é o gerente responsável pelas microfinanças dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo. Tarcisio reforça a relevância do CrediAmigo como o maior programa de microcrédito da América do Sul, o segundo da América Latina e o terceiro no hanking mundial.
"Trabalhamos com o crédito solidário. Nossa relação é de confiança nos clientes. Como um banco de desenvolvimento, o BN entendeu que precisava estar presente em diversos mercados e grupos que necessitam realmente de uma transformação nas suas vidas. Já tínhamos uma linha de crédito voltada para o grande e médio empresário e também para o produtor rural. Há 20 anos, com o CrediAmigo, alcançamos o microempreendedor individual e o informal. Facilitando o crédito ao cidadão que antes não tinha acesso a essa chance de mudança", explicou o gerente.
Ele ainda ressaltou a sua observação quanto às mudanças nas vidas dessas pessoas. Tarcisio destacou que muita gente conseguiu sair da linha da pobreza com a facilidade de tomada do crédito.
"Em toda área de atuação do Banco do Nordeste, percebemos o distanciamento e a desigualdade social que assombra o país. Por isso, este é um tipo de programa que realmente tem uma efetividade muito grande. Conseguimos gerar uma renda melhor para as famílias mais necessitadas. Isso é uma boa solução para o momento em que o desemprego atinge 13% no país e onde a única saída é empreender. Dessa forma, geramos um impacto social profundo. Nós acessamos às pessoas que precisam de crédito e não encontram o apoio dos bancos privados. A partir dos micro empréstimos, é possível viabilizar a evolução do empreendedor facilitando novas operações e até a migração para programas maiores. Não a toa, já tivemos casos históricos como a de um cliente que começou vendendo cocada nas escolas e hoje é um pequeno industrial com a própria marca. Tudo, iniciado lá atrás com o suporte do CrediAmigo", concluiu.