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Mortos na Maré já estariam rendidos e teriam ouvido da polícia: 'Minha ordem é matar'

Denúncia foi feita por ONG Redes da Maré em página no Facebook

Por Mario Hugo Monken em 08/05/2019 às 12:10:35

Foto: Reprodução de internet

Denúncia publicada pela página Maré Online, da ONG Redes da Maré, informa que dois dos oito homens mortos durante operação no Complexo de Favelas, na Zona Norte do Rio, na última segunda-feira (6) teriam levantado as mãos e disseram "perdi" e tiveram a seguinte resposta dos policiais: "minha ordem é matar".

Segundo relatos dos moradores à ONG, os suspeitos, ao serem enquadrados pelos agentes, teriam deixado de oferecer risco, mas ainda assim, teriam sido mortos com indícios de execução.

A página informa ainda que, além dos oito mortos, houve três feridos, entre eles uma criança.

A equipe da ONG visitou a região e identificou veículos atingidos por disparos de armas de fogo, várias casas invadidas e com danos materiais. Foram encontradas 18 cápsulas de balas numa única casa. Segundo a entidade, as consequências psicológicas e emocionais para os moradores são impossíveis de mensurar.

As unidades de saúde, escolas, comércios e outras instituições tiveram que suspender suas atividades. A equipe da ONG  formalizou denúncia ao Ministério Público sobre as supostas violações cometidas nesta operação policial.

De acordo com os dados do “De Olho na Maré”, projeto da Redes da Maré que monitora o impacto dos confrontos armados, as operações policiais com o uso do helicóptero vêm apresentando maior letalidade. Em junho do ano passado, sete pessoas foram mortas. Em abril deste ano, duas pessoas morreram.

Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) informa que a operação realizada na Maré teve como objetivo prender Thomaz Jhayson Vieira Gomes, conhecido como “3N”.

A ação foi desencadeada a partir de informações da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil (Ssinte) apontando que o traficante comandaria nos próximos dias invasão à comunidade Salgueiro, em São Gonçalo, onde sucessivos confrontos têm provocado diversas vítimas. 

A ação foi criteriosa e seguiu todos os protocolos usados em incursões em áreas de risco no Rio de Janeiro, inclusive quanto ao uso de aeronaves. 

A Delegacia de Homicídios da Capital está conduzindo as investigações. Todos os procedimentos investigativos estão sendo tomados.

Defensoria ouve moradores

Na tarde da última terça-feira (7),  as Defensorias Públicas do Estado, e da União, e a Ouvidora da Defensoria Pública do Estado do Río de Janeiro, estiveram no Conjunto Esperança, onde aconteceram as mortes.Na caminhada, os defensores ouviram uma série de relatos de violação de direitos dos moradores do local. 

Esses relatos serão incorporados à ação civil pública da Maré, que já corre na justiça desde de 2017. Nela há a determinação de um plano de redução de danos do Estado ás comunidades que convivem com as violências policiais, além de prever o uso de ambulâncias e GPS nas viaturas das polícias durante as operações.

A visita também o objetivo de acolher e informar a população dessas comunidades sobre seus direitos e conferir a legalidade da ação policial.

“Esclarecer a população sobre seus direitos, mapear os danos pra que a gente possa atuar em situações como essa, quando a polícia destrói a casa de um morador, e claro saber da legalidade da ação policial. Saber, por exemplo, se houve indícios de execução”, afirma Thales Arcoverde, da Defensoria Pública da União. Ele ressaltou ainda que algumas medidas já estão sendo tomadas para diminuir a letalidade dessas ações. “Há organizações, como a OAB, que já estão representando o governador do Rio, Wilson Witzel junto ao Ministério Público Federal, que eventualmente pode ser processado por essas condutas”.

“O que a gente tem visto é um aumento de letalidade dos agentes de segurança pública não só no Rio, mas no Brasil, fruto de uma política que legitima esse tipo de intervenção. É importante que a gente destaque sempre que o papel da segurança pública é a preservação da vida, e não colocar vidas em risco, independente de quem seja. É importante que os gestores públicos se desafiem a propor uma política de segurança pública que dê efetividade as ações policiais mas que não viole  direitos. Hoje, o que se vê, é a produção de um discurso que alimenta essa prática. Isso é uma perversidade ao povo negro, pobre e de favela”, afirmou Pedro Strozemberg, ouvidor da Defensoria Pública do Rio.

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