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Réver: "Aqui no Flamengo estamos muito bem servidos de lideres"

Zagueiro fala da carreira, família e Maurício Barbieri

Por Rosária Farage em 08/07/2018 às 19:18:09

(FOTO: Gilvan de Souza/ ASCOM CR Flamengo)

Ele é tímido em ambientes desconhecidos, mas alegre e brincalhão com o elenco do Flamengo, time para o qual veio transferido do Internacional há dois anos e se tornou o capitão. A esposa inclusive reclama da sua introversão nos acontecimentos sociais onde vão juntos. Mas é da sua natureza só se soltar quando conhece bem as pessoas. 

Também é comedido nas entrevistas, talvez porque saiba o peso que tem suas respostas diante da maior torcida do país e da liderança que exerce dentro e fora de campo. E ao falar com exclusividade ao Portal Eu, Rio! deu a impressão de preservar sua intimidade e medir um pouco as palavras, revelando tudo quase que na medida.

Por outro lado se mostrou muito sincero em relação a opinião sobre a efetivação do técnico Maurício Barbieri pela diretora do Flamengo e contou bastante sobre a carreira, inclusive como funciona sua liderança e quem são os jogadores que o ajudam na função de capitão. 

Podemos afirmar que o Perfil do Capitão Réver do Flamengo é de um homem amadurecido e bem instruído em relação a imprensa. Que começou tarde no futebol, mas que pretende continuar no esporte além da carreira de jogador. Que tem como lazer o descanso em família e como lembrança mais marcante o primeiro título na carreira, a Copa do Brasil pelo Paulista. 

E embora o zagueiro tenha já no currículo outras conquistas importantes (Libertadores, Recopa, Copa do Brasil e Campeonato Mineiro pelo Atlético; Gaúcho e Recopa Gaúcha pelo Internacional; Copa das Confederações e dois Superclássicos das Américas pela Seleção Brasileira), ainda falta alegrar o torcedor rubro-negro com a tão sonhada Libertadores e o Brasileirão de 2018. 

"Podemos esperar um Flamengo totalmente agressivo, em busca de títulos como sempre. Um Réver também muito aguerrido. Vou fazer o melhor para defender as cores do Flamengo. Quem sabe Deus não nos coroa com grandes títulos este ano?", afirma o capitão sobre a volta após a Copa do Mundo. 

Réver está totalmente curado da lesão no ombro, pronto para entrar em campo contra o São Paulo na quarta-feira, 18 de julho, no Maracanã. Dependendo apenas da avaliação do treinador. "Cabe a ele a decisão", revela o capitão. Confira a entrevista abaixo, na íntegra.  

Como relaxar e manter o equilíbrio emocional diante de tantas cobranças?

Só o fato de você querer se tornar um jogador de futebol, já inicia uma pressão muito grande. Devido a grande concorrência, hoje uma criança a partir de quatro anos já estimulada pelos pais as ser um atleta profissional no futuro. A pressão começa cedo e já vem de dentro de casa. E poucos conseguem alcançar o ápice. A carreira é curta, se paga um preço alto, mas é gratificante poder levar alegria para as pessoas. Nós jogadores temos a felicidade de alegrar o povo brasileiro, que é sofrido, com o que fazemos dentro de campo. Mas para relaxar e manter o equilíbrio emocional, eu procuro aproveitar ao máximo os momentos com a família. Até tento excluir o futebol dentro de casa. Pois quando saímos, mesmo pessoas próximas, querem saber da rotina da equipe e como tudo funciona no Flamengo. Já com meus filhos e esposa, acabo deixando assuntos relacionados a profissão de lado.

Zagueiro leva vantagem na hora de comandar?

Não. Porque são os goleiros que tem a visão mais ampla do time em campo. Aqui no Flamengo estamos muito bem servidos de lideres, cada um com seu perfil. Até porque o capitão não é o cara que fica gritando o tempo todo. Aqui é a nossa casa, não precisa mostrar autoridade. Não é preciso pedir aos berros, até porque o líder não precisa ser autoritário. Muito pelo contrário, gritar demonstra descontrole. 

Pode nos dar um apanhado de toda carreira?

Comecei um pouco tarde no futebol. Dei inicio a carreira perto dos 18 anos. Hoje com essa idade o atleta já está estourado e sendo vendido para Europa. Tive passagem pelo Paulista de Jundiaí, onde acabei sendo campeão. E acho que foi o título mais difícil da minha carreira, porque fui campeão da Copa do Brasil com um time de menor expressão no cenário nacional. Passei um ano e meio no Grêmio, que me revelou para o Brasil e o mundo, tanto que tive até uma passagem pelo futebol alemão. Depois retornei, indo para o Atlético Mineiro e tive várias conquistas. Também tive momentos difíceis e conturbados lá, porque muita gente acha que o jogador de futebol tem uma vida fácil, mas não é bem assim. Também temos dificuldades, momentos de fraquezas. Então, passei por isso no Atlético, mas foi o clube onde mais conquistei títulos. Depois fui transferido para Internacional e estou no Flamengo, buscando títulos importantes como já tive ao longo da carreira.

Como é seu relacionamento com o elenco?

O dia a dia no Flamengo é fantástico. Estou há dois anos aqui e tudo que falavam sobre o ambiente é totalmente ao contrário. O jogador chega com uma imagem que vendem lá fora e a verdade é oposta. Então fico feliz de estar aqui, viver este ambiente e contribuir para ele. Aqui também tem outros lideres e minha liderança é fruto de tudo que já vivi na carreira. Coisas que me fizeram crescer como atleta. Conto com outros jogadores que me ajudam na liderança fora de campo. Até porque o futebol evoluiu de uma maneira, que o clube tem um trabalho onde os mais velhos ajudam na formação dos mais novos. Procuramos evoluir para as conquistas pessoais e coletivas. 

Qual sua opinião sobre a efetivação do Barbieri pela diretoria do Flamengo?

O jogador não define nada. Estamos no mesmo barco que o treinador, seja ele experiente ou não. Não determinamos sobre efetivação, até porque não estamos sendo pagos para isso. Isso só gera muito questionamento, mas nós jogadores deixamos claro que independente do treinador, vamos procurar fazer o melhor para o Flamengo. Acho que a diretoria optou pela efetivação do Mauricio Barbieri devido ao que ele demonstrou no seu dia a dia aqui. E até mesmo o torcedor acabou vendo que a diretoria acertou pela efetivação, justamente por não ter um nome que agradasse no mercado naquele momento. Assim como um jogador, o treinador aproveitou a chance que apareceu e hoje está colhendo os frutos de tudo aquilo que ele plantou. Ficamos muito felizes por tudo que está acontecendo, principalmente pelo Mauricio. 

Como é seu relacionamento com o atual treinador?

É muito bom. Independente de ser o Mauricio hoje o nosso primeiro comandante. A dois meses atrás o relacionamento era o mesmo ou até melhor por ter mais liberdade, por ele chegar e cobrar o nosso trabalho. Isso prova que ele estava preparado para assumir este cargo. E hoje nós e os torcedores estamos satisfeitos com o que o Mauricio vem fazendo.

Que qualidades você observa no Maurício Barbieri para levar o Flamengo a liderança do Campeonato Brasileiro?

Acredito que tenha sido fruto do trabalho. Ele se preparou para que se tivesse a oportunidade, agarra-la. Treinador novo e de pensamento renovado que faz toda diferença. A maneira de trabalho e a intensidade que se coloca no dia a dia é uma característica dele e uma qualidade muito boa. Vejo uma evolução muito grande para o futebol com treinadores nesse perfil. 

Poderia falar das dificuldades que enfrenta como capitão?

A responsabilidade de ser o capitão de uma grande equipe existe. Mas divido a liderança com alguns jogadores, entre eles Diego, Diego Alves e Juan. Eles têm experiência, rodagem e características de lideres. E isso vem dando certo, tanto que o time esta crescendo. E nosso desejo é elevar ainda mais o Flamengo no cenário do futebol.

Que valor tem para você as convocações e os jogos na Seleção Brasileira?

Todos esperam fazer um trabalho bem feito em suas equipes e serem coroados com uma convocação para Seleção Brasileira. Tive a felicidade de participar de alguns jogos e competições.  Tive também o privilégio de conquistar títulos com a camisa da Seleção (Copa das Confederações FIFA 2013 e Clássico da Américas 2011 e 2012). É algo que não tem preço e você leva para o resto da vida. Fico feliz de ter alcançado isso na minha carreira, até porque chegar a Seleção no chamado país do futebol é muito difícil.

Você acredita que poderia ter ido mais longe se não fosse as lesões?

Difícil tentar avaliar o que já passou devido a lesões. É o pior momento do atleta. Se pudesse evitar, principalmente para ter uma sequência maior na Seleção, faria o possível. Mas agora é pensar no futuro, me preparando e fortalecendo da melhor maneira. 

Vai jogar contra o São Paulo, na primeira partida do Flamengo após a Copa do Mundo?

Tive uma lesão no ombro que me deixou fora dos gramados durante um mês. E com a parada da Copa, serão dois meses parados. Isso te deixa um pouco pra trás. Mas hoje treino normalmente, sem nenhum incômodo. Estou totalmente a disposição do treinador e cabe a ele a decisão. Ele vai definir a equipe de acordo com seu pensamento, colocando quem ele achar que está no melhor momento. Mas estou a disposição e espero estar em atividade durante o ano todo sem novas lesões. 

Como você classifica a importância da família na vida do atleta?

A família é a base de tudo, não só para o esporte, mas também para a vida. São as pessoas que vão te receber sempre com sorriso no rosto, independente de vitória ou derrota. Isso acaba fazendo muito parte da nossa carreira. Se eu tivesse um botão para ligar e vencer todos os jogos seria ótimo. Mas como não tem, procuro errar o menos possível. Então defino minha família, esposa e filhos, como ponto crucial. Eles sempre tem um carinho que dá carga nova para chegar no trabalho e dar continuidade. 

Você aceitaria uma proposta da Arábia Saudita de forma direta ou teria que passar pelo crivo da família?

É difícil avaliar algo que não seja palpável. Acompanhando as notícias, o mercado Árabe vem crescendo muito. Avaliar proposta de outros jogadores é uma coisa, mas é diferente quando é com a gente. Então não tem como avaliar. No futebol o atleta não pode viver a doce ilusão do que será. São coisas tentadoras. Mas não da pra pensar se vai ou não acontecer.

Você acha que vale o sacrifício de ficar longe da família pela chamada independência financeira?

O jogador de futebol tem a rotina de ficar longe da família. Nem todos tem o privilégio de estar perto, principalmente o início longe dos pais. Acaba amadurecendo cedo e criando uma casca para poder viver longe dos familiares. Isso pode facilitar a ida desses atletas para o outro lado do mundo, que acabam tendo facilidade de adaptação e conseguem ficar longe dos familiares.

O que o torcedor rubro-negro pode esperar do Réver e do Flamengo no retorno aos gramados?

Podem esperar um Flamengo totalmente agressivo, em busca de títulos como sempre. Um Réver também muito aguerrido. Vou fazer o melhor para defender as cores do Flamengo. Quem sabe Deus não nos coroa com grandes títulos este ano?

O que você gosta de fazer além de jogar futebol?

Ficar em casa com a família descansando, até porque o momento tem sido de muitas viagens. Tenho me dado ao luxo de curtir meus filhos porque essa fase, da Alicia com 8 anos e do Réver Júnior com 4, acaba passando muito rápido. Procuro aproveitar ao máximo antes que cresçam e queiram sair, na adolescência e juventude, sem se preocupar com os pais. Quero guardar bastante recordações desta época na memória.  A menina não é tão ligada, mas o menino, quando estou em casa só quer saber de jogar futebol (risos). Eles são muito novos e ainda não tem muito entendimento sobre o esporte, por isso não comentam a respeito. 

Você já teve ou pretende ter outras profissões além da atual como jogador de futebol?

Trabalhei em fábrica de móveis montando guarda-roupas. Fui servente de pedreiro e acredito que tenha sido a mais difícil das profissões que exerci, mas era o que tinha no momento. Já pós-carreira ainda não decidi. Mas é algo que já tenho que pensar, embora ainda seja cedo, para quando acabar não ser pego de surpresa. 

Existe uma preparação e projeção para o que virá após o encerramento da carreira?

Estou me preparando para que o fim da carreira não aconteça tão rápido. Mas como minha vida (quase) toda foi no futebol, se eu tiver sabedoria e puder continuar trabalhando no meio será bom. Melhor que outra coisa fora. E é algo que já estou vendo junto a minha família, amadurecendo para continuar no esporte assim que encerrar minha carreira.

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