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Justiça Militar apura a morte de músico e catador fuzilados por soldados

Na ocasião, o carro onde estava o músico e sua família foi confundido pelos militares com um veículo usado por bandidos

Por Leonardo Pimenta em 22/05/2019 às 12:48:54

O carro onde estava o músico e sua família foi confundido pelos militares com um veículo usado por bandidos. Foto: Reprodução

A 1ª Circunscrição da Justiça Militar, no Rio de Janeiro, ouviu, na tarde desta terça (21), oito testemunhas da ação promovida contra militares do Exército em abril e que levou à morte do músico Edvaldo dos Santos e do catador Luciano Macedo, após o disparo de mais de 200 tiros contra um carro branco em Guadalupe, Zona Norte do Rio. Na ocasião, o carro, um Ford Ka Sedan branco, onde estava o músico e sua família, foi confundido pelos militares com um carro do mesmo modelo usado por bandidos para o roubo de um outro automóvel. 

Os nove militares envolvidos na morte do catador e do músico estão presos temporariamente, enquanto o caso é apurado. Na audiência, o Ministério Público pediu que fossem ouvidos o homem que teve o carro roubado, o pai do músico, moradores da localidade, uma amiga e as viúvas dos mortos no caso.

O contador Marcelo Monte Bartoly foi a 1ª testemunha a depor e narrou no tribunal como procurou os militares, após o roubo do próprio carro. Segundo Marcelo, três homens saíram de um carro, modelo Ford Ka Sedan e roubaram seu carro um Honda City. O contador disse que correu do local onde foi assaltado e encontrou um blindado com os militares, aos quais relatou o roubo. 

Logo depois, ele ouviu disparos de fuzil, mas não soube precisar se eram dos bandidos ou dos soldados. Ele foi chamado ao local e viu um carro semelhante ao dos assaltantes, mas que pertencia ao músico Evaldo dos Santos. Os soldados do Exército perguntaram se ele reconhecia algum dos criminosos entre as pessoas baleadas, porém o homem disse que não reconhecia nenhuma das vítimas.

A segunda testemunha a depor foi Luciana dos Santos, viúva do músico Edvaldo dos Santos. A mulher muito abalada com a lembrança da morte do marido deu um depoimento emocionado sobre o caso. 

"Eu desci do carro desesperada em busca de ajuda. Muitas pessoas vieram nos socorrer, mas quando os militares se aproximaram, já atirando, as pessoas correram com medo. Os soldados debocharam, riram e não prestaram ajuda", disse Luciana dos Santos.

Luciana contou também que, quando foram feitos os disparos, o filho do casal estava no banco de trás do veículo, abraçado ao pai. Ela chegou a pedir calma ao marido, após ser baleado. 

"Eu pedia para ele manter a calma porque vi que se tratava do Exército e que eles estavam vindo para ajudar, mas não foi o que aconteceu", lembrou a mulher de Edvaldo emocionada.

Em seguida, depôs a terceira testemunha, Dayane Ohara, viúva do catador Luciano Macedo.

Segundo Dayana, ela e seu marido ouviram os tiros quando estavam chegando ao lugar onde foram feitos os disparos. O catador pediu que a mulher se abrigasse e foi ajudar Evaldo. De acordo com Dayana, os militares chegaram a acusar o catador de ser um dos bandidos e foram os moradores da localidade que defenderam o homem. 

"Foram os moradores que negaram o envolvimento. Estávamos catando madeira para a construção do nosso barraco", disse Dayana Ohara.

No final da audiência, o advogado de defesa dos militares, Paulo Henrique Pinto de Melo, fez uma declaração à imprensa, defendendo seus clientes. 

"Faltam muitas diligências, muitos interrogatórios, e ninguém aqui demonstrou que os militares são executores, são assassinos. Eles agiram em legítima defesa de terceiros", disse o advogado. 


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