Quem nunca teve que recorrer aos velhos sebos para conseguir aqueles livrinhos baratos e até aqueles títulos que tornaram-se raros nas livrarias convencionais e que só conseguimos encontrar naquelas estantes das livrarias especializadas? Além de serem e possuírem um acervo único, sebos, livrarias e cafés são marcados pela por sua estética e estilo nostálgico, bucólico e aconchegantes e também por suas histórias que se confundem com o próprio surgimento das cidades e seus polos culturais. Por tudo isso, a guia de turismo Juliana Fiuza criou o walking tour“Revelando Um Rio de Livrarias, Sebos e Cafés”, que passeará pelos principais marcos livreiros do Rio de Janeiro.
Muita gente não sabe, mas a origem dos sebos é a origem das livrarias no Rio de Janeiro, que começaram no período colonial. Era comum que as pessoas encomendassem livros aos seus parentes que viajavam de Portugal para o Rio, quando não possuíam um, recorriam à figura do livreiro viajante, que trazia os livros e vendia por toda a colônia. A origem da palavra sebo possui inúmeras versões, a mais conhecida e aceitada é que seria uma metonímia sobre livros que são muito manuseados ficarem ensebados. Quem conta esta história, entre outras, é Juliana, que foi a fundo nas pesquisas e nos livros para montar o roteiro do passeio cultural:
“Eu recebi um folheto com a referência de todos os sebos e livrarias do Rio, alguns eu não conhecia, mesmo frequentando mensalmente a maioria deles. Como já faço inúmeros passeios no meio literário, resolvi criar um que falasse dos sebos e das livrarias, sem excluir os cafés que coexistem em algumas. A pesquisa se concentrou então e livros escritos por cronistas, como João do Rio, Luís Edmundo, Machado de Assis e Lima Barreto, que se preocuparam em registrar o Rio e sempre abriam um espaço para a literatura. Artigos acadêmicos também foram essenciais”, afirma a guia de turismo.
O tour tem a concentração inicial no Theatro Municipal e passa pelos principais sebos da cidade: Academia do Saber, Letra Viva e Antiqualhas. E também pelas maiores e mais antigas livrarias alternativas: Folha Seca e Leonardo da Vinci. Esta última, por exemplo, existe há mais de cinquenta anos e atualmente é comandada por Daniel Louzada que trouxe novos ares para a livraria, como café e coleções interativas e instigantes. Um exemplo: uma das bancadas da livraria ficam livros embrulhados em papel, de forma que é impossível saber o livro que está dentro. No embrulho, Daniel escreve frases, pequenos resumos ou figuras. O leitor, caso goste, compra sem saber qual é o livro que está levando.
"Trabalho com livros há muito tempo. A Da Vinci foi a oportunidade de realizar um sonho pessoal e continuar trabalhando com livros em algo que fizesse sentido para mim, uma livraria independente que não fosse um mero entreposto de venda, mas um espaço de discussão e troca para a comunidade, para a cidade. Acredito que esse é o presente e o futuro possível para o comércio de rua com as nossas características. A Da Vinci se baseia, em primeiro lugar, no espírito que a livraria cultivou e desenvolveu ao longo de décadas. Esse é o pilar fundamental. Em segundo lugar, estamos sempre atentos ao que as livrarias independentes estão fazendo no mundo e no Brasil para se manter em conexão com os leitores e cidadãos", afirma Daniel
Três histórias cariocas que ilustram como o Rio de Janeiro mudou o mercado editorial no Brasil:
1) Outra descoberta de Juliana foi a forma como os livros eram vendidos e que contrasta com o cenário atual do setor livreiro. Em "A Alma Encantadora das Ruas", João do Rio detalha sobre os livreiros, que não só eram muitos pelas ruas, mas que também recitavam versos e histórias para venderem as obras: “O curioso é que ele informa que era uma profissão muito rentável, que o lucro do dono de uma livraria era de seiscentos por cento, e que a comissão dos livreiros ambulantes era ótima, portanto, se vivia tranquilamente só vendendo livros. Hoje vivemos em uma crise do mercado editorial, e se passaram só cem anos”, explica Juliana.
2) A livraria José Olympio, com fundador homônimo, foi criada em 1931, em São Paulo, mas logo depois, em 1934, foi transferida para o Rio, na Rua do Ouvidor, 110. Foi a maior editora do país nas décadas de trinta e quarenta. Entre os trabalhos editoriais mais proeminentes de Olympio estão uma coleção de José de Alencar, de 1951; e, em 1952, publicou a primeira tradução brasileira de Dom Quixote.
3) Numa época em que o comércio de livros era dominado por estrangeiros: Garnier (francês), Laemert (irmãos e alemães), surge o fluminense Pedro da Silva Quaresma, que comprou a Livraria do Povo. Por cinquenta anos foi o único livreiro brasileiro. Ele sentiu que tinha um público-alvo a ser conquistado: a população semiletrada e ofereceu um livro fácil de compreensão e bem prático de ser lido. Propõe então um livro de cunho popular em formato reduzido, o que chamamos hoje de Pocket Book. Acessível também no preço. Ficaram conhecidos como “Edições Quaresma”.
Estas e outras histórias podem ser aprendidas em “Revelando Um Rio de Livrarias, Sebos e Cafés” em 31 de maio e é dedicado a todos aqueles que amam livros, cultura e história, além de gostarem daquele papo cabeça ou não em um ambiente aconchegante e acolhedor, como muitos desses sebos e livrarias são. O valor é o pedido de uma contribuição a partir de R$10, que pode ser pago no dinheiro ou cartão, para a manutenção do projeto e remuneração dos guias, que não recebem qualquer tipo de patrocínio e o projeto é financiado com as contribuições dos próprios participantes. Outras datas estão previstas para acontecer o mesmo tour, para mais informações basta entrar em contato com a guia de turismo Juliana Fiuza pelo telefone e whatsapp 21 98091-2606.
Serviço:
Evento: Revelando um Rio de Livrarias, Sebos e Cafés;
Walking tour que revela as origens dos livreiros do Rio de Janeiro através de visitações a sebos, livrarias e cafés históricos do centro da cidade;
Data: 31 de maio de 2019 (Sexta);
Horário: 15h;
Duração: 3h aprox.;
Começa: Escadaria do Theatro Municipal;
Termina: Livraria Folha Seca (Rua do Ouvidor);
Guia de Turismo: Juliana Fiúza;
Sugestão do que levar: Água, sapatos e roupas confortáveis;
Valor: Contribuições a partir de R$10. É possível pagar em dinheiro e cartão de crédito ou débito. Em caso de contribuição acima de R$20, é possível parcelar o valor.