Portal de Notícias Administrável desenvolvido por Hotfix

Nas ondas da Resistência

Sucesso de "Ainda Estou Aqui" renova interesse pela trajetória de Rubens Paiva, morto pela ditadura

Gravação no dia do golpe, com tropas rebeladas na rua, mostra deputado, pela Rádio Nacional, chamando população a enfrentar golpistas


Calvário de Rubens Paiva, cassado, sequestrado, torturado e morto pelo regime militar, motivou luta da mulher, Eunice Paiva, pelo reconhecimento da responsabilidade do Estado no desaparecimento do mar

A atriz Fernanda Torres conquistou o Globo de Ouro por sua atuação como Eunice Paiva no filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles. Eunice Paiva deixou o lugar de dona de casa para se transformar em uma referência na luta pelos direitos humanos no Brasil depois do desaparecimento e assassinato do seu marido, Rubens Paiva, pela ditadura militar.

Rubens Paiva foi deputado federal por São Paulo e era da base de apoio do presidente João Goulart, apeado da presidência da República pelo golpe de 1964. Na madrugada do dia 1º de abril de 1964, com o golpe em andamento, Paiva, fez um apelo ao vivo pela Rádio Nacional, em defesa da democracia e do mandato de João Goulart.

"Me dirijo especialmente a todos os trabalhadores, todos os estudantes, e a todo o povo de São Paulo tão infelicitado por este governo fascista e golpista que neste momento vem traindo seu mandato e se pondo ao lado das forças da reação".

Apelo popular

O então deputado defendeu o programa das Reformas de Base, um conjunto de propostas estruturais com foco na redução das desigualdades e que tinha a reforma agrária na linha de frente e acusou setores econômicos de se articularem contra o projeto:

"O nosso presidente, ao tomar as medidas tão reclamadas por todo o nosso povo, medidas que nos conduzirão indiscutivelmente a nossa emancipação política e econômica definitiva, realmente prejudicou os interesses de uma pequena minoria de nossa terra, pequena minoria, entretanto, que detém um grande poder, todo o poder econômico deste país, todos os órgãos de divulgação, os grandes jornais e as estações de televisão. É indispensável, portanto, que todo o povo brasileiro, os trabalhadores e os estudantes de São Paulo, em especial, estejam atentos às palavras de ordem que emanarem aqui da Rádio Nacional e de todas as outras rádios que estejam integradas nesta cadeia da legalidade."

A declaração que foi ao ar ao vivo na Rádio Nacional só voltou a público quase 50 anos depois, em março de 2014 (EBC | Ouça áudio exclusivo em que Rubens Paiva defende governo Jango no dia do Golpe de 64).

Dias depois dessa declaração, em 10 de abril de 1964, o próprio Rubens Paiva teve o mandato cassado e, em janeiro de 1971, entrou para a lista dos mortos e desaparecidos políticos.

Só 25 anos depois, em 1996, Eunice Paiva conseguiu que o país emitisse o atestado de óbito do seu marido. O percurso da ativista até esse momento, passando pela sua própria prisão e a prisão da sua filha Eliana Paiva, então com 15 anos, é o tema do filme "Ainda Estou Aqui", que também concorria a Melhor Filme de Língua Não Inglesa, mas nesse caso quem faturou o prêmio foi o francês “Emilia Perez”.

A premiação aconteceu em Los Angeles, nos Estados Unidos, neste domingo (5/1).


RadioAgência Nacional

Ainda Estou Aqui Globo de Ouro Rubens Paiva Rádio Nacional

Assine o Portal!

Receba as principais notícias em primeira mão assim que elas forem postadas!

Assinar Grátis!

Assine o Portal!

Receba as principais notícias em primeira mão assim que elas forem postadas!

Assinar Grátis!