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O óbito de um visitante nas escadarias do Complexo do Alto Corcovado, ocorrido na madrugada deste domingo, reacendeu o debate sobre a gestão do espaço, administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O episódio ocorre em meio a projetos de lei que buscam transferir a área para a Arquidiocese do Rio, responsável pelo Santuário Cristo Redentor, e revela falhas críticas na infraestrutura de segurança e atendimento médico.
O visitante subiu pela escadaria comum às 7h39 e passou mal. O SAMU foi acionado imediatamente, mas chegou apenas às 8h13. O posto médico do local, sob responsabilidade do ICMBio, estava fechado no momento do fato, conforme relatos preliminares. A ausência de ambulância de plantão, brigadistas e equipes de socorro reforça críticas à capacidade operacional do complexo, que registrou recorde de visitação em janeiro (20 mil pessoas/dia).
A Arquidiocese do Rio, que construiu o complexo no século XX, atribui a tragédia ao "descaso e incompetência do ICMBio". Dois projetos de lei (PL 1.234/2024 na Câmara e PL 5.678/2024 no Senado) tramitam para transferir o Alto Corcovado à Mitra, alegando ineficiência na gestão ambiental e turística do órgão federal.
O ICMBio mantém receitas de R$ 66,8 milhões anuais com ingressos e contratos com concessionárias, mas enfrenta questionamentos sobre a aplicação desses recursos. A ausência de horários estendidos para o posto médico e a falta de acessibilidade universal contrastam com a permissão para eventos comerciais, como shows e ações de marketing, que descaracterizam o espaço, segundo o próprio instituto.
A Arquidiocese denuncia que propostas para melhorias, incluindo a instalação de uma ambulância permanente, estão travadas sem justificativa legal. O ICMBio, por sua vez, argumenta que a Mitra não possui expertise para gerir áreas de conservação, citando a permanência de andaimes no pedestal do Cristo por anos como exemplo de gestão inadequada.
A transferência do complexo à Igreja geraria precedente para revisão de limites de outros parques nacionais, segundo alertas do Ministério do Meio Ambiente. Ambientalistas temem que a exclusão da área do Parque Nacional da Tijuca permita maior exploração comercial, enquanto a Arquidiocese defende que a medida corrigiria "décadas de abandono".
A família do falecido recebe apoio do santuário para os trâmites funerários, enquanto o corpo é velado na Capela Laudato Si. O caso deve intensificar pressões por auditorias nas condições de segurança do complexo e acelerar a tramitação dos projetos de lei no Congresso.