Uma denúncia do Ministério Público Estadual detalha como PMs torturaram cinco vítimas , entre elas uma criança de 3 anos de idade, para obter detalhes sobre um roubo milionário ocorrido em 2014, em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos. Pedaços de madeira foram introduzidos no ânus de vítimas e a criança teve apontada arma para a cabeça. Uma mulher chegou a ser estrangulada.
A Justiça só aceitou esse ano denúncia contra dez PMs suspeitos de sequestro, cárcere privado e tortura. Nove foram presos em março.
O crime foi cometido em 7 de julho de 2014 com o objetivo de obter informação e confissão das vítimas, a respeito da localização do dinheiro roubado dias antes da transportadora de valores Transexpert.
O assalto à empresa ocorreu no dia 3 de julho do mesmo ano na Rodovia RJ 124 – Via Lagos, Km 55, Praia Linda, São Pedro da Aldeia. Na ocasião, foi roubado R$ 4 milhões que estavam sendo transportados em um veículo Toyota Corolla blindado.
Os PMs envolvidos receberam de um informante dados sobre o paradeiro dos ladrões. Duas das vítimas foram levadas para um imóvel onde deram início a um “interrogatório”, totalmente ilegal, com a utilização de sacos plásticos na cabeça de dois homens, para que eles indicassem a localização do dinheiro.
Sem sucesso no ‘interrogatório’, os PMs aumentaram o nível de sofrimento físico, promovendo a introdução de um cabo de vassoura no ânus das vítimas.
Os dois homens torturados foram colocados no porta-malas de um carro e seguiram em direção à residência de um dos suspeitos do roubo no bairro de Unamar, em Cabo Frio. No local, foram encontradas uma mulher e uma criança. A mulher foi estrangulada e levou tapas no rosto para falar sobre a localização do dinheiro.
Na sequência, os dois homens que haviam sido torturados foram levados para um lugar ermo onde alguns policiais simularam efetuar disparos de arma de fogo na cabeça das duas vítimas.
Um dos PMs denunciados também apontou uma arma para a cabeça da criança. A mesma mulher que fora agredida voltou a ser estrangulada, levar um tapa no rosto e um soco no tórax, além de xingamentos.
Diante da recusa das pessoas de revelar as informações exigidas pelos PMs, apesar de experimentarem sofrimentos extremos, os policiais se dirigiram à 126ª DP com as vítimas “detidas” para lavratura do auto de prisão em flagrante nº 126-04800/2014, cerca de 16 horas depois do início da diligência ilegal e criminosa.
A Justiça determinou em 20 de fevereiro a suspensão do exercício de função pública dos PMs acusados a fim de que eles, até a sentença definitiva ou ordem de contra-cautela, não fossem escalados na atividade policial , mas somente em serviços prestados exclusivamente nos ambientes internos da PMERJ.
No dia 12 de março, porém, uma operação do Ministério Público Estadual prendeu nove dos PMs suspeitos.