No último sábado (19), a Baía de Guanabara foi novamente alvo de um desastre ambiental. Os pescadores da Colônia Z-10, da Ilha do Governador, filmaram um novo vazamento de óleo, com manchas que se assemelhavam a diesel, densas e grossas, poluindo as águas da região. O incidente ocorreu próximo à Ilha Seca e à foz do Rio Jequiá, uma área sensível que concentra um grande número de indústrias e terminais petroleiros.
A proximidade do vazamento com o Rio Jequiá, que abriga um importante manguezal, aumenta a preocupação com os danos ao ecossistema local. A área é uma Unidade de Conservação Ambiental Municipal, Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana (APARU) do Jequiá, criada pelo Decreto no. 12.250/1993, com 147 hectares de rica biodiversidade.
A região onde o vazamento foi avistado é conhecida pela presença de diversas empresas com histórico de problemas ambientais. Entre elas, a empresa COSAN (RAÍZEN – MOOVE), que causou um grande incêndio industrial devido ao armazenamento de produtos químicos na fábrica, poluindo o ar em toda a região, no dia 8 de fevereiro deste ano. A área também abriga a unidade da Shell e o terminal de combustíveis da Estação Rádio da Marinha. Moradores do entorno relatam mau cheiro de produtos químicos e pescadores denunciam vazamentos de óleo recorrente oriundos dessas empresas.
Diante da nova ocorrência, o Movimento Baía Viva, organização socioambiental fundada em 1984, encaminhou os vídeos filmados, no último sábado (19), e um pedido de providências a diversos órgãos públicos, incluindo o Instituto Estadual do Ambiente (INEA), a Secretaria Estadual do Ambiente, o IBAMA, o Instituto Chico Mendes e a Capitania dos Portos da Marinha do Brasil. O objetivo é que os órgãos competentes realizem uma ação efetiva para identificar os responsáveis pelo vazamento e tomar as medidas cabíveis.
O Movimento Baía Viva destacou a situação crítica enfrentada pelos pescadores artesanais da Baía de Guanabara, que já sofrem com a insegurança alimentar e o empobrecimento crescente devido à diminuição da pesca. A organização critica a omissão do poder público e a impunidade ambiental, ressaltando que a Baía de Guanabara possui proteção legal na Constituição Estadual, onde é reconhecida como área de relevante interesse ecológico e de preservação permanente, além do reconhecimento internacional como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 2012.
"O que nós vemos, infelizmente, é um estado de omissão generalizada por parte do poder público e essa impunidade ambiental precisa cessar", afirma Sérgio Ricardo Potiguara, coordenador do Movimento Baía Viva. Ele defende uma atuação mais firme do poder público, do Ministério Público Federal e do Ministério Público do Estado na proteção da Baía de Guanabara, de seus ecossistemas e dos territórios pesqueiros.
Procurado pelo Portal Eu, Rio!, o INEA emitiu uma nota com o seguinte comunicado:
“Técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) vistoriaram, no último sábado (19), a Baía de Guanabara, nas proximidades da Ilha do Governador, para checar denúncia de vazamento de óleo.
Com apoio de uma embarcação da Capitania dos Portos, a equipe percorreu a porção marítima sudoeste da Ilha do Governador, inclusive o percurso em frente à Ilha Seca, a foz do rio Jequiá na Baía de Guanabara, e a frente de duas grandes empresas. No momento da vistoria, os técnicos não identificaram a presença do vazamento de resíduo oleoso.
Conforme as imagens registradas em vídeo pelo denunciante, a mancha tem aspecto iridescente (arco íris) e baixa viscosidade. Resíduos com essas características apresentam rápida dispersão quando na presença de radiação solar, do vento e da agitação do mar.
Em caso de avistamento de manchas de óleo em rios, lagoas e baías, o Inea orienta a população que informe ao plantão de emergência ambiental, no telefone (21) 98596-8770, que funciona 24 horas".