Quando o diabo veste farda

MPRJ busca cumprir nove mandados de prisão contra novo 'Escritório do Crime'

Inspirado na quadrilha do Capitão Adriano, bando chefiado por Ganso, integrado por mais dois PMs, atua como braço armado da cúpula do jogo do bicho


Operação contra novo Escritório do Crime busca cumprir nove mandados de prisão contra bando chefiado por ex-PM, voltado para eliminar rivais da contravenção. Foto: Ascom MPRJ

O Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (GAECO/MPRJ), com apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ), cumpriu, nesta quinta-feira (15/05), nove mandados de prisão contra denunciados por integrarem uma organização criminosa armada que atua nos moldes do antigo ‘Escritório do Crime’. Entre os alvos estão três policiais militares, lotados no 9º BPM (Honório Gurgel), no 39º BPM (Belford Roxo) e um preso no Batalhão Especial Prisional (BEP). Um deles é capitão da PM.

O novo grupo criminoso atuava sob ordens de lideranças da contravenção penal. As investigações do GAECO/MPRJ revelaram um esquema de venda de armas e munições apreendidas em operações da Polícia Militar. Os nove integrantes do 'novo Escritório do Crime' foram denunciados à Justiça por organização criminosa armada, sequestro e comércio ilegal de armas de fogo e munições.

De acordo com o GAECO/MPRJ, parte dos homicídios atribuídos à organização teve como pano de fundo disputas entre grupos criminosos. O denunciado Thiago Soares Andrade Silva, conhecido como Ganso, é apontado pelo GAECO/MPRJ como líder do novo grupo criminoso.

As denúncias do GAECO/MPRJ apontam o envolvimento do grupo com comércio ilegal de armas, sequestro e como responsável por, ao menos, dois homicídios com características de execução sumária, praticados à luz do dia e com uso de armamento pesado. Um dos crimes é o assassinato de Fábio Romualdo Mendes, surpreendido dentro do carro e atingido por vários disparos, em setembro de 2021, em Vargem Pequena, Zona Oeste do Rio. Outra morte foi após emboscada em uma via pública, no bairro de Realengo, que matou Neri Peres Júnior a tiros de fuzil, em 4 de outubro de 2021. Os mandados foram expedidos pelo Juízo da Auditoria da Justiça Militar e pela 3ª Vara Especializada em Organização Criminosa da Capital.

Bando chefiado pelo Capitão Adriano serviu de modelo para Ganso montar sua quadrilha

Um exemplo da atuação do 'Escritório do Crime' original é descrita na Operação Tanatos, deflagrada há cinco anos. A operação é resultante de três denúncias apresentadas pelo GAECO/MPRJ, que descrevem os crimes cometidos pelo grupo, que possuía ligação estreita com Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como 'Capitão Adriano', que exercia forte influência sobre o bando, o qual nutria verdadeira reverência a sua representatividade no submundo do crime. Cabe lembrar que Adriano foi denunciado pelo GAECO/MPRJ na operação “Intocáveis”, em 14 de janeiro de 2019, tendo sua prisão decretada. Logo, o 'capitão' tornou-se foragido da Justiça e acabou sendo morto por agentes do BOPE em 9 de fevereiro de 2020, durante operação visando sua captura, realizada pela PCERJ e a Polícia Civil da Bahia, na zona rural da cidade de Esplanada, no interior daquele estado.

Numa das denúncias apresentadas, descreve o MPRJ que na atuação do grupo criminoso há emprego ostensivo de armas de fogo de grosso calibre. A agressividade e destreza nas ações finais revelam um padrão de execução. Fortemente armados e com trajes que impedem identificação visual, tais como balaclava e roupas camufladas, os atiradores desembarcam do veículo e progridem até o alvo executando-o sem chances de defesa. 'Capitão Adriano' é apontado como mandante do homicídio de Marcelo Diotti da Mata, cuja execução, na noite de 14 de março de 2018, no estacionamento de uma hamburgueria na Barra da Tijuca, ficou a cargo do grupo criminoso agora denunciado. Diotti, que já havia sido preso por homicídio e exploração de máquinas de caça-níqueis, era visto como desafeto por seus executores.

O mesmo grupo criminoso é apontado como autor da tentativa frustrada de execução do PM reformado Anderson Cláudio da Silva ('Andinho'), em 6 de janeiro de 2018, na Rua Ribeiro de Andrade, em Bangu. O alvo, no entanto, não foi atingido pelos disparos. Após essa data, apurou-se que os denunciados, em diferentes dias, se deslocaram a outros endereços vinculados a Anderson, com o intuito de monitorar sua rotina, em busca de obter êxito em uma segunda investida criminosa, que veio a ocorrer em 10 de abril do mesmo ano.

A organização possui estrutura ordenada e voltada, sobretudo, para o planejamento e execução de homicídios encomendados mediante pagamento em dinheiro ou outra vantagem. Nesta hierarquia, Leonardo Gouvêa da Silva (vulgo 'MAD') exerce a chefia sobre os demais, competindo-lhe a negociação, o planejamento, a operacionalização e a coordenação quanto à divisão das tarefas criminosas a serem executadas por seus asseclas, sendo forte braço armado. Destaca-se ainda a atuação de Leandro Gouvêa da Silva (vulgo 'Tonhão'), irmão e homem de confiança de Leonardo, que atua como motorista do grupo, tendo ainda como incumbência o levantamento, a vigilância e o monitoramento das vítimas. Outros dois denunciados cumprem funções semelhantes, sendo ainda braços armados: João Luiz da Silva ('Gago') e Anderson de Souza Oliveira ('Mugão'), ambos ex-policiais militares.

Foram oferecidas três denúncias, sendo uma junto á 1ª Vara Especializada da Comarca da Capital, tendo sido expedidos mandados de prisão e busca e apreensão por crime de organização criminosa. A segunda, por crimes de homicídios, foi distribuída à 3ª Vara Criminal da Comarca da Capital, em face de Leonardo Gouvêa da Silva ('MAD'), Leandro Gouvêa da Silva ('Tonhão') e João Luiz da Silva ('Gago'), onde também foram expedidos mandados de prisão e de busca e apreensão. A terceira denúncia oferecida foi distribuída junto à 4ª Vara Criminal da Comarca da Capital, tendo como vítima de homicídio Marcelo Diotti da Matta, morto em 14 de março de 2018, na Barra da Tijuca. Cabe ressaltar que a investigação que originou as denúncias contou com técnicas inovadoras, sobretudo no aspecto de uso de tecnologias, em procedimentos autorizados pela Justiça. As provas que compõem as denúncias resultaram na deflagração da presente operação Tânatos.



Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro

GAECO denúncia prisão

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