Considerada a maior milícia do Rio, a Liga da Justiça planejava recrutar policiais militares para cuidar da segurança das áreas comandadas pelo grupo em Campo Grande e Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio; Duque de Caxias, na Baixada Fluminense; e Angra dos Reis, na Costa Verde fluminense.
O responsável por isso seria o PM Carlos Miranda Rangel, preso na semana passada suspeito de fazer parte da milícia. Segundo processo que tramita na 1ª Vara Criminal de Bangu, o pagamento dos PMs recrutados seria feito com lotes de terrenos que eram invadidos pela quadrilha.
O grupo tinha como uma de suas atividades a invasão de terrenos públicos ou privados, se utilizando de força física contra moradores ou ocupantes do local, visando obrigar a imediata saída do imóvel. Segundo as investigações, os milicianos vendiam esses terrenos sem a comprovação da propriedade ou posse legal.
Um dos milicianos é sócio em uma imobiliária, que ficaria encarregada da comercialização destes terrenos invadidos.
Controle de associações de moradores
Outra articulação feita pela milícia, comandada por Wellington da Silva Braga, o Ecko, que está foragido, era a escolha de presidentes das associações de moradores das áreas que controla.
Uma ré do processo é presidente da associação de moradores da comunidade Nova Jérsei, em Paciência, que foi determinada pela milícia para ocupar o posto. A ideia na verdade é passar aos moradores locais a impressão de que a cobrança das taxas de segurança é ´regularizada´, já que realizada pela entidade comunitária. Essa prática é comum em determinadas regiões dominadas pelo tráfico, adotada pelo grupo paramilitar para desvincular o caráter compulsório da medida, como se o morador tivesse a opção de não pagar sem sofrer retaliação.
A Liga da Justiça também planejava restringir o acesso em suas áreas de candidatos a vagas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro nas próximas eleições.
Cigarros contrabandeados do Paraguai
As investigações revelaram ainda que a milícia fazia a distribuição de cigarros contrabandeados do Paraguai aos comerciantes de toda a região metropolitana do Rio de Janeiro. Foram montadas empresas de fachada para comercializar esses produtos, no caso, duas tabacarias, uma em Campo Grande, outra em Santa Cruz. Era plano do grupo iniciar a distribuição e comercialização das mercadorias ilegais também no Estado do Maranhão.
O grupo também se utilizava de "laranjas" para realizar movimentações financeiras com o claro intuito de burlar os órgãos competentes em controlar as transações bancárias.
Dois agentes penitenciários foram presos na semana passada suspeitos de fazerem parte da quadrilha. As investigações indicam que eles eram responsáveis pelo elo entre milicianos presos e os que estão em liberdade. A venda de cigarros contrabandeados era feita também dentro das unidades prisionais.
Os milicianos realizavam rondas ostensivas em veículos sempre portando armas de fogo e contavam com o apoio de informantes para verificar a movimentação de viaturas policiais.
O processo judicial cita pelo menos dois homicídios cometidos pelo bando. Um de um agente penitenciário que tinha o apelido de Maisena e de um miliciano conhecido como Tiroteio JN.
Os autos do processo reforçam ainda que os milicianos cobravam taxas de seguranças de comerciantes e ambulantes, operavam a distribuição de sinal clandestino de TV a cabo e citam algumas da áreas da Zona Oeste entre elas Urucânia, Sete de Abril, Três Pontes, Rio da Prata, Rua Iaraquã, estradas do Cabuçu e Cachamorra, além do Km 32, em Nova Iguaçu, e áreas em Seropédica e Itaguaí, que são controladas pelo grupo.
A ação judicial que tramita em Bangu tem 22 réus. Eles respondem pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos ou valores. Foi decretada a prisão preventiva de todos. Doze deles foram presos na semana passada durante operação da Polícia Civil