O jornalista Glenn Greenwald, editor-chefe do portal The Intercept Brasil, depôs, nesta terça (25), em uma sessão da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, sobre as conversas entre o ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores no aplicativo Telegram. O jornalista foi sabatinado pelos deputados estaduais sobre a origem e o conteúdo das conversas. Segundo Glenn, se Moro estivesse nos Estados Unidos e tivesse o mesmo comportamento revelado pelas gravações, seria afastado do cargo e não poderia atuar como advogado.
"Nos Estados Unidos é impensável. Se um juiz fizesse uma única vez lá o que Sergio Moro fez aqui durante cinco anos, ele perderia o cargo e seria proibido de advogar", disse o jornalista.
Os deputados federais da bancada do governo questionaram a autenticidade das gravações e defenderam o ministro da Justiça Sérgio Moro. A deputada Kátia Sastre (PSL-SP) elevou o tom e disse que Glenn e a fonte deveriam ser presos pela divulgação do material. Glenn, em resposta, acusou a parlamentar de intimidação.
"Agradeço a deputada do governo, mas ela está no telefone. Pelo menos, ela teve coragem de vir falar na minha cara, ao contrário do que grande maioria dos membros do partido que estão escondidos atrás dos computadores. Ela me acusou de ser criminoso, disse que eu deveria sair preso daqui. Mas o que falta no discurso dela? Evidências, uma acusação. Não tem. Tem apenas a tática da intimidação. Em segundo lugar, este país tem uma Constituição que garante a liberdade de imprensa. Tem alguns países que jornalistas são presos por causa de reportagens. Felizmente esse não é o caso do Brasil", respondeu Glenn.
Já sobre a acusação do ministro Sérgio Moro de adulteração, o jornalista argumentou que o juiz entrou em contradição ao dizer serem falsas.
"Moro não está defendendo o comportamento que ele teve, porque é impossível ele defender. Ele está fazendo algo diferente, uma tática muito cínica, ele está tentando enganar o público, dizendo que o material é falso. O interessante é que nenhuma vez Moro disse que qualquer coisa que estamos publicando foi alterada ou não é autêntica. Ele está sempre dizendo "poderia ser alterado."
Durante a sessão, a oposição questionou a medida tomada pela Secretaria de Comunicação de não veicular, no canal de TV da Casa, o depoimento de Glenn Greenwald e somente na internet.
O Portal Eu Rio entrou em contato com a Assessoria de Comunicação sobre o caso, que respondeu apenas que "o evento com o jornalista Glenn Greenwald está sendo transmitido ao vivo pelo canal da TV Câmara no You Tube".
O depoimento do ministro da Justiça, Sérgio Moro, que seria dado, nesta quarta (26), sobre os áudios foi adiado para a próxima terça (2).