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Milícia buscava acordo com traficantes do CV que expulsava de Itaboraí

Milicianos seriam responsáveis por cerca de 50 desaparecimentos na cidade.

Por Mario Hugo Monken em 05/07/2019 às 11:07:59

Milícia de Itaboraí foi alvo de operação que resultou em 45 prisões. Foto: Divulgação

Apesar de ter expulsado traficantes do Comando Vermelho (CV) de diversas localidades de Itaboraí, a milícia que foi alvo da operação na última quinta-feira (4), que resultou em 45 presos, buscou acordo com bandidos da maior facção criminosa do Rio.

Segundo as investigações, uma advogada envolvida com o bando, juntamente com um policial militar, foi negociar uma espécie de acordo com o tráfico na Favela Reta Velha, para garantir a exploração do gás na região para um integrante da quadrilha, conhecido como Santana. Ele tinha ligação com traficantes, assim como o miliciano Chambinho.

Santana chegou a ligar para a sua mulher para pedir que intercedesse, junto ao comando do tráfico da Reta Velha, em favor do acusado Felipe Reboque, que havia sido capturado por traficantes daquela comunidade.

A milícia seria a responsável por cerca de 50 desaparecimentos na cidade. Surgiram informações de que os corpos das vítimas executadas pela quadrilha estariam sendo enterrados em cemitérios clandestinos criados pela organização criminosa. 

Em alguns casos, os milicianos usavam requintes de crueldade, como na morte de um mototaxista que teve o corpo cortado e o coração arrancado. As vítimas eram desde integrantes do tráfico, usuários de entorpecentes ou qualquer pessoa que se colocasse contra o interesse do grupo.

Os milicianos ameaçavam pessoas com o objetivo de obrigá-las a alterar o teor de seu depoimento prestado se fosse contra a quadrilha.

Racha

A apuração revelou também que chegou a haver um racha na milícia, entre o líder do grupo, Renatinho Problema, e o policial militar Fabinho Getam. Renatinho foi preso pela 82ª DP. Mesmo com Renatinho preso, o policial não conseguiu assumir o comando do grupo, que passou a um criminoso conhecido como Pietro.

Com a prisão deste último, a hierarquia voltou a mudar passando a ser o ex-PM Playboy como o novo líder solto, Negão,  gerente de Visconde de Itaboraí e Porto das Caixas; Peçanha, responsável pelo bairro de Porto das Caixas; Rose, gerente financeiro; Tirso responsável pelas ações armadas contra o tráfico e ´X9´, além da gerência e da cobrança nos bairros Areal, Nancilândia, Nova Cidade e Ampliação. 

Polícia monitorada

Um advogado tinha grande participação no grupo. Era ele encarregado de monitoramento das viaturas da DHNSG, fotografando e filmando viaturas descaracterizadas da especializada e, em seguida, encaminhando as imagens aos milicianos por meio de WhatsApp.

Os milicianos chegaram a comparecer às sedes da delegacia e do Ministério Público Estadual onde realizaram filmagens dos veículos utilizados pelos agentes públicos envolvidos na persecução penal. Diligências da DHNSG foram prejudicadas com as informações repassadas aos paramilitares.

Além da relação com traficantes, Santana demonstrou possuir estreito relacionamento com policiais e acesso a delegacias de polícia, a exemplo de contato telefônico, interceptado na escuta, em que tenta aproximação com o atual subcomandante do 35º BPM, embora não haja confirmação de eventual encontro ou de aprovação por parte do oficial. 

Mesmo não sendo policial civil, se identificava como tal e em diversos diálogos afirma que está trabalhando na delegacia, citando inclusive que ´trabalhou´ na 71ª DP e que acompanhava a  autoridade policial, a quem se referia com certa intimidade.

Santana, inclusive, possui em seu nome um veículo BMW X4, ano 2017, avaliado em cerca de R$ 250.000,00 e atualmente reside em frente à Praia de Icaraí, área nobre de Niterói. No entanto, a quebra de sigilo bancário e fiscal do acusado  revelou que ele não possuía rendimento compatível com o patrimônio exteriorizado, inclusive, nos últimos anos, declarou-se isento ao Imposto de Renda.

Recolhe de R$ 15 mil por semana

Mulheres ficavam encarregadas de fazer o ´recolhe´ da ´taxa de segurança. Algumas chegaram a ser presas em flagrante realizando as cobranças. A mãe de Renatinho Problema vinha semanalmente a Itaboraí buscar em torno de R$ 15 mil, quantia destinada a seu filho.

A milícia também exigia taxa nas transações de imóveis vendidos na região.

A quadrilha contava com um ex-policial militar e atualmente servidor lotado na Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP) que foi apontado como responsável por intermediar a falsificação de carteiras funcionais para o grupo.

Integrantes da milícia foram flagrados também nas interceptações em diversos diálogos negociando empréstimos de dinheiro a juros.

Os milicianos usavam também carros e motocicletas roubados ou clonados.

De acordo com o que foi veiculado na mídia, a milícia também cobraria taxas de pessoas que encaminhavam seus currículos para disputar vagas de trabalho no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).


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