No final de junho, a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher promoveu um seminário sobre as novas tecnologias no combate à violência contra a mulher e as famílias na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF). Em pouco mais de quatro horas, soluções desenvolvidas com tecnologia de ponta foram apresentadas como parte fundamental do enfrentamento da questão no país, onde 1,6 milhão mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento entre fevereiro de 2018 e fevereiro de 2019, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio, segundo o Datafolha.
Uma das soluções exibidas foi o aplicativo PenhaS, batizado em homenagem a Maria da Penha, cidadã brasileira que quase morreu vítima da violência doméstica e inspirou a criação da lei homônima em 2006. “É um aplicativo de conscientização coletiva, compartilhamento de informações, empoderamento da mulher e construção de uma rede de apoio desenvolvido com base em horas de conversas com vítimas dos mais diversos tipos de violência”, explicou a jornalista Marília Taufic, coordenadora voluntária da revista AzMina, responsável pela iniciativa.
O app é dividido em três áreas: GritaPenha, para pedidos de ajuda urgente e produção de provas; DefendePenha, chat de apoio que permite o diálogo entre as usuárias; e EmpoderaPenha, espaço de conhecimento, com informações básicas sobre direitos e um feed de notícias sobre a violência. “Dar visibilidade ao tema é uma das formas de enfrentamento do problema”, disse Marília, durante a apresentação da ferramenta.
O encontro serviu de palco, ainda, para o lançamento do projeto Glória, uma plataforma de inteligência artificial criada para educar e dar apoio às mulheres com o objetivo de reduzir a opressão e a violência física, psicológica e sexual contra elas. A coleta de dados – feita pela interação entre o robô Glória e as usuárias -, servirá para desenvolver conteúdo educacional e criar uma rede de suporte com as ferramentas necessárias para mulheres em situação de vulnerabilidade e repressão. A idealizadora do projeto, a professora universitária Cristina Castro Lucas de Souza, contou que a iniciativa prevê, ainda, a geração de relatórios que possibilitam o mapeamento das ocorrências, com classificação dos dados a partir de faixa etária, local e dados socioeconômicos das vítimas.
Do ponto de vista das iniciativas públicas, foi apresentado detalhes do Simesp – Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, que atua em várias frentes, desde a integração de dados das polícias civis de nove estados brasileiros (PPe) – com a possibilidade de traçar um mapa dos delitos, incluindo feminicídio, e os perfis das vítimas – até o uso de inteligência artificial para rastreabilidade de armas e munições de material genético, de digitais e de drogas e mapeamento dos crimes e de business intelligence.