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Preservação da Rebio do Tinguá gera impasse entre ambientalistas e poder público

Apesar de ser uma área de conservação ambiental, a reserva possui ocupações ilegais

Por Jonas Feliciano em 16/07/2019 às 19:41:24

Imagem: Reprodução

Uma onça pintada foi filmada por um motorista na Rodovia Sebastião Ferraz de Camargo Penteado (SP-250) em Apiaí, no interior de São Paulo. De acordo com o site G1, a aparição ocorreu no último sábado (6), próximo ao Km 295 da SP-250. Apesar de ter sido em São Paulo, o episódio chama a atenção para a presença de diferentes exemplares da espécie também na área da Região Serrana do Rio de Janeiro.

Sérgio Ricardo é ecologista do Movimento Baía Viva e, diante dessas aparições, relembrou que o estado do Rio de Janeiro foi o que mais desmatou a vegetação de Mata Atlântica. Segundo ele, atualmente, só restaram 14% da extensão original. O especialista alertou que há relatos constantes da presença de onças na região de Paraty e Angra dos Reis. Nesses lugares, existem as aldeias indígenas Guaranis.


"Há 15 dias houve uma reunião do Conselho Estadual de Direitos Indígenas (CEDIND), da aldeia Araponga, Paratimirim e Rio Pequeno. Na ocasião, os caciques Miguel Benide, 119 anos, e Domingos, com 99 anos, relataram a presença das onças entre Paraty e o estado de São Paulo", contou.

Sérgio ainda chamou a atenção para um encontro realizado pelo Conselho Gestor da Reserva Biológica Federal do Tinguá com o objetivo de discutir as condições da Rebio. Um local que abrange 24 mil quilômetros quadrados de terra e liga à Baixada Fluminense aos municípios de Petrópolis e Miguel Pereira.

"A reserva do Tinguá tem uma importância estratégica porque faz a conectividade das espécies, além do transporte das sementes pelos animais com outras unidades de conservação da região Serrana. Inclusive, com o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, o lugar onde essa exuberante onça foi identificada", ressaltou.


Imagem: Instituto Chico Mendes/Carlos Januzzi

O líder do movimento Baía Viva destacou o debate na Câmara dos Deputados do Rio de Janeiro sobre a redução das áreas de 334 unidades de conservação do país. Ele afirmou que há um lobby da Prefeitura de Nova Iguaçu juntamente com o deputado federal Luizinho, que já foi citado em uma delação de Sérgio Côrtes, ex-Secretário de Saúde do governo de Sérgio Cabral,

"O parlamentar já esteve enrolado com um esquema de corrupção do ex-governador, Sérgio Cabral, e hoje pretende acabar com a reserva biológica do Tinguá e transformá -la em uma parque. A ideia é liberar a região para a especulação imobiliária e também facilitar a entrada de empresas para a exploração do grande volume de água da área. Vale relembrar que era do Tinguá que saía o abastecimento hídrico do estado fluminense, antes do Guandu. Atualmente, dezenas de pessoas dependem dessa água para o seu sustento e sobrevivência", alertou o ambientalista.

Sérgio Ricardo não esqueceu de citar a presença dos caçadores. Ele relembrou o assassinato do ativista e ecologista Júlio Ribeiro. De acordo com o líder do Baía Viva, Júlio foi morto pelos caçadores. Por tal razão, além de temerária, a recategorização do Tinguá significa uma ameaça às diversas espécies.

Imagem: Instituto Chico Mendes

"É importante lembrar que o estado do Rio de Janeiro tem quatro parques nacionais e todos eles estão abandonados. Desse modo, é fundamental a manutenção desta reserva, tanto para a proteção dos animais quanto dos recursos hídricos", reforçou.

Para Ricardo Portugal, representante do Baía Viva em Nova Iguaçu, a tentativa de transformar a reserva biológica em Parque Nacional é uma medida desfavorável a preservação da área. Segundo Ricardo, existem muitas ocupações ilegais que precisam ser retiradas. Isso porque, uma Unidade de Conservação (UC) não pode ser habitada, muito menos, ter em seu perímetro construções sem nenhum tipo de previsão legal.

"Existem várias comunidades na Rebio do Tinguá. Inclusive, casas de grande porte que foram construídas por pessoas de com alto poder aquisitivo e sem nenhuma autorização. Também existem comunidades que há anos estão no local ilegalmente. Elas precisam ser realocadas. Não existe fiscalização, por isso, os recursos hídricos, a fauna e a flora da reserva estão ameaçadas. A área precisa ser preservada e não transformada em um parque. A audiência pública que vai discutir o assunto na Câmara dos Deputados não convidou os ambientalistas e nem o Ministério Público para participar do debate", afirmou Ricardo.

Imagem: Instituto Chico Mendes

A reportagem do portal Eu,Rio! entrou em contato com a assessoria do deputado federal Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr ( Dr. Luizinho). Em nota, o parlamentar afirmou que recebeu representantes da prefeitura de Nova Iguaçu e que eles, realmente, apresentaram um projeto para que a Reserva do Tinguá seja transformada em Parque Nacional. De acordo com o comunicado, um dos principais argumentos da prefeitura é a falta de fiscalização na Reserva.

Além disso, a nota reforçou que para ajudar a entender a viabilidade da proposta, o deputado está preparando duas audiências públicas: uma em Tinguá e a outra em Brasília. Segundo o Dr. Luizinho, seu objetivo é ouvir ambientalistas, moradores da região e especialistas antes de assumir qualquer posicionamento. As reuniões devem acontecer no mês de agosto.

O portal também entrou em contato com a assessoria do Ministério Público Federal (MPF) para perguntar sobre a participação do órgão no acompanhamento do caso. Segundo o MPF, a instituição está por dentro das audiências e foi convidada para participar dos encontros que serão promovidos pelo parlamentar.

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