Até o dia 29 de setembro, o Teatro Poeirinha, em Botafogo, recebe o espetáculo "Euforia", de Julia Spadaccini, com direção de Victor Garcia Peralta. Estrelado pelo ator Michel Blois, a peça é dividida em dois solos. Além disso, a montagem traz como tema o desejo por meio das histórias de um idoso e de uma cadeirante. Um desabafo de personagens que socialmente são olhados como seres assexuados e invisíveis aos olhos do prazer comum. "Euforia" já foi indicada aos Prêmios "Cesgranrio" e "Botequim Cultural" 2017 nas categorias melhor ator e melhor texto.
Essa é a segunda peça onde o ator Michel Blois é dirigido por Victor Garcia Peralta. A primeira foi "The Pride", em 2016, que ficou em cartaz na Caixa Cultural e no Teatro Ipanema. Já com Julia Spadaccini, Michel vem trabalhando desde 2006, quando fez assistência de direção de Kiko Mascarenhas, na peça "Por enquanto é isto". Na ocasião, Julia atuava.
Ele também dirigiu outras duas peças da dramaturga. Em 2007, o solo do Rodolfo Mesquita "A Sônia é que é feliz" e, em 2017, ao lado da diretora de cinema Sandra Werneck, "E se eu não te amar amanhã", com Luana Piovani, Leonardo Medeiro e Marcelo Laham. Como ator, fez "Aos Domingos", em 2013, indicada ao prêmio Shell de dramaturgia, e "Os Inocentes", em 2010.
Em "Euforia", Blois trabalha sozinho no palco e interpreta duas personagens distintas. O ator se divide entre uma jovem que ficou paraplégica em função de um acidente e um senhor octogenário. A partir daí, convida o público para uma viagem onde a sexualidade é explorada pelo corpo e suas incríveis terminações nervosas.
No início, a jovem paraplégica está envolvida pela percepção dos limites que o novo corpo lhe traz. Em meio a raiva e tristeza, não chegou a pensar em sexo. Por isso, o seu foco era reaprender o cotidiano. Até que um dia conhece um homem e sente que ele lhe desperta a consciência sobre áreas de seu corpo que se tornaram mais sensíveis após o acidente. Ela fica obcecada pelas próprias bochechas, pescoço e outras partes não convencionais do corpo, aprendendo também a decifrar aos poucos um novo mundo de fantasias e sensações.
Em um segundo solo, o ator é um senhor de 87 anos. Ele vive em um asilo e tem que se distanciar de sua própria identidade. Porém, dentro de si, o que ainda persiste é a euforia do desejo que se mantem vivo, jovem e pleno. Um universo pulsante ainda está ali, querendo, sentindo e sendo o que sempre foi.
A sexualidade se desenvolve em toda sua amplitude, não sendo restrita ao ato sexual. Ela ganha contornos simbólicos que falam do desejo de permanecer vivo, da persistência exigida quando o vigor do corpo declina. Mesmo tendo superado os medos e os conflitos gerados pelo desejo homossexual ao longo da vida, este é um momento de entender que a vida sexual pode ser realizada de várias formas contradizendo a norma conservadora.
Desde a sua estreia, "Euforia" tem recebido muitos elogios da crítica. Para Renato Mello, do Botequim Cultural, a atuação de Blois merece atenção.
"Michel Blois é responsável por um dos momentos mais sublimes da atual temporada carioca (...) Aprofundam todo um questionamento raramente abordado nas mais diversas expressões artísticas", afirmou Renato.
O espetáculo também chamou a atenção de Wagner Corrêa de Araújo, do Escrituras Cênicas.
"Michel Blois sintoniza, com raro brilho, o clima da representação (...) Com um presencial irrepreensível o ator (...) torna cúmplice a pequena plateia na simplicidade funcional deste despretensioso mas inspirado documentário cênico", escreveu o crítico.
O Teatro Poeirinha fica na Rua São João Batista, 104, no bairro de Botafogo, na Zona Sul carioca. As apresentações acontecem de quinta a sábado, às 21h, e nos domingos, às 19h. O ingresso custa R$60,00. A classificação é 14 anos.