No próximo sábado (7), às, 19h, estreia no Teatro Dulcina o espetáculo inédito "Solano, Vento Forte Africano". Com dramaturgia de Elisa Lucinda e Geovana Pires, que também assina a direção, direção musical de Beá e direção de movimento de Valéria Monã, a montagem fica em cartaz até o dia 29 de setembro. O espetáculo lança luz não apenas sobre a obra, mas também sobre o aspecto humano e político de? Solano Trindade, um poeta pernambucano que desenvolveu sua múltipla potencialidade artística com o olhar sempre voltado à realidade do negro brasileiro.
De maneira cadenciada e auxiliado pela pluralidade musical brasileira, a peça é permeada por música, canto, dança e sapateado, conduzindo o espectador de forma lúdica à trajetória de Solano. A narrativa evidencia episódios marcantes, como seu convívio com a atriz Ruth de Souza, amiga que o abrigava após as manifestações políticas pelos direitos dos trabalhadores. Além do momento em que "Mulher Barriguda", cuja letra é de Solano e compreendida como canção de protesto à ditadura militar, foi gravada pelo grupo Secos e Molhados, em 1973.
"A voz de Solano se faz necessária neste momento porque, infelizmente, tudo que ele falou há 70 anos segue em pauta. O Brasil ainda sofre com essa ferida aberta que é o racismo; os direitos dos trabalhadores estão caindo por terra e o povo vem sendo massacrado. A luta de Solano se dava com armas como a poesia, a palavra e o amor", ressaltou Geovana Pires, diretora e idealizadora do projeto.
Dada sua militância política pacífica, Solano é considerado por muitos o Gandhi da literatura popular brasileira, mesmo tocando em pontos nevrálgicos, entre eles, a dificuldade de inserção do negro no mercado de trabalho.
Reiterando essa demanda, o elenco e a equipe técnica do espetáculo são predominantemente formados por profissionais negros.
"Solano tem profunda importância na unificação dos movimentos negros", reforçou Geovana.
Nordestino como Solano, o ator Val Perré foi escolhido para dar vida ao "poeta do povo", que foi ainda fundador do Teatro Popular Brasileiro, uma companhia formada basicamente por domésticas, estudantes, comerciários e operários na década de 1950.
"Tive a dimensão da importância da obra do Solano ao receber o convite para interpretá-lo e, como ator negro e nordestino, fico pleno de prazer e reconheço esta responsabilidade. Temos uma missão de levar a obra de Solano a todos, dando voz e continuidade, percebendo a mensagem de liberdade e o amor que é latente na sua obra", salientou o ator.
Depois de uma turnê na Europa, Embu das Artes (SP) foi o local escolhido para o? espetáculo realizar sua primeira apresentação, em 13 de maio deste ano.
"A família acompanhou todo o processo e tivemos a honra de ter seu filho, Liberto Trindade, como consultor das músicas populares que Solano usava em suas peças. Contaram-nos muitas histórias que não sabíamos e as inserimos na dramaturgia. Foi um momento mágico e emblemático", relembrou Geovana.
"Este espetáculo é um grito de liberdade. Creio que a mensagem mais importante é a consciência de que estamos em guerra, que o Estado está dizimando nossa juventude negra e que temos que nos unir para vencer. É urgente e todos estão envolvidos", convocou a diretora.
O espetáculo fica em cartaz entre 07 e 29 de setembro de 2019, sexta a domingo, 19h. O Teatro Dulcina fica na Rua Alcindo Guanabara, 17, no Centro do Rio. Os ingressos custam R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada).
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