Por um bom tempo Manga mandava Cecília, sua esposa, fazer a feira antes dos jogos contra o Flamengo, principal freguês do Botafogo nos anos 1960.
Hoje - diferentemente de sua época -, o ex-camisa 1 não conta mais com Garrincha, Didi, Nilton Santos, Amarildo, Afosinho, Jairzinho e Paulo Cézar Caju dentro de campo mas fora dele pede socorro.
Ídolo na galeria dos imortais do Clube de Regatas do Botafogo, Haílton Corrêa de Arruda vive em Quito, no Equador, sofre com um problema renal - os rins não estão funcionando -, agravado por uma anemia aguda.
O Nacional (URU) fez uma demonstração de carinho ao histórico goleiro Manga, ídolo do Botafogo, Internacional e do próprio time uruguaio.
O ex-atleta, de 82 anos, foi campeão da Libertadores e do Mundial com o Nacional, em 1971, e receberá uma ajuda financeira do time.
O anúncio foi feito via Twitter e prevê que Manga receba uma pensão neste momento em que está em situação de saúde complicada.
O clube afirmou ainda que o ex-jogador foi para Montevidéu, no Uruguai, e que ele escolheu o país para enfrentar o delicado quadro pelo carinho que sempre recebeu dos torcedores do Tricolor uruguaio.
No Twitter, o clube escreveu: "Haílton Corrêa de Arruda #Manga chega ao Uruguai em algumas horas no meio de um delicado prontuário de saúde. Ele escolheu o Uruguai por seu amor por #Nacional e pela solidariedade dos fãs que até abriram a casa para recebê-la".
Outra postagem ainda complementa a informação: "Desde de que o #Nacional começou, os procedimentos já começaram para que #Manga tenha uma pensão decente por sua enorme contribuição para a história Tricolor e a do futebol uruguaio.
Isso, além de outras ações concretas para ajudar um ídolo que joga a partida mais difícil de sua vida contra a morte.
O Botafogo informou que também está em contato com a esposa de Manga.
Com a camisa alvinegra, o ídolo conquistou títulos do Campeonato Carioca (1961, 1962, 1967 e 1968) e do Torneio Rio-São Paulo (1962, 1964 e 1966).
Quem foi Manga
Nascido em Recife, Manga teve uma infância humilde e precisou superar uma varíola, doença que deixou marcas em seu rosto.
Cresceu vendendo água e apanhando mangas, o que lhe rendeu o apelido.
No entanto, não demorou para ganhar fama graças ao seu futebol, pois, ainda garoto, era uma atração à parte nas peladas da Ilha do Leite.
Chamava tanta atenção quanto os atacantes, por sua coragem embaixo das traves.
Para quem havia vencido uma varíola, encarava qualquer adversário e pegou o hábito de agarrar sem luvas.
Resultado disso, veio nos dedos fraturados com constância e com os mindinhos tortos até hoje.
Chamaria logo logo a atençao em Recife.
Em 1954, começou a se destacar nos juvenis do Sport.
Três anos depois, durante uma excursão à Europa, o titular Osvaldo Baliza se lesionou e o jovem Manga ganhou uma oportunidade.
Pegou muito e se firmou entre os profissionais.
No ano seguinte, em 1958, viveu o seu melhor momento na Ilha do Retiro, sendo um dos protagonistas na conquista do Campeonato Pernambucano.
Os ventos do mundo da bola sopraram seu nome ao sul do país, e veio parar no poderoso Botafogo.
Sua estrela brilhava como a do escudo do novo clube, após ter sido reprovado em testes no Vasco da Gama dois anos antes.
No Botafogo, Manga logo se firmou como um fenômeno.
O titular da meta alvinegra, Ernâni, chegara a ser pré-convocado à Copa do Mundo de 1958 e o gol estava vago.
Em um timaço com Garrincha, Quarentinha, Amarildo, Nilton Santos, Zagallo, Didi e tantos outros craques, nos treinos era muito exigido e não gostava de levar gols.
Assim, o sucesso nas partidas oficiais refletiam o seu trabalho incessante. O camisa 1 se tornou santo e seus milagres eram frequentes, proporcionando assim grandes glórias ao clube.
Faturou quatro vezes o Carioca, três o Rio-São Paulo e reluziu com a estrela no peito em diversas excursões para fora do país.
Amadureceu e melhorou ainda mais na década de 1960, começando a defender o Brasil nos amistosos a partir de 1965 e às vésperas da Copa de 1966.
Na Copa do Mundo da Inglaterra, vestiu pela primeira vez a camisa 1 na fase de grupos, diante de Portugal e não foi bem.
Falhou justamente nesse jogo, perdeu por 3 a 1 e o Brasil acabou eliminado.
Triste passagem pela Seleção.
Depois disso, só entraria em campo mais uma vez pela equipe nacional.
Em 1967, se envolveu em enorme entrevero com o então cronista João Saldanha, em episódio no qual houve até tiros.
Meses depois, deixaria os alvinegros, indo jogar no Nacional de Montevidéu, no difícil futebol uruguaio.
Se tornou dono do gol e pôs Rogélio Domínguez, com passagens marcantes por Racing e Real Madrid para aplaudí-lo no banco de reservas.
No Campeonato Uruguaio, o atrativo era o duelo particular com Ladislao Mazurkiewicz, do Peñarol.
Titular absoluto, permaneceu no Nacional até 1974 e voltou ao futebol brasileiro, assinando com o Internacional de Rubens Minelli.
Em 1975, segurou o Cruzeiro, com direito a uma defesa célebre em falta cheia de curva de Nelinho, no primeiro título do Campeonato Brasileiro.
Apaixonado pelos clubes que defendeu, atuou com o dedo quebrado no Gre-Nal decisivo de 1976 e foi tricampeão gaúcho.
Entretanto, entrou para a história como o maior goleiro da equipe Colorada no bicampeonato nacional no ano seguinte, jogando ao lado de Mauro Galvão, Figueroa, Falcão e Carpegiani.
A gratidão no Beira-Rio ao veterano, às vésperas de completar 40 anos, era enorme. Somando as duas campanhas, o arqueiro sofreu apenas 25 gols em 53 partidas disputadas.
A partir de 1977, quando deixou o Inter, Manga se transformou em um nômade da bola.
Mas isso não o impediu de fazer história no Operário. Campeão sul-mato-grossense, levaria o time às semifinais do Brasileirão, eliminado pelo campeão São Paulo.
Levantou ainda os estaduais no Coritiba (1978) e no Grêmio (1979).
Por fim, viveu os últimos dias de sua carreira no Barcelona de Guayaquil.
Também conquistou o Campeonato Equatoriano, antes de se aposentar aos 45 anos.
Assim, construiu tamanho respeito ao redor do seu nome.