Injustamente o gato foi, através dos tempos, condenado a uma sentença: o de ser o maior responsável pela transmissão da toxoplasmose que, inclusive, passou a ser conhecida como a “Doença do Gato”. Muita gente ainda pensa que todo gato tem toxoplasmose quando, na verdade, ele também precisa adquirir a doença.
Nos humanos, a maior forma de transmissão da toxoplasmose é pela ingestão de carnes cruas ou mal passadas de hospedeiros intermediários que contêm o parasita Toxoplasma gondii. Esse parasita permanece infectante na terra por longos períodos e pode contaminar, por exemplo, carneiros, bois e porcos destinados ao consumo humano.
Carne defumada ou embutidos manipulados sem as corretas condições de higiene, frutas e verduras cruas ou mal lavadas e até água podem transmitir o parasita.
Mas então porque o gato levou a fama de maior transmissor?
Porque o gato é o único animal onde o parasita realiza reprodução sexuada gerando oocistos, considerados a forma mais infectante. Mas mesmo assim, não é tão simples contrair toxoplasmose de um gato.
Primeiro porque nem todo gato tem o parasita e, segundo, porque o contágio só é possível em condições muito específicas, conforme explica em seu site a ONG World Animal Protection, que tem um forte trabalho de educação para derrubar preconceitos criados a respeito de alguns animais:
“É importante ressaltar que o simples contato com um animal infectado, com seu pelo ou até mesmo com suas fezes frescas não são suficientes para contrair a doença. Apenas 1% da população felina participa da disseminação da toxoplasmose. Os gatos contraem o parasita quando caçam e se alimentam de outros animais infectados, como ratos e pássaros. Se isso acontece, durante um curto período de tempo os ovos da toxoplasmose (chamados de oocistos) serão expelidos junto com as fezes do gato. Mesmo assim, esses oocistos só podem infectar uma pessoa ou outro animal se eles estiverem esporulados, ou seja, ficarem expostos a temperaturas acima de 36°C por mais de dois dias”.
“E o mais importante: os oocistos precisam ser ingeridos. A probabilidade de se contrair toxoplasmose é maior comendo carne mal cozida do que tendo um gato em casa”, diz a entidade.
Abandono sem fundamento
Ainda é muito comum o abandono de gatos quando alguém da casa engravida. Existe um mito de que grávida não pode conviver com gatos por conta do risco de contrair toxoplasmose. De fato, uma gestante infectada pode transmitir o parasita ao feto pela placenta, mas o gato da família pode não ter nada a ver com isso. Não se pega a doença na convivência com o bichano, nem mesmo dormindo com ele. Basta tomar cuidado ao manusear a areia com pazinha e higienizar sempre as mãos.
O gato também adoece?
Gatos com toxoplasmose podem ser assintomáticos, mas outros desenvolvem alguns sintomas como depressão, anorexia, febre seguida de hipotermia, icterícia, dificuldade em respirar e, em casos mais graves, encefalite. O diagnóstico é feito por exame de sangue. Tanto nos gatos quanto nas pessoas a toxoplasmose tem tratamento.
“Para evitar que o gato contraia toxoplasmose é bom não alimentá-lo com carne crua e muito menos deixá-lo caçar ratos. Se há vários gatos na casa que foram resgatados das ruas vale ressaltar o cuidado com a higiene das caixas de areia”, afirma a Médica Veterinária Viviane Reis, da Clínica Integrativa Pet, localizada em Perdizes, São Paulo. Conforme dito acima, os oocistos da toxoplasmose precisam ficar fora do corpo do gato por dois dias para que se tornem infectantes, portanto, se for feita limpeza das caixas de areia todo dia, a contaminação se torna quase impossível.