Milton Ribeiro, acredito que o senhor me conheça, caso contrário não teria me bloqueado. De todo modo, primeiro quero me apresentar.
Sou Rozana Barroso, estudante de pré-vestibular e presido a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, maior entidade representativa dos estudantes dos ensinos básico e técnico.
Há 73 anos, a UBES luta para que crianças e jovens brasileiros tenham seus direitos respeitados e a garantia de uma escola pública, gratuita, democrática e de qualidade para todas e todos.
Sonho em ser a primeira da minha família a ingressar no ensino superior. Minha mãe, estudante da Educação para Jovens e Adultos (EJA), não teve a chance de realizar esse sonho por precisar garantir o sustento de cada dia.
Luto pela educação porque acredito que ela é a ferramenta fundamental de transformação de vidas e de toda a nação.
A desigualdade, que é uma realidade violenta no Brasil, foi intensificada durante a pandemia. Por isso, nós construímos um documento em defesa da educação principalmente para aqueles mais afetados: negros e pobres, assim como eu.
Entretanto, há 305 dias somos ignorados pelo senhor que carrega a responsabilidade de ser titular dessa área tão importante para o nosso país.
O senhor, que é pastor e faz uso do cristianismo para defender suas ideias, se esquece do maior ensinamento cristão: amar ao próximo. Como se pode amar as pessoas afastando delas seus sonhos de futuro e pregando que os mais pobres fiquem sem acesso à educação?
A universidade não deve ser lugar "para poucos", a universidade deve ser PARA TODOS!
Se hoje enfrentamos tantos problemas no ensino superior não é porque mais pessoas estão alcançando as salas de aula, são consequências da falta de investimento e de responsabilidade com aqueles que poderiam mudar o mundo com seus sonhos que estão sendo interrompidos por uma sequência de irresponsabilidades.
Universidades cheias são uma conquista de muitos movimentos que vieram antes de nós defendendo um futuro digno para a população segregada pela desigualdade.
As gerações que carregam esse país com o suor do seu trabalho, como minha mãe e minha avó, lutaram e ainda lutam por sobrevivência para que nós, seus filhos e netos, possamos estar aqui em busca de uma melhor.
Senhor Milton Ribeiro, recomendo que converse ao menos 30 minutos com mulheres como elas. Essas mulheres negras e guerreiras que muito contribuirão para o seu entendimento sobre a importância da educação em nossas vidas. Visite escolas nas favelas e periferias, conheça os trabalhos e pesquisas realizadas por estudantes em universidades.
Por fim, rompa a bolha de seu pensamento e enxergue a realidade do país cujo o senhor é Ministro.