Há quatro anos recebi a informação de que o professor Helter Jeronymo Luiz Barcellos havia morrido.
Por mais que o Gustavo Carvalho fosse um repórter das notícias confiáveis e verificadas, desconfiei e torci muito, mas muito mesmo, para que ele estivesse errado quando me deu a nefasta notícia.
Pela primeira vez desde o surgimento das fake news, como eu queria que aquela notícia não fosse verdadeira.
Mas era!
Ademir Nunes Corrêa, amigo há mais de quatro décadas desse 'mineiro gonçalense' de 84 anos, me confirmou.
"É verdade amigo, ele morreu", limitou-se a dizer.
Lembro-me como se fosse hoje a tristeza profunda que senti.
Somadas se as mortes de Assuéres Barbosa em 2015 e Eloisa Leandro no comecinho de dezembro de 2020 - informadas também por Gustavo Carvalho - duros golpes, o que dizer do desaparecimento físico de uma criatura iluminada como Helter Jerônymo Luiz Barcellos?
Parei, fechei os olhos e pensei nos momentos em que estivemos juntos.
Recordei-me das tardes em que parava meu carro e ia visitá-lo em casa, ali no bairro Zé Garoto, em São Gonçalo. A intenção, como sempre, era bater papo com ele e ouvir as histórias. Divertidas histórias.
Por muitas vezes, até tarde da noite, ele recitava poemas lendo na tela do computador que ficava próximo ao piano ou simplesmente tirava da cabeça encenando com gestos como se fosse um ator. Eu, os cães e os gatos, éramos a plateia.
Os "poemas prostitutos" - como o professor Helter classificava-os pelo pouco valor e a inexistência sentimental para as pessoas - ele guardava em pastas devidamente arrumadas no computador.
Já os prediletos, declamados 'in loco', eram armazenados no hipocampo de uma mente brilhante pelo não menos brilhante empresário e educador que foi em São Gonçalo.
Bons tempos. Belos poemas. Inesquecíveis tardes e noites.
Contador de histórias, o "professor" como era chamado por mim, sempre demonstrou apreço pelos artistas sem recursos de São Gonçalo.
Em 2005, se não fosse ele, não teria realizado minha exposição individual de caricaturas no Clube de Regatas do Flamengo, na Gávea, Zona Sul do Rio. Foi o único a dar patrocínio, após o jornal O São Gonçalo, empresa em que era chargista, me dizer "não".
"Ora, bolas! Só me diz o valor, passa aqui em casa, pega o cheque e me traga as notas fiscais do que você gastou. Você vai expor no Mengão, senão, mudo de time", disse com o coração vascaíno e altruísta.
Fizemos a exposição no clube, tiramos fotos juntos e até hoje, passados tantos anos, lembro de cada minuto daquela inesquecível noite de quinta-feira, 24 de novembro de 2005.
A exposição me rendeu um convite para desenhar e grafitar o camarote da Suderj no ano seguinte, o de 2006, trabalho que fazia durante os jogos no Maracanã.
Fazia questão de passar na casa do professor Helter para levá-lo comigo. Enquanto ele assistia o Vasco jogar, eu ficava desenhando nas paredes daquele camarote.
Quando a minha filha Gabrielle nasceu, em 2007, ele foi o primeiro a nos visitar. A foto que registrou o encontro, acabou carcomido por um esfomeado tempo.
Estagiário do jornal O São Gonçalo, em 2016, fui incumbido de cobrir o lançamento do livro 'A Ausência de Annita', que conta um pouco da trajetória da família Barcellos, escrito pelo professor Helter. Foi a última aparição pública dele.
Neste domingo (05), o Facebook me lembrou da morte do professor Helter. Me bateu uma tristeza e uma saudade deste grande homem. Não contive as lágrimas.
O que me conforta é saber que Deus chamou o professor Helter Barcellos para subir aos céus para conversar com ele nas tardes até o comecinho da noite e ouvir os poemas, encenados e recitados de uma forma lúdica que só ele é capaz de fazer.