O estrago está feito. Mas, por sorte, foi para quase todos e, com isso, jogos menos importantes podem fazer a diferença no final. Esta competição poderia ser considerada a Copa do Mundo das redes sociais, tamanho o resumo encontrado, debates curtos para acompanhar os fatos e, se preferir, ver seu jogo predileto onde estiver pelas redes. Porém, será a Copa das zebras. Ou seria a Copa dos camelos listrados? Essa espécie pertencente à ordem Cetartiodactyla listrdus aparece furtivamente nos momentos mais incríveis e impensados, causando infartos por onde passa e quebradeira na bolsa de valores.
Bola ao centro. Mas o centro do campo, hoje, pode ser também o centro médico, mais especificamente o centro cardíaco. Quando a Argentina caiu diante da Arábia Saudita, causou certo ânimo brasileiro e um furor no país que decretou feriado nacional. Quando a Alemanha perdeu do Japão, todos começaram a se preocupar se estava vindo um padrão. Mas, logo depois, a Espanha ganhou de 7 X 0 e o Brasil venceu seu jogo com imponência. Livramo-nos da zica, mas o camelo listrado continuou a passar em alguns jogos, como o da Bélgica contra Marrocos. Essa é a emoção que estamos vivenciando através da internet. E pensar que toda essa saga começou sangrando, numa pelada de várzea que os ingleses jogaram séculos atrás entre soldados anglo-saxões e vikings.
Muito se falou também que seria o lugar menos indicado para um mundo mais moderno. Vivenciamos um planeta que está em expansão para um mundo de regeneração e que pensamentos antigos não representam um mundo que procura igualdade social, entre raças, gêneros e não se identificam com um país misógino, que tenta separar os ricos dos pobres, não permite as bebidas em estádios, não dando oportunidade de manifestar suas opiniões ao ar livre. É um contraste real com nossa vida moderna. A própria seleção do Qatar foi a primeira seleção de abertura de Copa do Mundo a perder no primeiro jogo em toda história. Decepção após decepção, mesmo com a imponência de uma cidade extremamente rica, mas que não tem o que precisaria ter: o calor humano. Tal qual o abraço da mãe do Hakimi entrar em campo e abraçar o filho após a vitória do Marrocos sobre a Bélgica.
Chama atenção, além da dureza com as regras de conduta, as normas do campo. Quase todos os jogos foram com os acréscimos de tempo acima de seis ou sete minutos. A cabeça dos árbitros e árbitras (felizmente essa novidade) está feita para correr o jogo. Não tolera nem a cera de goleiros ou qualquer velho truque que possa conspirar contra o espírito da bola rolando. Tudo isso, para o cidadão do Qatar, não deve ser boa coisa, afinal é estranho ter um campeonato desse porte para um esporte que se joga com os pés e não um taco de críquete. Mas, no final, quem bota fé no próprio taco são aqueles jogadores que, em um bom dia, podem mudar uma partida. Como no caso do Messi, que no primeiro jogo não teve a sua melhor atuação e o time perdeu. Já no segundo jogo, o craque conseguiu ser o grande jogador que é. Não é a toa que, na Copa do México de 1970, a frase proferida comumente era: “hoje não trabalhamos porque vamos ver o Pelé.”
O jogo preferido dos catarianos, assim como o futebol, nasceu na Inglaterra oriunda do creag, que foi praticado pelo príncipe Eduardo, filho de Eduardo I, no ano de 1300. No fundo, para eles, é um grande negócio. Não tem a emoção de ter partidas que durem até cinco dias. Mas para os detratores, a Fifa responde que a seleção do Qatar já venceu três vezes a Copa do Golfo e que o futebol em breve será mais popular que o críquete.