Em 2016, Denise Stutz, Adriano Guimarães e Ismael Monticelli se reuniram para a criação de "Ruído", performance realizada a partir do entrecruzamento do conto "A Casa Tomada", do escritor argentino Julio Cortázar, com algumas histórias sobre o Castelinho do Flamengo. Agora, prosseguindo com essa pesquisa, o trio de artistas se reuniu novamente para criar "Caixa de Guerra" que estreia no Mezanino do Sesc Copacabana, no dia 17 de outubro. O espetáculo deve ficar em cartaz até 03 de novembro.
Com Denise Stutz, a montagem tem direção de Adriano Guimarães e apresenta abordagens históricas sobre a origem e desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro desde os tupinambás até o governo de Getúlio Vargas. Diferente dos livros de história, que apresentam a visão dos heróis e protagonistas, algumas narrativas da peça se dão pelo ponto de vista dos coadjuvantes, personagens presentes em todos os acontecimentos.
"Quando pesquisamos a história do país descobrimos versões diferentes para cada fato. As narrativas são múltiplas, as histórias que sabemos são versões criadas sob óticas específicas. A interpretação de fatos passados depende muito do contexto dos acontecimentos do presente. O presente sempre reescreve o passado. E, aqui, não inventamos nenhum fato, mas, em algumas histórias, escolhemos o olhar de pessoas que não foram protagonistas dos fatos históricos, mas que as testemunharam", explicou Adriano.
Para o diretor, pesquisar e revisitar a trajetória histórica do Rio de Janeiro pela perspectiva de três não cariocas trouxe um recorte peculiar.
"O Rio de Janeiro se confunde com o Brasil no imaginário dos estrangeiros, praticamente é a imagem oficial do Brasil. Quando viajamos e nos descobrem brasileiros, já nos associam ao Rio, onde moro há mais de seis anos e ainda me sinto estrangeiro. Acho que o ponto de partida do trabalho foi esta sensação", analisou Adriano, vindo de Brasília.
Já para Denise Stutz, atriz mineira e radicada no Rio há 30 anos, o desafio proposto pelo espetáculo é mais uma descoberta sobre ser parte da cidade maravilhosa.
"Acho que essa nossa atração pelo Rio e suas histórias têm a ver com a curiosidade, o não entendimento sobre o que é ser carioca. Existe uma certa sensação de que nunca estamos fazendo parte, às vezes me sinto meio fora do eixo", contou a atriz.
A organização da montagem alude aos desfiles de escolas de samba, outra característica clássica quando se pensa na cidade.
"Acho incrível como as escolas de samba apresentam os temas, a maneira como eles articulam a dramaturgia. É uma organização rigorosa, mas não linear e com uma lógica nada óbvia. Muitos elementos aparentemente não combinam, mas funcionam na composição e dão sentido à narrativa", provocou o diretor.
O título alude ao instrumento musical de percussão homônimo, usado para a condução do ritmo na bateria das escolas de samba e na condução das marchas militares.
"Caixa de Guerra é um dos instrumentos da bateria, mas também insinua sobre as disputas narrativas e políticas do Brasil. O Rio de Janeiro é uma caixa de guerra, não é um lugar pacífico", concluiu Denise.
"Caixa de Guerra" estreia no dia 17 de outubro e fica em cartaz até 03 de novembro de 2019. As apresentações acontecem de quinta-feira a domingo, às 20h. O Sesc Copacabana - Espaço Mezanino fica na Rua Domingos Ferreira, 160, em Copacabana. Os ingressos custam R$ 30 (Inteira), R$ 15 (Meia-entrada) e R$ 7,50 (Sócios do Sesc). A classificação é 14 anos.