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Procuradores repudiam ataque a 'ordem civilizatória'

Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão associa defesa de ato institucional a crimes contra a humanidade, como tortura, prisão ilegal e execução sumária de dissidentes

Por Portal Eu, Rio! em 03/11/2019 às 20:10:59

Torturas, execuções e desaparecimentos de opositores se seguiram à decretação do AI-5, que segue provocando protestos meio século depois de editado Foto Agência Brasil

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão divulgou nota repudiando com veemência as afirmações do deputado federal Eduardo Bolsonaro aventando uma resposta "via AI-5" a uma eventual radicalização da esquerda em protestos públicos. No documento, os procuradores, que não estão subordinados diretamente ao titular da PGR, Augusto Aras, classificam o Ato Institucional nº 5, editado pela ditadura militar em 13 de dezembro de 1968, como a 'negação absoluta do Estado Democrático de Direito' e o 'mais grave rompimento da ordem civilizatória no País'.

O documento oficial da Procuradoria lembra o rosário de medidas de exceção adotadas pelo regime na sequência do AI-5 e os crimes contra a humanidade em decorrência da escalada autoritária. Fechamento do Congresso, aposentadoria compulsória de ministros do Supremo, suspensão de direitos políticos, prisão ilegal, tortura, execução sumária e desaparecimento de opositores foram alguns dos desdobramentos do ato, conforme a advertência dos procuradores.

O documento da PFDC lembra o compromissos de cada parlamentar eleito com a Constituição e adverte que a defesa do AI-5 não configura fato isolado, pois se segue por exemplo a um comentário do mesmo deputado, Eduardo Bolsonaro, de que bastariam 'um soldado e um cabo' para fechar o Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição brasileira. Eis a íntegra da nota oficial da PFDC:

O Ato Institucional nº 5 (AI-5), adotado pela ditadura militar no Brasil em 1968, foi o mais grave rompimento da ordem civilizatória no país. Com base nesse instrumento, o Congresso Nacional veio a ser fechado, direitos políticos foram suspensos e instaurou-se a fase mais severa da política de prática, pelos órgãos de repressão, de crimes contra a humanidade, com a sistemática prisão ilegal, tortura, execução sumária e desaparecimento forçado de dissidentes do governo. O AI-5 suspendeu a garantia do habeas corpus e proibiu o Poder Judiciário de revisar as ações do governo na execução do próprio ato de exceção. No Supremo Tribunal Federal, três ministros foram aposentados compulsoriamente e outros dois, em solidariedade, se retiraram da Corte. Esse Ato Institucional representa a negação absoluta do Estado Democrático de Direito.

Todos os parlamentares têm o dever primário de defender e respeitar a Constituição, o regime democrático e os direitos fundamentais. Afigura-se absolutamente incompatível com o mandato popular a defesa de fechamento do Congresso Nacional, de instauração de um regime ditatorial e de adoção de uma política de violação sistemática e generalizada de direitos humanos. Nesse sentido, a fala do deputado federal, em entrevista à jornalista Leda Nagle, divulgada nesta data, na qual ele defende que, na eventual hipótese de “radicalização pela esquerda” em protestos públicos, a resposta pode ser “via AI-5”, é um atentado aos mais básicos valores democráticos da Constituição e da sociedade brasileira.

MP relembra afirmação de Eduardo Bolsonaro de que bastam 'um soldado e um cabo' para fechar Supremo

Infelizmente, esse tipo de intervenção em ameaça ao rompimento do Estado Democrático de Direito não é fato isolado, bastando recordar a oportunidade em que, eleito deputado, Eduardo Bolsonaro afirmou bastar “um cabo e um soldado” para se fechar o Supremo Tribunal Federal (Agência Brasil, 21/10/2018). Em que pese posterior pedido de desculpas, a sequencial defesa de atos autoritários e incompatíveis com a Constituição denotam a ausência de efetiva reconsideração do sentido de suas manifestações.

De resto, esta última declaração se aproxima, em termos de conteúdo e de contemporaneidade, à gravíssima equiparação, em vídeo divulgado em rede social pelo presidente da República, da imprensa, do Supremo Tribunal Federal, de alguns partidos políticos e instituições sociais a hienas que atacam a Presidência da República. Essas mensagens, além de afrontarem a base do regime democrático, a separação dos Poderes e a liberdade de imprensa, têm forte caráter simbólico na consciência popular e estimulam uma polarização incompatível com a tradição do povo brasileiro, por natureza plural e diverso.

A declaração do deputado Eduardo Bolsonaro – filho do presidente da República e em nome de cujo governo parece se manifestar – ignora que cabe ao Estado, por suas instituições democráticas, defender a sociedade contra radicalizações de qualquer natureza, sejam de esquerda, direita, religiosas, ateias, internas ou externas. Não há caminho legítimo fora do desenho constitucional.

Portanto, é indispensável prevenir o enfraquecimento da democracia brasileira e a criação de estruturas que conduzirão à prática de graves violações aos direitos humanos em larga escala. A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), órgão do Ministério Público Federal responsável pela defesa do respeito aos direitos fundamentais pelo Poder Público, coloca-se ao lado das demais instituições democráticas no repúdio ao crescente volume de manifestações de alguns membros do governo e seus apoiadores, parlamentares ou não, que fazem a apologia a ideias autoritárias, ditatoriais e de polarização da sociedade brasileira.

Deborah Duprat – Procuradora federal dos Direitos do Cidadão

Marlon Weichert – Procurador federal adjunto dos Direitos do Cidadão

Domingos da Silveira – Procurador federal adjunto dos Direitos do Cidadão

Eugênia Gonzaga – Procuradora federal adjunta dos Direitos do Cidadão

Fonte: Site do Ministério Público Federal

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