O mineiro Renato Aroeira, ou simplesmente Aroeira, é uma figura com inúmeros talentos. Considerado um dos maiores cartunistas do país, suas charges são famosas e já estamparam as páginas dos maiores veículos brasileiros. Hoje, elas ilustram as edições do jornal carioca "O Dia".
Para o Eu,Rio!, o artista contou sobre suas inspirações e também sobre os aspectos políticos da sua arte. Confira!
Você é cartunista, músico e jornalista. Qual o segredo para conciliar tantas habilidades e há tanto tempo ser reconhecido pelo seu trabalho?
Não acho que haja segredo, pois parte do trabalho artístico, ou científico, é a obsessão. Você precisa se atirar realmente com muita vontade. Sou um autodidata, fui aprendendo sobre o que me interessava e o que gostava de fazer... Então, essa é a minha recomendação. Comece a fazer o que gosta e, naturalmente, se transformará numa espécie de autoridade.
A política é um dos temas que mais inspira as suas charges. Hoje, você considera que tem liberdade para expressar seus posicionamentos ou opta pela imparcialidade?
Normalmente, tenho 98% de total liberdade para expressar os meus sentimentos onde trabalho atualmente.Eu não sou imparcial. Tento ser justo, objetivo, factual e equilibrado, mas não posso ser imparcial. Isso porque,sou um homem totalmente inserido na minha existência, na minha relação com os outros, na minha postura na sociedade, sobre o que penso dela e tudo mais.
Falando em imparcialidade, o que acha desse assunto? Uma necessidade urgente ou uma utopia dispensável?
Acredito no equilíbrio, na busca dos fatos, na procura da verdade possível. Procuro ouvir o ponto de vista e também estar na posição do outro. Isso é o máximo que podemos conseguir em termos de imparcialidade.
O desenho ou a música?
Bem, isso depende da hora. Eu toco e desenho com o mesmo tipo de prazer. Viajo em mim mesmo, nas minhas coisas, no que sei fazer e da maneira como faço. Como diria o cientista dentro de mim: acendo as luzes dentro da minha cabeça, tanto com o desenho quanto com a música.
Sem dúvidas, o Brasil deve ser uma fonte inesgotável de inspiração. Sempre foi assim?
Acho que não é o Brasil. O homem, a sua sociedade e seus interesses são fontes inesgotáveis de inspiração. No nosso caso, por exemplo, somos alimentados por vestígios de uma sociedade escravocrata e essa idéia de ódio aos trabalhadores.
Alguns dos seus trabalhos já foram considerados memoráveis. Existe algum que pessoalmente tenha marcado sua carreira?
Lembro-me de alguns trabalhos. Uma charge do Bolsonaro ou um solo gostoso de sax que já toquei. No entanto, a vida é uma correria tão grande que fica difícil conseguir se lembrar do que fiz ontem, anteontem ou há 10 anos.
Imagem: Arquivo Pessoal
Há algum limite ético ou moral que impõe as suas criações?
Sim! Há um limite que me imponho. Não me interesso em fazer humor com os oprimidos. De forma nenhuma, sacaneio quem já é sacaneado pela sociedade, elite ou pelos patrões. Não brinco com os explorados, excluídos e massacrados pelo mundo afora.
Em um dos seus últimos desenhos, você ironizou personagens do judiciário brasileiro. Particularmente, o que pensa sobre os últimos acontecimentos envolvendo o juiz Sérgio Moro e o ex-presidente Lula?
Considero que Moro, aliado a maior parte da imprensa brasileira, formou uma espécie de organização que sequestrou o país e impôs a sua agenda. Eles estão passando por cima de tudo que construímos do ponto de vista da civilidade e do direito. Juntamente, com os fascistas que foram arrastados por gente como Aécio Neves e alguns partidos, eles jogaram o país nesse buraco. Essa é uma perseguição implacável!
Vai ser difícil ou as eleições de 2018 ainda são uma chance de mudarmos esse país?
Tenho dúvidas sobre uma eleição que tem um dos seus principais agentes preso. Tendo a achar que ela pode piorar a nossa situação, mas não tê-la ainda é bem pior.
Na música e na vida: quem te inspira?
Tenho algumas inspirações como o Quino, Carl Barks, Pixinguinha... A minha mulher que é violinista e os músicos de rua. O Chico Caruso, mesmo ele pensando diferente de mim. Tantas pessoas que acabaria esquecendo de citar todos.