Uma investigação policial revelou que milicianos da Favela da Carobinha, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, executaram um homem por suspeitar que ele cometia roubos e furtos na localidade e que era usuário de drogas. O crime foi cometido na frente de moradores.
Apontado como o chefe da milícia no local, Reginaldo Martins do Nascimento, o Naldo da Carobinha, é acusado de ser o mandante do crime, que foi cometido por dois comparsas.
Testemunhas relataram na delegacia que, no dia dos fatos, a vítima estava na rua quando foi abordada por dois paramilitares, que estavam em automóvel cor prata. Eles ordenaram que o rapaz virasse de costas, tendo eles, na sequência, efetuado os disparos, na presença de moradores, os quais, inclusive, teriam sido advertidos pelos acusados para que não se preocupassem, pois a vítima era ladrão e não roubaria mais ninguém.
Depoimentos prestados durante a investigação apontam terror implantado pela organização criminosa, responsável por cobrança de taxas e pela prática de homicídios. Todos, segundo consta, com a expressa ordem ou autorização de Naldo.
Moradores que presenciaram o crime não querem ser identificados por temerem por suas vidas.
Naldo da Carobinha é antigo no mundo do crime. Ele chegou a integrar a facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA) na década passada, quando a favela era controlada pelo tráfico e estava sob o domínio de um criminoso identificado como PC da Carobinha.
Na época, respondeu a um processo acusado de envolvimento em homicídio contra o cabo eleitoral de uma candidata a vereadora muito conhecida na Zona Oeste. PC e Naldo proibiam campanha eleitoral de postulantes a cargos políticos na comunidade que não fossem apoiados por eles.
Depois se associou à Liga da Justiça, maior milícia do Rio, onde começou exercendo funções relacionadas à prática de extorsão de "diárias" dos motoristas de veículos de transporte alternativo de passageiros e de retaliações (inclusive homicídios) contra os integrantes de grupo paramilitar rival.
Naldo chegou a se desentender com a Liga da Justiça, mas voltou ao comando após a morte de Carlinhos Três Pontes, que chefiava o grupo paramilitar. Hoje atuam em conjunto.
O miliciano teve seu nome ligado ao sequestro do pai de uma jornalista da TV Globo em 2017 e em ataques a traficantes do Complexo de Favelas de Senador Camará, reduto do Terceiro Comando Puro (TCP) com quem depois firmou um acordo de não agressão.
Na semana passada, um braço armado do bando de Naldo teria sido baleado em um confronto com policiais civis. Foi preso, mas tentou subornar dois agentes. Na Justiça, porém, a defesa alegou que ele sofreu um acidente com arma de fogo e acabou alvejado no rosto.