Denúncia do Ministério Público Estadual revela que milicianos da Praça Seca, na Zona Oeste do Rio, pretendem expandir seu domínio para a comunidade Santa Maria, em Jacarepaguá, na mesma região, também dominada por paramilitares, o que pode ocasionar uma disputa pelo controle da área.
A ideia de expansão é de um miliciano identificado como Grande, que foi flagrado em escutas arquitetando planos para, junto com outras pessoas ainda não plenamente identificadas, assumirem o controle da região da Santa Maria, inclusive aplicando métodos de tortura contra eventuais derrotados.
A milícia da Praça Seca, segundo o documento, tem com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem econômica, mediante a prática de incontáveis crimes, notadamente os delitos de extorsão a moradores, comerciantes e prestadores de serviço a pretexto de oferecer serviços de segurança, invasões a domicílio, exploração e comercialização de sinais clandestinos de internet, televisão a cabo e do comércio de gás e água, além de porte e posse de armas de fogo.
Visando manter o domínio de suas atividades criminosas, os milicianos são frequentemente vistos pelas ruas das comunidades dominadas portando armas longas e curtas de forma ostensiva. O porte ostensivo de armas também se faz necessário para proteção dos territórios dominados contra invasões de outros grupos criminosos. Um traço marcante da organização criminosa é a utilização de violência, de covardia, contra todos aqueles que, de alguma forma, atrapalhem seus interesses, seja pela recusa do pagamento das “taxas”, pela tentativa de fuga dos monopólios comerciais ou pelo acionamento das autoridades de segurança pública. Nessa linha, moradores e comerciantes, com alguma frequência, tiveram seus imóveis invadidos, sofreram agressões físicas e tiveram bens roubados.
A milícia da Praça Seca contou com o apoio de outras quadrilhas para o domínio da região e defesa contra invasões do Comando Vermelho. Se notabilizou também pela união ainda que, por vezes, episódicas, com traficantes da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP).
Quadrilha organizada
O plano, porém, de ocupar a Santa Maria não será fácil já que o local possui uma milícia devidamente estruturada. A quadrilha domina também a Colônia Juliano Moreira, no sub bairro de Curicica.
Nestes dois locais, atua uma organização criminosa, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem econômica, mediante a prática de incontáveis crimes, notadamente os delitos de extorsão a moradores, comerciantes e prestadores de serviço a pretexto de oferecer serviços de segurança, roubos, estupros, lesões corporais, exploração e comercialização de sinais clandestinos de internet, televisão a cabo e do comércio de gás e água, mediante a monopolização do serviço da venda de botijões de gás de cozinha e água a moradores, além de receptação veículos e comércio de armas de fogo. A quadrilha empregou diversos tipos de armas de fogo em sua atuação, inclusive de uso restrito, além de explosivos.
No segundo semestre do ano de 2018, o bando, que já atuava em diversas regiões da grande Jacarepaguá, como a Colônia Juliano Moreira, em Curicica, passou a estender seus domínios de forma mais taxativa sobre a área de Santa Maria. A quadrilha iniciou suas atividades criminosas praticando extorsões contra moradores e comerciantes, com a cobrança de valores em dinheiro como uma suposta “taxa de segurança”. Pouco tempo depois a organização passou a ampliar sua capilaridade criminosa, tomando para si a monopolização do serviço da venda de botijões de gás de cozinha e água a moradores, com a fixação arbitrária de preço, bem como através da exploração e comercialização de sinais clandestinos de internet e de televisão a cabo.
Visando manter o domínio de suas atividades criminosas, os paramilitares são frequentemente vistos portando armas longas e curtas de forma ostensiva, a pé ou a bordo de veículos receptados. As cobranças das ditas “taxas de segurança” são feitas pelos membros da organização criminosa, sempre com o porte ostensivo de armas de fogo.
Um traço marcante da organização criminosa é a utilização de violência, de covardia, contra todos aqueles que, de alguma forma, atrapalhem seus interesses, seja pela recusa do pagamento das “taxas”, pela tentativa de fuga dos monopólios comerciais ou pelo acionamento das autoridades de segurança pública. Nessa linha, moradores e comerciantes, com alguma frequência, tiveram seus imóveis invadidos, sofreram agressões físicas, tiveram bens roubados e mulheres foram estupradas .
Moradores, de forma corajosa e cansados da opressão experimentada na localidade, resolveram criar um grupo de Whatsapp com o fito de abastecer a DRACO (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais) com informações que pudessem ajudar no combate à organização criminosa. Tal grupo foi capaz de fornecer informações que, associadas a outros elementos investigativos, permitiram, pela DRACO, a prisão de criminosos, além da apreensão de enorme quantidade de armas de fogo de diversos calibres, explosivos e veículos receptados que pertenciam a malta. As diligências realizadas pela especializada revelaram farto material bélico que a milícia tinha em seu poder, além de tonéis enterrados no solo para o acondicionamento de explosivos .
O modo de agir da milícia tem como traço característico a imposição do domínio da população pelo medo e chegou ao ponto de interferir na prestação do serviço público de saúde, afetando o funcionamento de um hospital estadual localizado em Santa Maria .
Na Santa Maria, mandam os milicianos conhecidos pelos vulgos de Fabi e Bicudo ou Fumaça, que são irmãos. Na Colônia, está a frente um paramilitar conhecido como Dengudo.