Após a saída de Anderson Martins para o São Paulo, a vaga na zaga cruz-maltina acabou ficando com um jovem criado na base do clube: Ricardo Graça. O defensor começou bem a temporada, sendo titular no Campeonato Carioca e na Libertadores, até a partida de volta contra o Jorge Wilsterman, em Sucre, no dia 21 de fevereiro, onde o time sofreu com as bolas aéreas do time boliviano, foi goleado por 4 a 0 e quase se complicou, mas conseguiu a classificação para a fase de grupos da principal competição da América do Sul nos pênaltis.
Jovem, tem apenas 21 anos, 1,83 metros, estatura baixa comparada as de Paulão (1,87) e Erazo (1,94) e fazendo a sua primeira temporada no time principal, acabou sendo sacado do time por Zé Ricardo, então técnico do Vasco. Por vezes, o zagueiro sequer figurou entre os reservas.
No jogo contra o Bahia, na 7ª rodada do Campeonato Brasileiro, Zé Ricardo não pode contar com Werley (machucado), Breno (suspenso) e Paulão (afastado), e a vaga acabou sobrando novamente para o jovem zagueiro. Apesar da derrota por 3 a 0 na Arena Fonte Nova, o defensor teve boa atuação e começou a dar a volta por cima.
Após o pedido de demissão de Zé Ricardo e a chegada de Jorginho, o novo técnico confiou na dupla formada por Breno e Ricardo Graça, que vem dando resultado. Nas três partidas que disputou após a Copa do Mundo, o Vasco só levou um gol, o que era inimaginável antes da pausa para o Mundial.
O "Portal Eu, Rio!" entrevistou o ex-técnico do sub-20 do Vasco, Rodney Gonçalves, que trabalhou com Ricardo Graça na base, e atualmente é auxiliar de Ney Franco no Goiás. O ex-treinador do zagueiro analisou a consolidação do mesmo no time titular do Vasco.
"Acho natural e bem merecida, uma vez que ele passou por todo o processo natural da base, e antes de ser utilizado diretamente, aproveitou o período trabalhando junto ao elenco de profissionais no ano passado até aproveitar a oportunidade que lhe foi dada esse ano."
Rodney pontuou as características que diferenciam Ricardo Graça dos demais zagueiros e o que o jogador precisa para aperfeiçoar suas características em campo.
"O Ricardo Graça é um atleta com um grande potencial técnico para a posição. Apesar dele não ter o perfil físico que muitos treinadores gostam (grande e forte), ele se sobrepõe com uma excelente leitura tática e posicionamento dentro do jogo, tem uma boa velocidade de recuperação e boa participação nas ações aéreas ofensivas e defensivas. Sem contar que atingiu um amadurecimento muito grande após algumas decisões frustradas durante o seu período final de formação da base. É um atleta com um perfil cognitivo muito elevado, fator este que o coloca numa função diferenciada a alguns atletas, pois ele sempre está atento às suas ações positivas e negativas, que visam um futuro desenvolvimento."
É quase automático ver o início de Ricardo no Vasco e não se lembrar de Luan, também zagueiro e criado na base cruz-maltina, vendido ao Palmeiras. Porém, Gonçalves acredita que são atletas bem distintos.
"Pelo histórico dentro do clube poderíamos sim, uma vez que todos dois passaram por todas as categorias da base, e com participação destacável. Entretanto, comparando ambos como atletas, acho atletas bem distintos. O Luan é um atleta técnico, forte fisicamente e com grande consistência no confronto 1 contra 1 defensivo. Já o Ricardo é um atleta mais técnico de grande participação na fase construtiva do jogo, e que busca um posicionamento mais equilibrado evitando um pouco mais o confronto físico. É um atleta que dentro de variações táticas do jogo pode atuar em outras posições e funções na linha defensiva . Extremamente inteligente taticamente."
Confira abaixo a íntegra da entrevista
- Qual o papel que o técnico Jorginho deve exercer nessa fase de amadurecimento do Ricardo Graça?
R: O Jorginho irá orientá-lo da melhor forma possível, transmitindo tranquilidade, uma vez que ele ainda é um garoto com um primeiro ano de utilização no profissional. Não apenas o Jorginho, mas também os demais companheiros de posição auxiliarão nesse processo de consolidação.
- Como você analisa essa atual geração do Vasco?
R: Esses meninos da geração 97, 98, 99 e 2000 (caso específico o Paulinho), são atletas de grande qualidade e potencial técnico. Alguns ainda precisam de um tempo maior para finalizar o tempo maturacional, visto que muitos ainda tem idade de Sub-20. Acredito muito que irão atingir uma posição destacável dentro do clube e também no cenário nacional.
- Esta temporada vem sendo especial por conta da evolução de jogadores que até o ano passado não tinham se firmado entre os titulares. Qual a sua contribuição nesse processo de renovação do elenco do Vasco?
R: Minha contribuição foi durante o período que estive frente à categoria sub-20, ajudando e auxiliando no processo de aceleração formativa desses atletas, buscando uma integração entre as categorias sub-17 com sub-20, e sub20 com profissional. Promovendo treinamentos integrados, planificando treinamentos e planejando prioridades a fim de encontrar a melhor forma de auxiliar o desenvolvimento destes atletas.
- Alguns pratas da casa como Bruno Consendey, Moresche, Miranda, Dudu, Lucas Santos e Andrey, aos poucos, começam a ganhar espaço nos profissionais do Vasco. O que podemos esperar desses atletas no futuro?
R: São todos atletas com grande potencial. Destes todos, eu apenas não trabalhei com o Moresche. Fizemos um planejamento para todos. A maioria deles já eram utilizados no sub-20, mesmo tendo idade de sub-17 (Andrey, Matheus Vital, Evander, Alan Cardoso, Douglas, Lucas Santos, Paulo Vitor, Dudu ) . No nosso planejamento estava previsto a utilização destes, mesmo entendendo que momentaneamente teríamos grandes dificuldades participando de competições sub-20, uma vez que eles não tinham idade cronológica e maturacional para tal. Mas dentro da ideia de planejamento de médio prazo, iríamos acelerar o processo de formação. A torcida vascaína e também o futebol brasileiro irão ganhar com a inserção destes atletas no meio futebolístico.
Ex-técnico do time Sub-20 do Vasco, Rodney Gonçalves foi contratado em maio pelo Goiás.
(FOTO: Arquivo pessoal)