A Polícia Civil abriu uma investigação há dois anos contra o tráfico de umas das favelas mais perigosas, bem armadas e lucrativas do Rio, o Complexo de Acari, na Zona Norte da Capital, com base em apenas no depoimento de um morador antigo da comunidade. O Ministério Público também ofereceu denúncia somente com essas informações.
Na delegacia, o homem reconheceu oito traficantes mas em juízo, o número caiu para três, sem no entanto, trazer informações concretas sobre os suspeitos.
A Justiça considerou a investigação e a acusação falhas (não houve qualquer interceptação telefônica) e acabou absolvendo este mês 15 supostos traficantes que atuariam na comunidade, entre eles os considerados chefes da favela: Crânio, preso no ano passado em um hotel de luxo em Salvador, e Capilé, preso em 2018, no Paraguai e recentemente condenado por ajudar em uma invasão ao Morro do Estado, em Niterói.
O morador foi corajoso. Ele vivia há 47 anos na favela e foi reclamar na boca de fumo que os traficantes estavam fazendo baderna, barulho com moto e fumando maconha em frente da sua casa. Os suspeitos disseram na época que ele deveria procurar outro local para morar. A ameaça fez com que ele deixasse de morar na comunidade.
No entanto, sem se intimidar, foi até uma delegacia próxima e reconheceu, por fotografia, oito suspeitos, apontado a função de cada um no crime com base no que tinha visto ou ouvido falar.
A Justiça alegou que as investigações se deram por oitiva da vítima e o reconhecimento dos integrantes do tráfico se procedeu por álbum; Por isso, segundo a Corte, a prova produzida no decorrer da instrução criminal não autorizava condenação. Nos autos, foi descrito que o morador pode ter se baseado principalmente em informações de terceiros.
Considerada o maior posto de distribuição de entorpecentes da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP), o Complexo de Acari, costuma ser alvo de várias operações da Polícia Civil e da Policia Militar.
Investigações apontam que a cocaína e a maconha que chegam à comunidade vêm de outros estados, como São Paulo. De lá, a droga é distribuída para outros morros comandados pela facção, como o Morro da Serrinha, em Madureira.
A quadrilha de Acari dá abrigo a chefões de outros redutos da facção em dias de operações. Wallace de Brito Trindade, o Lacosta da Serrinha, é um dos ‘hóspedes' mais frequentes, devido às várias intervenções da Polícia, em seus pontos de drogas.
Também há registros de transporte de drogas de Acari para Teresópolis, Angra dos Reis, Paraíba do Sul e Friburgo.
Os bandidos também são violentos. Em 2018, o inspetor da Polícia Civil, lotado na DCOD – Delegacia de Combate as Drogas, Ellery de Ramos Lemos, de 51 anos, foi morto com um tiro na cabeça, durante uma operação para combater o tráfico de drogas na região.