Nove PMs suspeitos de terem supostamente recebido propina de traficantes ligados ao Comando Vermelho (CV) para ajudar na retomada do conjunto habitacional Cidade Alta, em Cordovil, na Zona Norte do Rio, em 2017, permanecem soltos e trabalhando em batalhões da corporação.
Está em andamento o Processo Administrativo Disciplinar nas fileiras da PMERJ e ainda não há ainda previsão de sair sentença na ação que eles respondem na Justiça. Os agentes cumprem serviços administrativos em diversas unidades.
Os PMs chegaram a ser presos na época mas a Justiça ao longo dos meses preferiu que eles cumprissem medidas cautelares.
Eles não podem, em hipótese alguma, retornar a Cidade Alta, precisam comparecer mensalmente em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades, não podem exercer qualquer atividade policial fora das dependências do quartel do 16º BPM, nele apenas atuando administrativamente e desarmado, não podem se ausentar da cidade do Rio de Janeiro quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução, e têm que voltar para casa no período noturno e nos dias de folga se tiverem residência e trabalhos fixos.
O caso
A investigação traz detalhes sobre a suposta negociação entre os PMs e os traficantes.
O inquérito relatou que os agentes da lei, ainda em 2016, mediante dinheiro, associaram-se ao CV para a retomada do controle territorial dos pontos de venda de drogas da Cidade Alta, perdida para o Terceiro Comando Puro (TCP).
Os traficantes expulsos arregimentaram uma milícia com mais de uma centena de pessoas, todas com armamento de guerra, para a reconquista da localidade.
Em uma das invasões, em maio de 2017, a polícia conseguiu capturar 45 pessoas com portando dezenas de fuzis.
Um dos suspeitos, ao receber atendimento médico no Hospital Estadual Getúlio Vargas, teve sua fala captada por gravação ambiental procedida por um interlocutor, identificado como um dos policiais militares do serviço reservado do 16º BPM que lhe fazia a escolta.
Esse traficante revelou um plano de delito ajustado entre os invasores e os policiais ora investigados, que dariam apoio armado àqueles na manutenção do terreno conquistado.
O mesmo bandido demonstrou uma insatisfação com o insucesso da invasão porque teria pago uma certa quantia em dinheiro, não especificada, a policiais do 16º BPM que prestariam auxílio a ele e seus comparsas no plano de retomada da Cidade Alta.
O criminoso apontou como policiais supostamente beneficiados aqueles que compunham o GATE, que assumiria o serviço exatamente na manhã posterior a da invasão, tropa que seria conhecida como "angolanos".
O suposto acerto consistia em pagamento de uma certa quantia em dinheiro e, em contrapartida, os policiais do GATE deveriam tão somente pegar o blindado para ´marcar o GPS´, arrecadar um só fuzil e sair do local de imediato, para apresentar a ocorrência à Polícia Civil.
O traficante chegou a ser questionado quanto teria sido pago aos PMs e quem teria negociado o dinheiro, mas ele disse na época que não dispunha desses detalhes porque o acerto teria sido feito por intermédio de um advogado do Comando Vermelho.
A análise das escalas de serviço conferiu credibilidade ao discurso do traficante, uma vez que há perfeita coincidência entre as datas das invasões e a escala de serviço do batalhão, de modo que os policiais militares investigados estavam sempre entrando de serviço nas manhãs seguintes aos ataques.