Entidades ligadas à imprensa criticaram esta terça-feira uma declaração do presidente Jair Bolsonaro contra os jornalistas em geral, feito em entrevista coletiva em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília (DF), em que afirmou que os jornalistas são “uma espécie em extinção” e deveriam ser catalogados no Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente). A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) se pronunciaram através de notas.
A declaração de Bolsonaro foi dada após ele ser questionado sobre quando as reformas tributárias vão para o Congresso Nacional. Um jornalista tinha indagado ao presidente se ele havia conversado com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e o da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre o cronograma de votação das reformas administrativas e tributária e qual reforma iria primeiro.
"Mas o que acontece? Eu não vou provocar uma crise porque olha só: para vocês da imprensa aí. Essa frase não é minha. Eu quero que vocês mudem. Quem não lê jornal não está informado, e quem lê está desinformado. Tem que mudar isso. Vocês são uma espécie em extinção. Acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama. Vocês são uma raça em extinção", declarou o presidente.
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) divulgou nota rechaçando a declaração de Bolsonaro. “O país e o mundo têm sido surpreendidos, a cada momento, por declarações estapafúrdias do presidente da República e dos seus auxiliares mais próximos. (...) O presidente não deve confundir o que talvez seja um desejo oculto seu com a realidade. Enquanto a informação for uma necessidade vital nas sociedades modernas, e ela será sempre, o jornalismo continuará a existir. E, com certeza, sobreviverá por mais tempo do que políticos inimigos da democracia, que, estes sim, tendem a ser engolidos pela história”. A nota foi assinada pelo presidente da ABI, Paulo Jerônimo de Souza, o Pagé.
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) também divulgou nota em que considera que Bolsonaro é ignorante “sobre o papel da imprensa e seu próprio status de presidente da República”.
“Se quer mesmo preservar o jornalismo e os jornalistas, basta o presidente obedecer a Constituição sob a qual governa e respeitar a liberdade de imprensa”, conclui o texto assinado pela diretoria da associação.
A Fenaj divulgou levantamento que mostra que quase dez ataques por mês foram desferidos por Bolsonaro a jornalistas profissionais, a veículos de comunicação e à imprensa em geral, em seu primeiro ano à frente do país. O monitoramento aponta um total de 116 declarações contra a imprensa em 2019. Foram 11 ataques a jornalistas, e 105 tentativas de descredibilização da imprensa.
O mês de dezembro registrou mais cinco ataques, todos classificados como tentativas de descredibilização da imprensa. Quatro deles foi pelo twitter. No dia 13 de dezembro, por exemplo, o perfil oficial do presidente no microblog postou uma capa de jornal do dia, acompanhada do comentário: “A RENDIÇÃO DA IMPRENSA. O Brasil vai bem, apesar dela. Bom dia a todos!”.
Esse monitoramento feito pela Fenaj inclui apenas os pronunciamentos registrados por escrito nos meios oficiais do presidente, que são o twitter e as entrevistas e discursos transcritos no site do Planalto. O monitoramento dos ataques de Bolsonaro à imprensa constará no Relatório Anual da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, que será divulgado no próximo dia 16, no Rio de Janeiro.
“As declarações do presidente alimentaram a hostilidade contra jornalistas neste ano de 2019. Alguns ministros também passaram a fazer uso dessa tática, e isso incentivou apoiadores do governo a perseguir os jornalistas nos meios digitais, com mensagens ameaçadoras e exposição de dados privados. É uma tentativa desesperada de enfraquecer o exercício do jornalismo, e de desviar o foco das denúncias contra o governo que vêm se somando desde o início de 2019”, disse Márcio Garoni, diretor da Fenaj.