Neste sábado (25), alunos, ex-alunos, professores e simpatizantes se reuniram na escola de cinema Darcy Ribeiro para discutir sobre a situação do prédio que há 20 anos funciona como sede da instituição. Na última sexta-feira (24), a escola recebeu uma notificação extrajudicial dos Correios solicitando a desocupação do edifício. A decisão surpreendeu a todos e virou motivo de preocupação de quem acredita na mportância da escola para a produção audiovisual do Brasil e do mundo.
O professor Ricardo Mansur faz parte do corpo docente da ECDR. Ele dá aulas de desenho sonoro e também é formado em direção cinematográfica pela escola. Ricardo conversou com o portal Eu,Rio! sobre o assunto. Para ele, é importante que as partes envolvidas no impasse tenham a oportunidade de um diálogo.
"É notório que a Darcy Ribeiro desempenha um importante papel social. Já formamos cerca de 20 mil alunos de diversos lugares do mundo. A postura da instituição é de sempre abraçar a diversidade e não produzir conteúdo com direcionamento político. Recebemos estudantes de diversos níveis sociais e desenvolvemos projetos que permitem a participação de toda a sociedade. Por isso, a princípio, acreditamos que essa é apenas uma contenda que envolve um imóvel. Vamos tentar nos reunir com representantes dos Correios para que haja um diálogo. O que a gente deseja é resolver isso da melhor forma", explicou Mansur.
Ele também adiantou que na próxima segunda-feira (27) deve ocorrer mais uma movimentação em relação à resolução do caso. Enquanto isso, as atividades da escola seguem normalmente.
"Os projetos para o ano de 2020 já estão programados e continuam em andamento, sem nenhuma alteração. Inclusive, a ideia é intensificar a programação. Já existe uma mobilização espontânea dos alunos e ex-alunos nesse sentido", afirmou.
Vale ressaltar que há duas décadas a escola de cinema está no mesmo prédio, que fica localizado no Centro do Rio de Janeiro. No início do século XX, ele pertenceu a um banco alemão. Com a derrota da Alemanha, na segunda Guerra Mundial, o presidente Getúlio Vargas cedeu o local para os Correios e expulsou os alemães.
No ano 2000, depois de ter permanecido abandonado, a instituição recebeu uma autorização para iniciar os seus trabalhos. Com o apoio da Petrobrás e da Fundação Darcy Ribeiro, a atual diretora e viúva de Darcy, Irene Ferraz realizou uma grande reforma. Agora, com a possível privatização dos Correios, a antiga construção pode entrar no inventário da empresa pública.
Em nota oficial, a ECDR se pronunciou sobre a polêmica e agradeceu pelo o apoio.
"A Escola de Cinema Darcy Ribeiro (ECDR) informa que, de fato, recebeu um comunicado dos Correios, em 2019, solicitando a entrega do edifício em que, há 20 anos, promove a educação e a cultura por meio da formação profissional no setor audiovisual. Desde então, temos empreendido todos os esforços junto aos gestores dos Correios, de forma a podermos dar continuidade às nossas atividades educacionais e sociais no imóvel.
O edifício, localizado na esquina das ruas da Alfândega e Primeiro de Março, no Centro do Rio de Janeiro, teve seu uso cedido pelos Correios à Escola em janeiro de 2000. O espaço, em desuso desde 1993, encontrava-se em estágio avançado de deterioração. A Escola de Cinema Darcy Ribeiro realizou, então, inúmeros investimentos para a restauração, recuperação, adequação e manutenção do edifício, visando sempre o uso em prol da formação profissional, do ensino e da pesquisa na área audiovisual e cultural. Hoje, mantemos um edifício funcional, de 5 pavimentos, que conta com salas de aula, ilhas de edição, estúdio, biblioteca e filmoteca, sala de exibição de filmes e outros locais preparados para receber estudantes do Rio de Janeiro e de todo o Brasil.
A Escola segue apostando em uma solução amigável com os Correios para que continue cumprindo um de seus maiores objetivos: contribuir para o fortalecimento e a consolidação do cinema brasileiro.
Por fim, a Escola de Cinema Darcy Ribeiro agradece à comunidade escolar audiovisual e à sociedade pelo apoio e reconhecimento do trabalho realizado em prol deste importante patrimônio histórico, cultural e imaterial do Estado do Rio de Janeiro, e informa que permanece em pleno funcionamento", concluiu o comunicado.
É importante destacar que já foi organizada uma petição para impedir o despejo da ECDR. O documento necessita de 7.500 assinaturas. Até o fechamento desta matéria, 5.451 pessoas já haviam assinado. Já os Correios também emitiu uma nota. Veja a seguir:
“Em julho de 2019, os Correios solicitaram à Escola de Cinema Darcy Ribeiro, por ofício, a desocupação do imóvel, no prazo de seis meses. Cabe destacar que a cessão do edifício, realizada há 20 anos, não contempla qualquer contrapartida por parte da instituição. Os Correios, visando sua sustentabilidade financeira, estão avaliando todo o seu patrimônio imobiliário para otimizar a carteira de imóveis”, informou a empresa.