Vó sem cara de avó, mas com o mesmo amor

Não foi fácil escrever uma matéria sobre as avós e prestar uma homenagem a elas, no dia delas. Ou estavam dirigindo, ou malhando, ou trabalhando. Ou ainda passeando de bicicleta. Entrevistas só por áudios, através de aplicativos. Elas não tem tempo a perder. Porque "são dessas". Esse novo perfil de avó reflete um outro lado da pesquisa divulgada pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - que revelou que em duas décadas o número de idosos deve superar o de crianças e adolescentes de até 15 anos. Elas estão cada vez mais jovens e ativas, marcando presença no mercado de trabalho como nunca antes na história.

Mais uma tarefa difícil? Descobrir a idade dessas mulheres lindas, saudáveis e bem resolvidas. E que ao contrário de antigamente, não escondem a data de nascimento: os anos vividos deixaram de ser tabu e hoje são motivo de orgulho. A maturidade deixou de assustá-las. São avós que não tem mais a disponibilidade de ficar com os netos a qualquer hora do dia ou a noite, pois trabalham mesmo após a aposentadoria e garantem o crescimento da economia por mais tempo. Mas aproveitam cada momento da vida com qualidade.

Mudou o perfil, mas a realização de ter um neto é a mesma e basta puxar o assunto para que elas se transformem nas avós de antigamente: mostram fotos e mais fotos, contam como o neto é esperto, lindo - e apaixonados por elas. E não poderia ser diferente: a avó de hoje não faz mais o feijão ou o bolo mais gostoso, preferem levar as crianças pra almoçar fora de casa, fazem a batata frita que eles gostam - porque é mais rápido e falam a mesma linguagem, com direito a gírias.

Leila Borges com Giovanna e Manuella: faltou Pedro Henrique na bagunça. (Foto: Arquivo pessoal)

Monalisa Caldas, 46, adora praia, sol, faz rapel, escalada, trilha e boxe. E não dispensa uma pedalada na praia. Conceituada no mercado de beleza no Rio de Janeiro, Monalisa é especialista em micropigmentação de sobrancelha, extensão de cílios e maquiagem semi-definitiva em uma multinacional portuguesa que funciona no Shopping Downtown, na Barra da Tijuca. Está sempre fazendo cursos e treinamentos, mas os olhos brilham é quando fala da neta, Victoria, de 4 anos;

"Ela é o presente mais maravilhoso que ganhei da vida. Trabalho, trabalho e trabalho. Estou sempre buscando meu desenvolvimento pessoal e profissional, mas não deixo de fazer o que for possível para tê-la perto de mim, aproveitando todas as oportunidades. Reservo minhas folgas aos domingos para passear com ela e procuro estar presente sempre que possível, dormir juntinhas, ver crescer´, conta a loura que tem várias tatuagens e está sempre com um sorriso largo.

Muito corrido também é o dia de Leila Borges, 62, três netos, que trabalha em uma empresa de genêros alimentícios. Ela não deixa de lado os cuidados com a beleza e a saúde, faz caminhadas quase todos os dias, tem um namorado 25 anos mais novo e mantém a saúde mental em dia fazendo o que gosta - de preferência fora de casa;

"Gosto de sair, me divertir, tomar uma cerveja, viajar. Não abro mão", comenta. Com os netos, é nuggets e batata frita, para não perder tempo e porque a vovó diz que não leva jeito pra cozinha;

"Prefiro comer fora de casa", comenta.

Rosária Farage com João Pedro no colo: presente enviado por Deus. (Foto: Arquivo pessoal)

Já a jornalista Rosária Farage Ferreira, 53, que ama dançar, ir ao Maracanã ver o seu Fluminense jogar, e curtir a praia de biquini - porquê com 69 quilos distribuídos em 1.58 de altura, ela pode - perdeu o emprego no mesmo ano que ganhou o neto, João Pedro, que ela tanto pedia a Deus. Foi a força que precisava. Um ano e meio depois, de volta ao mercado de trabalho, mas de forma autônoma - como assessora de imprensa e coordenadora de um portal de notícias - compensa com o neto todo o tempo que não conseguiu ter com os filhos;

"Estou me recolocando no mercado da mesma forma que ele daqui a pouco vai para a escolinha. Nós dois teremos outras necessidades em breve e iniciaremos juntos novas fases de nossas vidas. Hoje somos importantes e fundamentais um para o outro´, diz.

Ela conta que tem muitos amigos jovens, com idade até inferior à dos filhos. Como a maioria das avós atuais, não é adepta aos trabalhos manuais e ama estudar;

"Me sinto super jovem mentalmente e feliz", resume.