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Um dos 'cabeças' de Rio das Pedras, ex-sargento da PM ficou rico com a milícia

Miliciano já vinha sendo investigado há mais de 20 anos por enriquecimento ilícito

Por Mario Hugo Monken em 30/01/2020 às 18:47:07

Foto: Divulgação

Apontado como um dos líderes da milícia de Rio das Pedras, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, alvo de operação de hoje (30) do Ministério Público Estadual e da Polícia Civil, o ex-sargento da PM Dalmir Pereira Barbosa já vinha sendo investigado há quase 20 anos por suposto enriquecimento ilícito. A ação teve como alvos 45 pessoas sendo que mais de 30 foram presas, entre elas policiais envolvidos com a quadrilha.

Segundo relatório da Justiça, foram apontados indícios de que a evolução patrimonial ilícita e incompatível estava relacionada ao exercício da função pública desenvolvida por Dalmir, como a criação de empresas de fachada, para operação de agiotagem e transporte alternativo clandestino.

Foi apurado que Dalmir saiu de uma evolução patrimonial de R$ 17.000,00 em 2003 para R$ 184.900,00 em 2007, sendo R$ 170.997,32. Os rendimentos isentos chegavam a cinco vezes o valor dos rendimentos tributáveis.

Dalmir chegou a ser sócio administrador de quatro empresas, sendo que uma delas se apresentava como factoring e mútuo mercantil, porém, seria, na realidade, uma mera fachada para operações de agiotagem da organização criminosa . Outras firmas também teriam sido criadas por ele também para servirem como fachada para exploração do comércio de transporte alternativo clandestino na região de Jacarepaguá.

Foram localizados também diversos imóveis não declarados à Receita Federal, além de vultosas movimentações financeiras muito superiores aos seus rendimentos. Os imóveis e as transações financeiras chegaram a bagatela de R$ 500.000,00 em um único banco em 2007.

Entre os imóveis suspeitos destacam-se:

1- Avenida Engenheiro Souza Filho, 1000, em 19 de outubro de 2006 (conforme oficio de fls. 23), adquirido por R$ 280.000,00

2- Rua Teodoro Sampaio (antiga Rua Projetada), 24, lote 12 da quadra 36 do PA 16199

3- Lote 09 da quadra 36 do PA 16199

4- Apartamento 1004 do bloco 09 na Avenida Projetada B, 560, adquirido por R$ 45.000,00

5- Apartamento 1517 da Avenida Sernambetiba, 2916, adquirido por R$ 300.000,00

Adquiriu ainda carros como Gol (R$ 35 mil), Astra e Toyota Hilux (R$ 101.736)

A operação de hoje

A ação de hoje foi um desdobramento da operação "Os Intocáveis", realizada em 22 de janeiro de 2019, na qual foram denunciadas treze pessoas por organização criminosa.

A partir da análise de documentos e aparelhos eletrônicos apreendidos na ocasião, bem como de outras técnicas de investigação adotadas pelo GAECO/MPRJ, foi possível identificar a participação dos novos denunciados em crimes praticados pela mesma organização criminosa, que atua na Zona Oeste da capital fluminense.

Aponta o MP que, pelo menos desde 5 de junho de 2014, e até a presente data, os denunciados, sob a liderança de Dalmir Pereira Barbosa, Paulo Eduardo da Silva Azevedo e Epaminondas Queiroz de Medeiros Júnior (vulgo "Capitão Queiroz"), constituíram organização marcada pela prática de vários crimes, como grilagem, construção, venda e locação ilegais de imóveis, posse e porte ilegal de arma de fogo, extorsão de moradores e comerciantes com a cobrança de taxas referentes a "serviços" prestados, ocultação de bens adquiridos com as atividades ilícitas por meio de "laranjas", pagamento de propina a agentes públicos, agiotagem, utilização de ligações clandestinas de água e energia nos empreendimentos imobiliários ilegalmente construídos, dentre outros.

Destaca o MPRJ que os denunciados não só utilizam armas de fogo para exercerem o seu domínio, mas, sobretudo, contam com a participação de agentes públicos, ativos e inativos, em especial da PMERJ e da PCERJ, com informações privilegiadas de forma a manter as atividades ilegais e, assim, se perpetuarem no crime, arvorando-se assim em poder paralelo ao Estado. No caso dos policiais, lotados na 16ª Delegacia de Polícia Civil, no 18º BPM e 31º BPM, foi requerida também a medida cautelar de suspensão do porte de arma de fogo e do exercício da função, independentemente do pedido de prisão preventiva.

Foi também denunciado Joailton de Oliveira Guimarães, servidor público municipal, lotado na Fundação Parques e Jardins, em razão de ter solicitado vantagem indevida, consistente em "ajuda financeira", ao acusado Murad Muhamad para dar andamento a um procedimento administrativo de interesse deste.

Na denúncia, o GAECO/MPRJ narra a conduta dos 45 denunciados, distribuídos entre os diferentes núcleos de atuação no âmbito da organização criminosa: liderança, auxiliares diretos da liderança, policial, segurança, financeiro, "laranjas" e imobiliário. Também foi requerido o afastamento da função dos agentes públicos, a suspensão do porte de armas dos policiais civis e militares, da ativa e inativa, bem como a prisão.

Foi constatado ainda, da análise do conteúdo extraído de aparelho celular apreendido em operação anterior – a "Lume", deflagrada em 12 de março de 2019, e que resultou na prisão de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, acusados de executar a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes –, que houve intensa sequência de diálogos entre um dos policiais civis agora denunciados, Jorge Luiz Camillo Alves, e Ronnie Lessa, que em vários trechos dos diálogos se refere a ele como o "Amigo da 16", numa referência à delegacia onde o mesmo está lotado. Daí a importância da apreensão de documentos, agendas, cadernos de anotações, telefones celulares, notebooks, computadores, dispositivos de armazenamento como pendrives, HDs externos e cartões de memória, com a quebra do sigilo de dados, para a continuidade das investigações.

A denúncia, com requerimento de prisão e as demais medidas cautelares, foi distribuída para a 1ª Vara Criminal Especializada da Comarca da Capital.

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