A transexual Suzi Oliveira, que foi entrevistada pelo Fantástico no domingo (1), disse em carta aberta que está “pagando a cada dia, cada hora e minuto” pelos crimes cometidos no passado e aproveitou a oportunidade para pedir perdão sobre os atos. O documento foi postado no Instagram da advogada, Bruna Castro, nesta segunda-feira (9) após realizar a visita com a detenta.
Na carta Suzi afirma que não foi questionada pela reportagem sobre os crimes cometidos “Venho dizer que nas entrevistas ao jornal Fantástico não me perguntaram nada referente ao B.O [Boletim de Ocorrência]”, comentou. E que em nenhum momento se acobertou do caso. “Eu sei que eu errei e muito. Em nenhum momento tentei passar como inocente. Desde aquele dia me arrependi verdadeiramente e hoje estou aqui pagando por tudo que eu cometi. Apenas quero pedir perdão”, relatou a trans.
Em vídeo, a advogada afirmou que Suzi está cumprindo a sentença já proferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. “Esclareço que não compete nenhum tipo de julgamento agora sobre o crime dela. Ela já foi julgada em juri popular em 2013”, afirmou a defensora.
Além disso, a advogada disse que a detenta não se recusou a falar sobre o assunto. “Hoje estive no presídio e conversei com ela [Suzi]. Falei sobre a repercussão do caso e mesmo assim ela teve nenhum problema para abordar sobre o tema”, relatou.
Leia a carta:
“Eu Suzi Oliveira, “Rafael Tadeu”, vem dizer que nas entrevistas ao jornal Fantástico não me foi perguntado nada referente ao B.O. Eu sei que eu errei e muito em nenhum momento tentei passar como inocente e desde aquele dia me arrependi verdadeiramente e hoje estou aqui pagando por tudo que eu cometi... Errei sim e estou pagando cada dia, cada dia e cada minuto aqui neste lugar... Antes não tive essa oportunidade agora estou tendo apenas quero pedir perdão pelo meu erro no passado. (sic)”
A trans, cujo nome de batismo é Rafael Tadeu de Oliveira Santos, foi presa por praticar ato libidinoso (conjunção carnal com menor de 14 anos) em uma criança de 9 anos. Segundo a sentença, Suzi matou em seguida a criança e responde pelo crime de homicídio triplamente qualificado.
Rafael foi condenado a 36 anos e oito meses de prisão pelos desembargadores da 7° Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo. Em 2017, a Defensoria Pública de São Paulo apresentou ao TJ uma solicitação da diminuição da pena, mas não foi atendida pelo 1° Grupo de Direito Criminal. Suzi já cumpriu até hoje 10 anos da sentença.
ABRAÇO QUE COMOVEU
No último domingo (1) o Fantástico, programa da TV Globo, mostrou o preconceito, abandono e a solidão de presas transexuais que estão alocadas em unidades prisionais masculinas. Entre as histórias apresentadas por Varella, a que chamou mais atenção foi o caso de Suzy de Oliveira.
Durante a reportagem, a trans afirmou ao médico que não recebia visita na penitenciária há oito anos."Muita solidão, não é minha filha?", disse Varella que, em seguida, abraçou Suzy. Após a entrevista ser reproduzida na televisão, o ato repercutiu nas redes sociais.
O CASO
Uma tia da trans, que prestou depoimento ao tribunal, afirmou que Suzy "realizava roubos com arma e usava maconha." Ela também disse que a sobrinha abusou de uma criança de três anos, quando trabalhava em uma padaria. Além disso, a tia lembrou que a acusada teria abusado de seu sobrinho que, na época, tinha cinco anos e meio.
A Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo afirmou que a "reeducanda cumpre pena pelo artigo 121, §2, inciso III, IV e V e §4º do mesmo artigo (homicídio) e no artigo 217-A (estupro de vulnerável em menor de 14 anos), todos do Código Penal. Já o Tribunal de Justiça afirmou que não poderia se posicionar sobre o caso por se tramitar em segredo de justiça.
Em esclarecimento nas redes sociais, o médico Dráuzio Varella afirmou que é contra o julgamento das pessoas independente de seus atos. Para a reportagem, Varella explicou que não perguntou nada sobre os motivos que levaram as personagens a serem presas. Ele ressaltou que adota essa conduta para evitar que o julgamento pessoal interfira em no seu trabalho.
Pelo Twitter, um grupo de pessoas acusaram a detenta pelos crimes supostamente cometidos e que por esse motivo não receberia visitas há oito anos, como relatou na reportagem. Já outros, seguiram o mesmo pensamento do médico lembrando que o processo já foi julgado e não cabe a ninguém julgar a transexual. O assunto chegou aos trending tropics.