Os funcionários de várias empresas no país vêm reclamando do não cumprimento das normas de saúde determinadas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial de Saúde para prevenir o coronavírus. No Rio de Janeiro, alguns empregados estão denunciando que seus empregadores vêm mantendo um grande número de trabalhadores trabalhando em locais fechados, sem álcool gel ou qualquer acompanhamento médico. Nas redes sociais, muitas pessoas têm denunciado que as empresas de telemarketing, as grandes lojas e os supermercados são os que mais descumprem as regras de prevenção. Os funcionários de duas empresas do ramo de telemarketing procuraram o portal Eu Rio para denunciar essa prática abusiva em tempos que a orientação é o trabalho home-office. Segundo atendentes da LIQ Corp, no Rio, uma supervisora contraiu o coronavírus, e a empresa continua mantendo os funcionários trabalhando normalmente em mesas próximas umas das outras em local fechado. As únicas medidas adotadas foram a abertura de algumas portas e a distribuição de panfletos que reforçam a importância de lavar as mãos.
"Tem uma menina da nossa operação com suspeita e está aguardando a confirmação, pois o exame demora a sair, mas a do andar superior já foi confirmada. Nós trabalhamos em mesas grudadas umas nas outras e fomos informados que iriam disponibilizar álcool em gel desde segunda-feira e até o momento nada. Hoje até apareceram algumas pessoas da CIPA medindo a temperatura de um grupo de pessoas e colocando um pouquinho de álcool em gel na mão de um grupo, mas muitos funcionários estão indo trabalhar por necessidade e medo de serem demitidos. Estou desesperada, pois não sei o que fazer e dependo deste trabalho, mas estou dentro do grupo de classificação de risco, por ter problemas alérgicos graves", disse uma funcionária.
A empresa possui mais de 2000 funcionários e cada setor da área de telemarketing tem 150 atendentes.
Já da Atento, outra empresa de telemarketing, os funcionários reclamam que a empresa não diminuiu o número de trabalhadores nos setores; alguns foram afastados, já que contraíram a Covid-19, no entanto nenhuma medida de prevenção foi tomada.
"Trabalho na Atento de Madureira, a empresa não tomou nenhuma medida para diminuir a aglomeração, lá possui milhares de funcionários, o local inteiro não tem janelas, são 3 andares fechados e com o ar ligado, não há funcionários efetuando a higienização dos locais. Tudo lá é compartilhado, o ambiente de trabalho é sujo, mouse, teclado, mesa, computador, o call-center permanece cheio, assim como as salas de lanche. Já há vários casos suspeitos e até confirmados, mas a gerência nega. Se cada um adoecer e levar esse vírus pra casa, quantos infectados teremos por causa da irresponsabilidade dessa empresa? E mortes? Além de não ter um plano de prevenção para diminuir a aglomeração nas operações, ainda pedem que façamos hora extra, todos os dias! A Atento nunca foi conhecida por se importar com o bem-estar de seus funcionários, mas estamos em uma pandemia, esperava mais responsabilidade com a situação atual que vivemos", relatou a funcionária da Atento.
Várias empresas de telemarketing, hoje no Brasil, já desenvolvem o trabalho em regime home-office com seus colaboradores. O funcionário recebe um computador com o programa e os utilitários e, da própria casa, o atendente faz as ligações e recebe as informações, que são monitoradas em tempo real.
Grupos se mobilizam nas mídias sociais para esclarecer sobre a Covid-19 e denunciar abusos
Alguns grupos estão se mobilizando nas mídias sociais para informar as pessoas da importância de se ficar em casa nesse momento de pandemia e ajudar a denunciar os abusos praticados pelas empresas.
Nessa semana, o filho de um funcionário de um restaurante na zona sul, que está na idade de classificação em que pode contrair o coronavírus, conseguiu que seu pai e outro trabalhador fossem dispensados de trabalhar no local por uma semana.
Segundo o rapaz, ao contar, em um grupo, a situação do seu pai, houve uma grande mobilização e várias pessoas foram até à rede social do restaurante para reclamarem do ocorrido.
"Então, meu pai tem 70 anos e é aposentado, mas teve que voltar a trabalhar. Eu, percebendo que o restaurante não fechava e tinha ele mais outro idoso trabalhando lá, resolvi mobilizar uma galera que eu conheço, peguei a página no facebook e fomos pedindo para as pessoas pressionarem. Nós temos um grupo também para ver as empresas que ainda estão funcionando e mobilizando para pressionar shoppings, fábricas, que continuam abertas, entre elas o restaurante do meu pai que, após a mobilização, não está mais", disse o rapaz.
Uma das representantes do grupo que foi criado, inicialmente, para conscientizar as pessoas sobre a Covid-19 explicou que o grupo é um trabalho coletivo, de onde foram surgindo outras demandas, como a mobilização e a análise das empresas que estão desrespeitando as regras de saúde da OMS, a preocupação com o coronavírus nas periferias da cidade, a arrecadação de mantimentos, o preço abusivo dos alimentos, entre outras atividades. A mobilização nas redes sociais, no caso das empresas que não estão cumprindo as determinações de saúde, foi realizada pelo grupo que, em conjunto, determinou as ações praticadas.
Um outro grupo intitulado "Inimigos do corona" também está agindo nesse sentido, agrupando pessoas para reclamarem nas redes sociais. O grupo tem uma planilha com o nome de mais de 120 empresas mapeadas com informações de funcionários que descumprem as determinações contra a Covid-19.
O portal Eu, Rio entrou em contato com a Atento e a Liq Corp. S.A para saber a posição de cada uma delas sobre as denúncias de descumprimento das regras de saúde informadas pelos funcionários.
A Atento, em nota, disse que a empresa é "líder em serviços de gestão de relacionamento com clientes e terceirização de processos de negócios (CRM/BPO) na América Latina, responsável por mais de 70 mil empregos no Brasil, buscando garantir um lugar seguro para seus funcionários, prevenir a propagação da COVID-19, além de salvaguardar a estabilidade dos nossos serviços, informa que está adotando as medidas de segurança e saúde recomendadas pela OMS – Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde em suas operações.
A empresa atua continuamente para garantir a saúde e o bem-estar de seus colaboradores, responsáveis pelo acesso da população a serviços essenciais e de grande importância para a sociedade, frente este período de desafio humanitário que estamos vivenciando. Os colaboradores estão recebendo, regularmente, orientações de prevenção, bem como procedimentos no caso de suspeita da enfermidade (protocolo de atuação). Priorizamos a atuação em home office e afastamento remunerado de colaboradores acima de 60 anos e gestantes. Nas últimas semanas, a companhia dedica especial atenção às medidas de prevenção. Todas rotinas de limpeza e higienização foram intensificadas, principalmente nos pontos de maior contato. Além disso, estamos disponibilizando álcool em gel em áreas comuns e ampliamos a comunicação com instruções de prevenção, bem como implementando medidas para criar um maior espaçamento entre os profissionais. Complementando os cuidados visando à segurança dos colaboradores, foram também suspensas as viagens e recomendado que as reuniões sejam realizadas por meio remoto. A Atento reforça seu compromisso de longa data com o Brasil, empregando todos os esforços necessários para minimizar os impactos da propagação da COVID-19 na região."
Já a Liq Corp SA. informou em nota "que ciente de que sua atividade no setor de call center é essencial neste momento em que a população necessita estar operante a partir de suas casas, evitando sair às ruas e aumentando a propagação do coronavírus (COVID-19), informa que, seguindo as determinações das autoridades de Saúde, tomou todas as providências de sanitização e adequações nas operações para resguardar a saúde de seus colaboradores e da população em geral.
A empresa intensificou os protocolos de limpeza e higienização, incluindo recursos relativos a assepsia como o álcool em gel 70°, além de reforçar as orientações necessárias para a conscientização dos seus colaboradores - no sentido de adotarem rigorosamente as medidas recomendadas pelas autoridades sanitárias brasileiras e a OMS – Organização Mundial de Saúde.
As providências tomadas incluem:
- home office para aqueles que possuem atividades que permitam isso;
- liberação de grávidas, idosos e demais pessoas em grupo de risco;
- liberação de 20% do contingente;
- disponibilização de álcool gel nos sites;
- intensificação da sanitização em todos os espaços;
- campanhas internas de informação e prevenção."
Nosso portal também recebeu denúncias de outros trabalhadores sobre a violação das normas de saúde, como o aglomeramento de funcionários e pessoas em supermercados e lojas.